quinta-feira, 20 de maio de 2021

Alma compartilhada



Há pessoas que se amarram 

Em correntes materiais 

E ou, em verdadeiros noz sociais

De aparência e sem essência

E suas relações se tornam grandes fardos

O que era pra ser leve fica pesado

O que possuem em comum 

Está aquém do sentimento

Mas se existe algum

É o da posse e do tempo

Tudo o mais é vazio

O que há de comum 

Eram gostos e sonhos

Que se desfizeram 

Quando as roupagens caíram

Restou então um perfil sem máscara

Uma alma fria e desnuda

Um ser desconhecido

"Dessentimentos"...

 

Há pessoas que se encontram

Em ocasiões "des-complicadas"

E a sensação é o de um reencontro

De almas, de outras vidas

Olhos nos olhos

Sensações sem toques

Brilho nas palavras

Perfume no sorriso

Silêncio no abraço

Explosões no pensamento

A lua, a música, a saudade

As vezes o que as pessoas tem em comum 

é o que sentem uma pela outra

Uma alma compartilhada

Por esse amor, tudo vale a pena

Até o último suspiro...




O legado do sentimento


A todo tempo, o tempo passa

Alguns passam por passar

Outros arrancam e deixam marcas

Enquanto a morte assombra

A vida se perpetua nos detalhes

Nas entrelinhas, às claras ou às escondidas

Sob a luz do luar, a essência proibida

Para quem ousa viver

O que sou se eternizará nas lembranças

Do que fiz, do que criei, do que vivi

E como vivi! 

Intensamente...

 

Se a vida me deixar

E quando me deixar

Teimarei a renascer no que plantei

No que criei, no que vivi, no que amei

Nada mais

Todo detalhe forjado por minhas mãos

Esculturas imaginadas e transformações realizadas

Travessias que descrevi com sangue e suor

Superações marcadas por lágrimas e alegria

Paisagens e momentos que pintei com poesia

Encontros não descritos com palavras

Construções e amizades alicerçadas no tempo

 

De minha teimosia, marca registrada

Ficam as lutas, as causas, os sonhos

Nunca haverá tempo suficiente

Para viver tudo

Tampouco para despedidas

O legado se perpetua no silêncio e na saudade

Nas entrelinhas do sentimento

Nas atitudes que dispensam explicações:

Transparência e verdade

O que se inventa não se sustenta:

Falsidade e mentiras

O que se vive se eterniza:

Amor em intensidade

 



quarta-feira, 19 de maio de 2021

Ser o que se é


Se tem algo de que me orgulho é do berço em que nasci, minhas raízes. 

Ser o que se é para os dias de hoje é praticamente ser anormal, louco.

Então, cuidado! Pois, eis que um louco vos escreve.

As pessoas, além de toda frieza cibernética, fazem questão de ostentar aparências.

Aparências e essências quase sempre não andam juntas.

É óbvio que ocasiões especiais requerem roupagens especiais.

Dizer que a essência dispensa a vaidade também já é hipocrisia.

Dia após dia, vivemos momentos únicos.

Pelo lado poético, cada momento é especial por singularidade.

E por não voltar mais.

Então, todo dia merece uma roupagem especial.

Roupagem para os olhos, que sustenta o ego e a vaidade.

Roupagem, principalmente, para a alma, onde se cultiva a essência.

Percebemos quando um carro é adulterado.

Cada veículo é fabricado para usar os componentes certos.

Entenda-se que a adulteração ocorre para satisfazer gostos.

Sempre nos deparamos com veículos rebaixados.

Rodas largas e som pesado também estão entre as mudanças.

Não poucas as vezes que já me deparei com veículos quebrados por conta do rebaixamento. 

Mudanças são necessárias.

Manutenções corretas evitam e previnem danos futuros.

O corpo e principalmente a alma também necessitam de cuidados.

Neste momento "ser o que se é" tem um significado raiz.

Dispenso ostentações, roupagens medíocres e máscaras maquiadas.

Eu vim de lá do interior.

Meu sotaque me condena.

Mas eu amo ser o mesmo desde sempre.

E é por essa razão que carrego pessoas queridas ao meu lado.

Não importa o tempo que permanecemos sem nos ver ou sem nos falar.

Quando há uma chance, uma oportunidade ou um reencontro é como se o tempo não tivesse passado.

"Ser o que se é" é puramente essência.

"Ser o que se é" dispensa fala bonita.

"Ser o que se é" é pra quem já entendeu que a vida é curta.

E não vale a pena se mudar para entrar no padrão que a sociedade exige.

Essência é ter o poder de fazer escolhas.

E não deixar que as escolhas nos façam.

Sou o que sou, arte e música, poesia e rebeldia.

Razão e emoção, paisagem e travessia.

Medo e amor, lágrima e alegria.

Sou o que sou: de corpo e de alma.

 





sexta-feira, 14 de maio de 2021

Tempo de adeus


Toda morte é injusta
Toda partida é sofrida
Quando o sol se põe 
Dá-se o lugar à angústia
E o luto se torna eterno
O vazio que limita nosso olhar
O silêncio interior que nos consome
Misturam-se às lágrimas 
E às perguntas sem respostas
Vontade de Deus?
Creio que não!
Deus é vida
Seguir o percurso é um processo natural
Tudo no seu tempo é natural
O que foge disso é intervenção 
Ou omissão humana
Ou ambas...
Entre orações espontâneas e ritos
Entre o som do choro 
E uma música chorada por um violino
Palavras de carinho
Para alguém que já se elevou 
Que voltou para Casa
Nos braços do Pai
O tempo ali junto 
Do corpo inerte e sem vida
Que representa o último encontro
A última despedida física
O último contato 
É algo surreal que aflige, apavora
Como continuar a vida?
Como seguir a normalidade, 
Os padrões,
Os compromissos?
Por quê?
Por quê...?!
Que a força do amor
Nos ajude a atravessar pelo luto
Que o legado de quem partiu
Nos ajude amenizar sua ausência
Que a vida que nos deixou
Nos inspire a viver o nosso melhor
Que nossas lágrimas
Sejam orações quando nos faltarem palavras
Que a dor da ausência
Nos dê força e esperança
Até nos revermos no Céu
Amém!



"O tempo que escoa não permite despedida
Todo dia ecoa uma nova chance
Todo dia destoa uma eterna partida
Há que nunca mais alcance
Viver a vida como haveria de ser vivida"
Cá de dentro (2015) - A.D.O.

terça-feira, 11 de maio de 2021

Amor é travessia

 Iniciei recentemente a leitura simultânea de "outras duas" obras literárias. Uma delas é o livro do Pe. Fábio de Melo, "A hora da essência"(2021), e a outra é do Rubem Alves (1933-2014), "Variações sobre o prazer"(2015). São coisas distintas mas que dialogam na essência, na alma. Formas diferentes de poetizar e conduzir o pensamento à uma reflexão ímpar. Fábio de Melo é detalhista ao extremo nas expressões, no pensamento e na alma. Rubem Alves consegue extrair poesia da menor partícula que podemos conhecer. Assuntos diferentes, abordagens ainda mais, porém, ambos os autores e suas obras estão regados de essência e travessia, amor e poesia.

Durante a leitura noturna, intercalando entre um autor e outro, me deparo várias vezes com a palavra essência, nas duas obras. Para encerrar minhas noites tenho me deleitado numa leitura simples e não menos profunda de uma raridade que é Dom Helder Câmara (1909-1999), "Em Tuas Mãos, Senhor"(1986). Essa obra eu adquiri ainda durante o curso de Teologia, na antiga Faculdade Católica de Uberlândia. Havia lá um espaço para doações e troca de livros. Quando vi essa relíquia obviamente não hesitei e trouxe para casa. Helder Câmara, poeta, profeta e bispo da Igreja Católica, é pura essência. Uma vida dedicada ao povo, aos pobres. Um legado espiritual que vive entre os que se dedicam a uma "boa causa"

O mais incrível durante as travessias de leituras é quando os autores que você admira e te inspira citam outras obras que você também lê. Rubem Alves é fã de Friedrich Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão e João Guimarães Rosa (1908-1967), escritor e médico brasileiro. Do filósofo ele cita diversas passagens de "Assim falava Zaratustra" (2008) e, do escritor brasileiro, deixa pensamentos extraídos de "Grande Sertão: Veredas" (1986). Essas duas outras obras também fazem parte das minhas leituras cotidianas. Parece loucura mas não, estou fazendo uma travessia tranquila por esses cinco livros, principalmente nesses dois últimos. São obras que merecem ser degustadas sem pressa para não perder os detalhes da travessia. Toda travessia deve ser apreciada, vislumbrar-se com o percurso, a paisagem, a dificuldade e o aprendizado. 

É fato que tem horas que me perco nos pensamentos e citações. Agora mesmo estava procurando em qual dos livros foi citado um trecho bíblico do livro de Eclesiastes onde fala "que debaixo do céu há um tempo certo para cada coisa", mas não encontrei (rs). Faz parte, pois são os riscos da fartura e da gula literária. Esse trecho me soa como uma verdadeira oração poética e profética ou uma poesia orante profética, ou ainda como uma profecia orante e poética. De qualquer forma ela também me remete aos tempos de grupos de jovens lá em Piraju, à minha adolescência, regrada de muitos sonhos e romantismo.

Essa noite perdi o sono madrugada adentro. Eram mais de uma hora da manhã e precisei me levantar algumas vezes. Entre idas e vindas à cama, esforço incessante para encontrar o sono, decidi não lutar mais. Um chá de camomila e maracujá, com um lanchinho básico pra disfarçar a ansiedade e saciar a pseudo fome de repente ajudaria a reconfortar o corpo e a mente. Sem muito sucesso ainda parti para agressão encarando meus autores e suas obras. Eu poderia terminar pelo menos um livro por inteiro devido à falta de sono, mas não quis ser tão bruto. Contentei-me por umas horinhas apenas de leitura e às três e pouco eu parti para a cama novamente. 

Durante esse embate na madrugada algumas citações me levaram à outras percepções e reflexões. Interessante essa teia de conexões que estabelecemos com os artistas que admiramos e suas obras que nos inspiram, motivam e muitas vezes iluminam as ideias e até mesmo a travessia. Rubem Alves tem esse poder. Lendo-o, deparei-me com um pensamento que já carregava em mim desde sempre. Algumas vezes citei-o para minha irmã e para meu filho: "tão importante quanto se chegar em algum lugar é saber apreciar todas as dificuldades e conquistas pelo caminho". Exemplificava também com a subida pela montanha: "subir uma montanha olhando apenas para o pico, o ponto de chegada, torna a caminhada um tanto vazia; é necessário degustar a paisagem em cada passo e em cada volta rumo ao topo". Ao meu filho, durante a preparação de sua festa de quinze anos, eu sempre o convidava a pensar no processo e em toda a correria para o momento sublime e único que seria o dia da comemoração de seu aniversário. A gente vivenciava a festa desde os primeiros pensamentos, da organização e da noite em si. A travessia é o ponto forte de toda partida e de toda chegada. Há que se cultivá-la.

Rubem Alves cita nessa obra, que "o corpo dos amantes têm outras ideias que vão além do orgasmo e da fecundação e que o objetivo do jogo amoroso é estar brincando". Compreendo perfeitamente que o autor novamente aprecia e enfatiza a travessia até mesmo na relação amorosa. Quando essa relação de fato é verdadeira ela é degustada sem pressa, entre olhares, toques, pensamentos e entrega, em dois corpos que se misturam e formam um. O amigo, que já o considero tão íntimo de minhas jornadas pelas madrugadas de pensamento, exemplifica de outras formas também: "Na conversa, o objetivo não é o final, a comunicação de uma informação, é o prazer de estar indo. A caminho dos picos há vistas fascinantes. Desejo o prazer de estar indo". Nesse trecho que ele cita os picos, eu juro que se estivesse vivo lhe mandaria uma carta, sim uma carta escrita para dizer-lhe que ele pensa igual a mim. Sem modéstia. Eu cito isso desde minha adolescência! (rs). Enfim, tanto meu amigo quanto eu, temos um apreço pela sabedoria de Riobaldo, personagem de "Grande Sertão: Veredas""O real não está na saída nem na chegada; ele se dispõe para a gente é no meio da travessia"

Nietzsche, em "Assim falava Zaratustra", diz que "Há sempre alguma loucura no amor. Mas há também sempre alguma razão na loucura". Rubem Alves abusa deliciosamente do inquietante filósofo e suas obras. A filosofia vira poesia e a poesia filosófa com a alma. São pinturas de um artista das palavras. Lições de travessia para toda a vida. Meu amigo também me ensina sobre outros autores e correlaciona tudo de forma a me inspirar na ampliação do meu leque de pensadores. André Breton, que até então eu nunca havia ouvido falar dele, já me soa íntimo quando o pintor de palavras para a alma cita uma pérola desse desconhecido novo amigo: "E o amor não conhece distâncias".

Enfim, não foi uma noite de insônia apenas, foi uma madrugada que serviu-me para ler, pensar, sonhar... E lendo, deparei-me com esse pensamento já conhecido, algo que sempre tive comigo: o importante não está no início nem na chegada, mas na travessia, pois é nela que se vive, que se aprende, que se ama. O amor é travessia. E eu amo amar. Ô se amo! 

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Todo amor


Creio que na vida a gente encontra 
E vive pelo menos três amores
O da infância ou adolescência, 
O da juventude e o da eternidade
Todos são eternos e únicos
Mas sabemos 
Somente um nos acompanhará pela eternidade

Todo amor é grande
Todo amor é eterno
Todo amor é único
Mas o maior é o que vai estar com você
De forma incondicional

Apenas um será levado para todo o sempre
No coração
No pensamento
No corpo 
Na alma
O único e verdadeiro

É aquele que chegou sem avisar
Pelo olhar, pelo sorriso
Pela voz que veio a perguntar
Num encontro desprovido
Num abraço envolvido
Num gesto sem igual
Num despretensioso café

Nem toda relação é amor
Não importa o tempo
Nem o que frutificou 
Há amor que espera o tempo
Como uma sentença para se viver a relação
Há relação que jamais foi um amor

O amor em si
Espera
Enfrenta
Sustenta
Luta
Sonha
E sofre o tempo
Vive cada encontro
E se firma em cada gesto
Mesmo na ausência do corpo...

Todo amor
Todo o meu amor
Explode em silêncio
No pensamento que me trai
E vagueia dia e noite
Sofrendo e se fortalecendo
Na esperança do reencontro
Todo o nosso amor eternizado está

quarta-feira, 5 de maio de 2021

A vida é uma peça



Toda perda é irreparável

Toda dor é insuportável

Toda morte não é merecida

E por mais que saibamos dessa certeza

Ainda assim ela chega sem avisar

Tira o protagonista do palco da vida

Deixa o cenário vazio 

Uma história sem o ato final

E uma plateia em prantos

 

Ora somos protagonistas

Ora somos plateia

Rimos, choramos

Presenciamos a chegada e a partida

Um dia, essa travessia final

Esse ato último também caberá a nós

Não sabemos quando

Não dá pra improvisar

Não dá pra fugir nem driblar esse capítulo

Mas dá pra viver intensamente

Cada dia, cada cena, cada ato

Da melhor forma possível

A morte é única

E a vida também

 

Diante de tantas mortes precoces

Por conta dessa pandemia

Uma das lições que fica 

É que, independente de qualquer coisa,

Posição social, dinheiro, status, crenças,

Estamos todos sujeitos a enfrentá-la

Perdemos Paulo's, Maria's, João's,

Garis, professores, doutores, artesãos,

Ateus, espíritas, muçulmanos, cristãos

E que de cada perda tiremos uma lição

O que é bom, eterno será em nosso coração

"A vida é uma peça"


sábado, 1 de maio de 2021

Ó noite sem fim



"Ó noite sem fim

O teu silêncio me dói

Você foi embora e nem me disse adeus

Deixou sem respostas as minhas perguntas

Sem perguntas para minhas dúvidas

Partiu sem olhara para trás

Sem atender meus chamados

Sem nenhuma explicação

De uma maneira tão fria

Que não condiz com nossa história

Nem com teu jeito de ser

Houve algo que você não entendeu

E nem fez questão

Sequer me deu a chance de explicar

Sequer me questionou

Apenas preferiu partir

E toda partida é sofrida

Como a própria morte em si

Uma carta, um sinal

Um abraço, um adeus

A triste partida sem entendimento

Queria você por apenas mais um momento

Ter a chance de te olhar nos olhos

Entender suas sem razões

E então seguiria meu caminho

Na minha eterna travessia

Plantando flores, amores, poesias

Cultivando sonhos, criando vidas

A lua é testemunha

Deus a incumbiu dessa tarefa

De iluminar minhas noites

E te enviar sinais que o tempo não apaga

Sei que não partiu

Aqui dentro você ainda vive

Porque pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar

E o portão do coração mantém-se intacto

Ó noite sem fim"