quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Os demônios do pós-guerra


Um momento de pós-guerra. Essa é a sensação que mistura esperança e medo. Esperança de que tudo possa melhorar e medo de que as variações pandêmicas possam ressurgir e causar nova devassidão. Pois sim, fomos devastados, dizimados e derrotados em certo momento. Já estivemos no caos. As ruínas que ficaram não são herança de explosões causadas pela pólvora e tecnologias de guerra. São sentimentos de impotência frente a tantas vidas ceifadas. Tempos trancafiados em nosso próprio reduto, convivendo com todos os nossos demônios interiores, sem ter como fugir do ambiente para ao menos respirar um ar fresco, causou danos e trouxe à tona fragilidades e novos demônios. Não bastasse, em muitos ambientes o espaço era divido com outras pessoas, as quais também expunham seus próprios conflitos. Muitos não se abalaram, não sofreram, mantiveram seu status e nem sequer se compadeceram pelas vidas alheias. Retrato de um momento proporcionado por desumanos desalmados que detêm o poder para si. Políticos, religiosos, líderes sem empatia, que em seu cargo e posição a que foram destinados, utilizam tal poder em benefício próprio. Impossível permanecer igual. Impossível sair desse campo de batalha do jeito ao qual entramos. O pós-guerra deixa consequências, além de feridas incuráveis e cicatrizes eternas. Você até pode deixar o campo de batalha e a guerra em si, mas eles jamais sairão de você. É preciso reaprender a conviver com o caos, as perdas, as dores, as ruínas e a morte. É preciso reaprender a viver e isso é urgente. Pois, uma vez que isso não acontecer, estará fadado a continuar uma guerra solo dentro de você. A solidão a dois, a quatro ou mais pessoas, vivenciada no pico da guerra pandêmica foi uma experiência necessária pela sobrevivência e contenção de danos. Uma prisão com portas e janelas trancadas por dentro. Todos têm acesso mas ninguém pode sair. Não se deve sair. Fobias, transtornos e doenças várias que surgiram e ou cresceram junto com o medo e a incerteza. Abraçar nunca foi tão necessário e urgente. Máscaras externas para se proteger de um inimigo letal se contrapunham com as máscaras maquiadas de hipocrisia que os poderosos, oportunistas e medíocres deixaram cair propositalmente. Os demônios do pós-guerra ainda vivem, mesmo que silenciados em algum canto do nosso campo caótico. E, muitas vezes, para continuar a jornada será necessário retornar às ruínas da batalha e refazer o percurso. 

domingo, 4 de setembro de 2022

Crítica: "A desordem que ficou"



Professora: "Morrer é uma arte. Como tudo, eu faço isso excepcionalmente bem. Tão bem que parece o inferno. Tão bem que parece real. Suponho que poderia chamar de vocação." - Sylvia Plath.
- O que ela pretende com esses versos? Seria um grito de socorro? Está anunciando a sua morte?

O trecho acima refere-se à série "A desordem que ficou". As falas incitam curiosidade e pesquisa. A morte  em si causa espanto, curiosidade sobre o que vem depois e, óbvio, insegurança, medo. Até os mais céticos se rendem ao tema morte. As religiões explicam às suas maneiras e o que move as pessoas é a fé, a crença. 

Dentre tudo o que se expressa e afirmam por aí sobre a morte acredito que a arte é a maneira mais leve, pura e não deixa de ser uma verdade carregada de esperança para elucidar esse rito, esse mito, essa passagem. A poesia por exemplo é capaz de ir além do que a religião afirma e do que a ciência propõe. Ela pode caminhar sem peso nem culpa lado a lado com ambas e ainda assim tecer o seu próprio meio para explanar sua verdade.

Particularmente acredito que a morte não possa ser o fim de todas as coisas. Acredito também que a nossa memória persiste como um legado no coração daqueles que amamos. Tornamo-nos histórias recontadas entre risos e lágrimas que, com o tempo, vai se apagando lentamente neste plano. Em algum lugar, ainda nos encontraremos...

sábado, 3 de setembro de 2022

A rainha e o plebeu em Lótina



O conto era de fadas 
Mas somente quando a rainha fugia para a cabana de seu amante 
Uma vez que ela insinuou para ele ir vê-la, 
correndo todo tipo de risco por entre os cercados de seu castelo, 
mudou de ideia instantaneamente 
quando percebeu sua coragem ao nota-lo em sua porta 
Ignorou-o e o deixou ao relento
Rainha e plebeu ou a dama e o vagabundo, não importa! 
O que separa o verdadeiro do irreal ainda é o material. 
Esse fato sempre existiu e assim continua sendo...