segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Malabares da vida

 


"Se você tivesse acreditado nas minhas brincadeiras de dizer verdades
Teria ouvido verdades que teimo em dizer brincando
Eu falei muitas vezes como palhaço
Mas nunca desacreditei da seriedade da plateia que sorria"
Clarles Chaplin

O semáforo avermelha para os motores
Enquanto que na contramão das cores
Alguém se exibe com seriedade e atenção
Como se fosse sua última apresentação

Num piscar de olhos bolas giram pelo ar
A sincronia perfeita dos objetos coloridos a desenhar
Traços elípticos que se formam pelas mãos da artista
Para alguns artista, para outros pessoa não quista

Na calçada um carrinho de bebê espera parado
O filho repousa enquanto a mãe faz seu trabalho
Vidros que se fecham, mãos que se estendem
Entre um passo e outro o sorriso sincero que não mente

Quase uma súplica por uns trocados
E quando os motores partem acelerados
A mulher retorna seu olhar e atenção
Para onde bate forte seu coração

Penso que entre seus sorrisos e suores
Há muitas lágrimas camufladas de dores
Sem serem notadas pelos olhares motorizados
O equilíbrio maior é se manter firme e focado

Pessoas que vivem se equilibrando entre os dias
Na linha tênue impostamente margeada pela hipocrisia
São vítimas de uma invisível guerra
Do poder que contaminou esta terra

Quem condenou com o olhar da intolerância
Demonstrou que abundante é o veneno da ignorância
Extirpou o pouco de humano que ali existia
Enrijeceu seu coração e tornou sua alma fria

Entre os malabares da vida
A maior luta não é por comida
É não se abalar pelo olhar indiferente 
E ser tratado com respeito, como gente

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Retratos do meu interior

"Ter uma casinha branca de varanda
com quintal e uma janela só pra ver o sol nascer"


Eu vim de lá do interior, duma casa simples de chão com vermelhão, terraço adornado com primaveras e um jardim repleto de variedades: roseiras, samambaias, copo de leite. E uma horta bem diversificada, com couve, quiabo, alface, limão, laranja, acerola, cebolinha, abóbora, alecrim, hortelã... Era o meu reduto, meu mundo, meu recanto sagrado... o meu interior.. a casa de meus avos. 

Este quadro tem uma conotação diversificada. A elaboração, a visualização gerada na mente até a construção de cada detalhe, tudo feito com materiais naturais. O simples, o rústico, a leveza de um retrato interiorano que traz memórias de um passado vivo, saudoso e repleto de amor. 

Numa outra óptica, a paisagem retrata um sonho, o sonho da paz e do amor vivido com profundidade na infância, adolescência e juventude, na casinha simples com terraço, jardim e quintal. As lições de sabedoria deixadas por meus avos. A capela, símbolo de fé, que remete ao sagrado, das lições de vida às cobranças sobre conduta e religiosidade que minha avó mantinha firme e acesa. O poço, a água, a natureza, que me remete à luta, às grandes lutas da vida travadas diariamente. A água, que contorna seus obstáculos, que vence sua batalhas e modifica a paisagem ao seu redor. 

Histórias e lições que trago vivas no coração. Lembranças de um tempo que não volta mais. A imagem do quadro é diferente do retrato da casa de meus avós, ainda bem fresco na memória. Há uma mística nisso tudo que ainda levo tempo e silêncio pra compreender e decifrar. Serve para lembrar do passado, do alicerce, da saudade, do amor, e muito mais para alertar que um dia, um dia tudo se tornará pó ou memória.

A cada tempo, em cada estação, em cada travessia após uma longa jornada, me pego de volta nesse interior. Por hora, é o meu refúgio, guardado num lugar especial e exclusivo, onde o acesso se dá de tempos em tempos ou quando se faz necessário. Já fiz esse caminho diversas vezes, ora feliz e vencedor, ora derrotado e destruído. E quando me pegava a desanimar era ali, aí nesse reduto de interior que encontrava o meu descanso, o meu alento. Aonde minhas lágrimas eram secadas, meu suor enxugado e minhas feridas curadas no tempo e na saudade.  

Eu vim de lá do interior...




quinta-feira, 12 de novembro de 2020

A alma, o interior e o amor

Há quem diga que o sorriso é o reflexo da alma...
Calma!
Nem toda alma se mostra 
nem todo sorriso é real 
nem toda pessoa é humana...
Não é de todo mal acreditar no que se vê,
por mais que seja meramente superficial.
Afinal, o erro não está em não perceber a superficialidade
E, que não haja autocondenação,
pois quem camuflou a verdadeira face
é que perdeu a chance e o crédito da autenticidade
O mundo é assim, repleto de pessoas frias,
egoístas, calculistas, oportunistas, e totalmente infelizes...
pois não existe felicidade no interior de quem vive de aparências
Aliás, quem assim vive desconhece a essência, o interior
Aparência e essência não se misturam!
E o resto,
ah o resto é azar da maquiagem de quem camufla a falsidade. 
Porque o interior é para quem sabe amar
E é lá, só lá que se é feliz.