terça-feira, 30 de setembro de 2025

A busca - por Lu Costa

Com imenso prazer apresento essa obra que dispensa comentários. 
Lu Costa, amiga querida, graduando em Psicologia, mãe atípica,
esposa, irmã e filha, uma mulher potente em suas convicções,
em sua trajetória e principalmente naquilo que se dispõe a fazer.
Dessa arte desenhada em palavras, surgem perguntas e na
maioria delas a resposta está nas entrelinhas de seu
pensamento aqui expressado. Não cabe a mim tecer
qualquer explicação. A escrita é uma obra a ser lida,
sentida com os olhos da alma. Nesse percurso de dúvidas
e sentimentos, Lu pintou um quadro com lágrimas de dor
e de esperança com palavras que exalam vida. Sem mais delongas,
eis que um recorte me inspira a imortalizar essa obra:
"E talvez, apenas talvez, a própria busca já seja a resposta."


Uma busca incessante incendeia meu coração. Olho para os lados como quem espera que a resposta venha de algum lugar. Olho para o céu azul e vejo apenas nuvens e pássaros. Pergunto-me: o que buscas? O que te falta?

E o silêncio dentro de mim se mantém. Não sei dizer. Seria dinheiro, um carro novo, um bom emprego, status? Não tenho a resposta certa, mas sinto que essa busca vai muito além das coisas efêmeras deste mundo. Seria tempo de qualidade, uma ligação, um abraço de quem se ama? O que você busca?

A pergunta se repete dentro da minha alma. Talvez eu até tenha a resposta. E, como uma mãe que protege o filho de algo que possa feri-lo, minha psique, essa mãe protetora, me guarda dessa verdade. Mas por quê? O que essa resposta poderia trazer?

Seria a decepção de perceber que passamos nossas vidas presos a coisas materiais, a futilidades, perdendo tempo sem saber ao certo o sentido da vida? Ou seria porque a realidade é simples demais para aceitá-la? Simples demais para reconhecer que a resposta está no sol que aquece todas as manhãs, no brilho dos olhos daqueles que amamos, esse brilho que quase nunca paramos para admirar. Está no silêncio daqueles que se calam, na flor que desabrocha, no alimento que sustenta o corpo e na oração que sustenta a alma.

O que você busca? Ainda não tenho essa resposta. Mas a angústia e o anseio do porvir fazem meu coração bater mais forte, correr como quem tem uma viagem marcada e quer aproveitar ao máximo os dias neste lugar tão misterioso. E talvez, apenas talvez, a própria busca já seja a resposta. Talvez seja esse caminho incerto, cheio de perguntas, que nos ensina a ver o que sempre esteve diante de nós.



Lu Costa
@lu.costa_pereira

domingo, 24 de agosto de 2025

Do vínculo ao vácuo

25/4/24 - 14:41

Do vínculo ao vácuo
Há aí um longo atravessamento
Do plano ao limbo
Há aí um longo deserto

Processos
O processo do desapego
Um corte abrupto, incisivo, profundo
Ou tentativas de fatiar com elemento cego
O descaso e o abandono
O sequestro emocional 
O sequestro de você
O sequestro de sua identidade
O sequestro de sua personalidade
Totalmente roubada com sua permissão

É no atravessamento, não do solo
Mas sim do pensamento, da alma
Que a transformação se tece
Noite vem, sol amanhece
Pesadelo inquietante 
Acordado e retumbante

Solo Sagrado


segunda-feira, 18 de agosto de 2025

As dores da existência



Meus olhos 
Ah, quantos horizontes vislumbraram?
Quantas lágrimas rolaram?
Quantas vezes se perderam?
Quantos desertos já viveram?

Meus olhos
Já foram janelas
Janelas que espelham a alma
E hoje parecem celas
Cárcere do coração que ama

Meus olhos já mergulharam sob o caos
Se perderam nas trincheiras do mundo
E sorriram diante dos cenários de paz
Buscaram refúgio na reciprocidade aquecida da amizade 
E se forjaram diante das esquecidas tempestades

Meus olhos, já cansados
Se recolhem à penumbra da solidão
Desafiam os dias de verão
Não se deixam abater na escuridão
Meus olhos, ainda sofrem pela dor
Mas nunca deixaram de eternizar o amor

Com meus olhos
Vivo o primeiro dia 
Do resto da minha vida
Sem mandamentos em meu pensamento
E um modo sobrevivência ativado
De guerreiro incansável
A pacificador inconformado
Ah, meus olhos ainda sonham acordados

Qual é o seu lugar seguro?



Meu lugar seguro é um não lugar
É feito de pensamentos, 
De momentos,
De sonhos,
De coração
De sangue que pulsa nas veias

Meu lugar seguro não está num horizonte
Pode estar no céu
Pintado em cores de saudades
Sentido em dores de um vazio
Reverenciado nos caminhos trilhados
Nas lembranças do que me foi ensinado

Meu lugar seguro tem cheiro
Tem tempero
Tem calor
Tem valor
Tem colo
E amor com dolo

Meu lugar seguro tem ouvidos atentos
Tem olhar que escuta
Tem boca que silencia
Sentimentos em cores que irradia
Provoca minha melhor versão
Amizade eterna do coração

Meu lugar seguro está em mim
No deserto consciente sem fim
Na memória do que já foi vivido
Nas derrotas que me puseram reerguido
No solo que sustentaram meus passos
No aconchego protetor do abraço

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Anjo caído




Um dia, era pra ser apenas mais um dia de passeio com o Kinzé e a Mel ao redor da quadra, mas na metade do percurso um rapaz nos avistou e parou para falar sobre os cachorros. Sentou-se na calçada e esperou nossa aproximação. Mesmo sendo cortês Kinzé e Mel não deram confiança. 

O jovem se levantou e começou a nos acompanhar rua acima. Estava de chinelo, calça, camiseta e um blazer.  Aos poucos foi se abrindo. Contou que alguém o acordou dizendo para sair do sol. Falou de forma poética sobre a importância do sol e da lua. 

"Você sabe que os animais dão mais valor na gente do que muitos da família?! Tenho certeza que eles te protegem. Eles te amam, te respeitam. Eu tô aqui do seu lado porque eles sabem que não faço mal. Se não, eles não iam deixar não."

"Eu sou um anjo caído. Tô na decadência. Você sabe o que é decadência? Eu só tenho o sol pra me esquentar e a lua pra iluminar."

Chegamos à esquina e aí começamos a nos despedir. Eu seguiria à esquerda e ele continuaria em frente. "Obrigado, muito obrigado pelo tempo, por ter me escutado. Não esquece, eu sou um anjo caído. Decadência."

Só pude escutá-lo com atenção. E isso fez toda a diferença. Silenciosamente só quis ouvi-lo e prestar atenção em cada olhar, fala e expressão. Sua gratidão me trouxe um sentimento de inquietação. Na verdade eu fiquei grato por esse encontro do acaso.

"Sou um anjo caído, não esquece! Ah, lembra de mim quando estiver no paraíso. Você sabe quem disse isso né?"

Caminhando com ele de uma esquina a outra, percebia o olhar das pessoas ao notá-lo. Suas roupas sujas, seu jeito de caminhar e sua pequena bagagem numa sacola de plástico chamavam a atenção. 

Mas, no fundo o que ele quis deixar nessa mensagem? O que ele fez se sentir o anjo caído? Não tenho respostas, mas sensações e sentimentos que me conectaram ao ser humano que caminhou ao nosso lado por um quarteirão. Um anjo que tem o coração puro, sem maldade com toda forma de vida, em especial a dos animais. Caído, tombado, derrubado, machucado, esquecido, rejeitado, excluído e condenado pela sociedade. São muitas as formas de pensar e sentir. Faço questão de me ater apenas ao tempo de sua presença e isso já valeu a pena. Com certeza não dá pra descrever essa cena com as cores que vi e vivenciei porque tanto a cena quanto as cores foram únicas e aqui permanecerão vivas na história, na memória e no coração. Obrigado anjo caído.