Uma sirene toca constantemente quebrando a rotina e o falatório
dos presentes. No corredor a agitação por parte das pessoas de branco toma
conta do ambiente. Homens e mulheres surgindo de diversos lugares em direção ao
som que cessa após a chegada de alguém que com certeza seria o responsável
pelas providências a serem tomadas em caráter de urgência nos próximos
milésimos de segundo. Um silêncio sepulcral perdura entre os que assistem
atônitos no corredor sem nada poderem fazer. Olhares assustados, que de certa
forma subentendiam que algo anormal acontecia naquela sala chamada UTI...
Numa situação ainda mais delicada, algumas pessoas em pé e
descontroladamente nervosas, aguardavam o tempo passar. Sabiam que a vida de
seu ente querido estava por um fio. Eram familiares que se abraçavam, clamavam
a Deus por um milagre. Entre orações, súplicas, clamores e choros, ainda
ligavam de seus celulares para outros parentes e os colocavam a par da
situação. Não havia como não esquecer o que eu estava fazendo ali naquele momento
e não solidarizar-me com aquele sofrimento alheio. Outros que aguardavam
naquele corredor central pensavam a mesma coisa, mesmo não tendo expressado com
palavras.
Aguardando o atendimento médico no Pronto Socorro, só não levantei e não voltei à rotina do dia porque realmente precisava ser medicado. Apesar de ser uma intoxicação alimentar, isso custou noites de sono, inaptidão física, dores de cabeça, no estômago e no corpo, perda de alguns quilinhos, falta de rendimento e uma necessidade extrema de repouso. Um verdadeiro estrago em nada mais nada menos que sete dias corridos.
Aguardando o atendimento médico no Pronto Socorro, só não levantei e não voltei à rotina do dia porque realmente precisava ser medicado. Apesar de ser uma intoxicação alimentar, isso custou noites de sono, inaptidão física, dores de cabeça, no estômago e no corpo, perda de alguns quilinhos, falta de rendimento e uma necessidade extrema de repouso. Um verdadeiro estrago em nada mais nada menos que sete dias corridos.
O entra e sai daquela sala continuava. A velocidade com que as
pessoas de branco corriam pelos corredores e voltavam com equipamentos causava
admiração. Uma equipe em prol da vida. Vida desconhecida para mim e para todos
os que aguardavam como eu o seu atendimento médico mas que de certa forma já
estava em nossos pensamentos e fazia parte das nossas orações. Queríamos ser
testemunhas desse milagre da ciência: a reversão da parada cardíaca.
Milagre da Ciência... Divino e Ciência. Deus e Ciência, objeto de
muitos estudos e especulações. Confesso que nesses limiares de vida e de morte,
mesmo os mais céticos se curvam a Deus por um milagre. Fazem promessas e votos.
As conversões ficam em check. Os vícios têm seu fim decretado. Mas enfim, Deus
é o único nome citado, falado, gritado, clamado com ênfase durante todo o
tempo.
Por uma fresta os familiares tentavam ver e entender o que
acontecia na UTI. A cada um que saia e chegava um forte apelo era feito:
"por favor, pelo amor de Deus, salva ela." Em determinado momento o
médico que presidia os procedimentos naquela sala saiu e foi ter com os que
aguardavam notícias. Nesse instante todo o corredor aguardava unido em esperança
e fé um resultado positivo em prol da vida. De um ponto distante quase não se
ouvia a conversa mas se entendia por gestos e sussurros que eles fariam
qualquer coisa para que a pessoa querida continuasse a viver...
O médico retorna para a sala e a porta se fecha rapidamente.
Passado alguns instantes um enfermeiro sai a passos largos e rápidos. Um
parente que parecia ser o filho do paciente pergunta: "doutor, como ela
tá?" Com sinal de positivo, mantendo sua velocidade e sem olhar para trás
ele responde: "foi revertido!" Olhando para cima, como se naquele
momento enxergasse os próprios olhos de Deus, em tom de desabafo, alegria e fé,
aquele que seria o filho exclama: "Graaaaaaaças a Deussss...!!!"
O suspiro de alegria e esperança, refletido com fé e gratidão não
foi só dele. Todos os que aguardavam por sua vez naquele corredor, independente
de suas particularidades e seu estado de saúde, nesse momento, em tom de
compadecimento, solidariedade e fraternidade também sentiram o alívio daquela
reversão. A vida por um fio já estava longe das fronteiras da morte.
São momentos como esse que me fazem refletir mais e mais sobre a
importância de se viver bem e com dignidade, de fazer valer a pena, de ser
solidário sempre, de expressar o verdadeiro e fraterno amor, o amor que não
oprime mas liberta. São momentos como esse em que a vida percorre uma linha
tênue entre continuar e parar que me fazem agradecer pelo que tenho, lutar
junto e unido com os que nada tem, de ser e fazer a diferença num mundo ditado
por uma ordem alienada, excludente e manipuladora.
Ao Deus da Vida, pelas vidas, obrigado!
Ao Deus da Vida, pelas vidas, obrigado!