quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Sentidos da vida II


Pode ser que eu já esteja na metade da minha existência. Talvez mais... ou menos... Não sei e não vem ao caso! O tempo que se escorre feito areia nas mãos me põe a pensar cada vez mais no verdadeiro sentido da existência, principalmente o da minha.

Aos 36 anos de vida, considero que já vi e vivi muita coisa. Sempre consideramos e nos colocamos num patamar que já vimos de tudo. Não! Por mais que não nos espantemos com o sistema operante ao nosso redor ao qual somos protagonistas, cúmplices, encarcerados, cegos, surdos, mudos, ousados e as vezes questionadores, ainda assim não vimos nada, nem tampouco vivemos de tudo.

Sempre corremos em direção ao melhor. O prêmio, muitas vezes, é aquilo que economizamos tanto para adquirir e depois da conquista feita, vislumbramos o próximo item. Sim, item. O melhor a que buscamos, em 80% ou mais do nosso tempo, se refere a itens materiais. Claro, óbvio, que todos querem o melhor para sua sobrevivência e a dos seus.

O tempo de hoje me permite degustá-lo com outro olhar e com outro paladar. Permito-me o direito de dar descanso ao perfeccionista que co-habita aqui dentro. Livro-me do desafio de querer tudo ao mesmo tempo, ao meu tempo. Dou-me a auto-orientação da espera, com sabor de apreciação enquanto o esperado não acontece. Cuido-me para que eu não me torne refém, nem escravo dos meus algozes.

O tempo de agora me coloca em pontos estratégicos de reflexão. O degustar dos momentos nas mais variadas filas de espera é algo que jamais imaginava acontecer. O cumprimento do dever em tempo recorde sempre foi marco nos meus dias. Meu filho é assim. Tenho visto o meu próprio reflexo nele. Mais que isso, tenho cuidado para que ele valorize o tempo desde já.

O tempo que se foi virou lembrança. Lembrança de vitória e também de derrota; lembrança de alegria e também de dor; ganhos e perdas; simplesmente, lembranças... A saudade que aperta diante do que não volta mais é em relação ao tempo que talvez poderia ter sido degustado melhor.

Levando por essa óptica, questiono-me sobre o que me satisfaz de um modo geral, em todos os aspectos. É uma questão ampla, objetiva e também subjetiva. Importo-me então em não fazer correrias desnecessárias. Tudo a seu tempo, respeitando os limites e os espaços. É quase uma contradição, ou melhor, uma luta contra os instintos e vícios que não agregam.

Mas, e o tempo que virá? Falar de sonhos impossíveis e inalcançáveis em tom de utopia vale a pena? Sim! Com toda clareza e certeza vale muito a pena não só falar mas sonhar de pés no chão, ter convicção do que se almeja, acreditar na capacidade, não deixar abalar as estruturas da fé, engajar-se numa luta positiva, ou seja, sair da comodidade do lugar e se por a caminho rumo ao sonho. Sonhar por sonhar é vazio.

Então, o tempo do amanhã, do futuro, de horizontes desejados e caminhos variados, é algo que não se pode deixar ao acaso. O amanhã depende das estruturas do hoje. Não se importar com o que virá é desleixar-se com o momento que está.

O sentido da vida também sofre mudanças com o tempo, com o amadurecimento, com os pódios e também com os obstáculos, principalmente. Quando os problemas e as dificuldades batem a porta o que mais refletimos, além da busca para a solução, é sobre os tempos que não tínhamos tanta responsabilidade, dos momentos de aconchego familiar que muitas vezes era desapercebido.

Algo nos motiva, algo nos impulsiona, algo nos põe a caminho, algo nos obriga a cumprir tarefa. A vida pode ser uma rotina de horas e paisagens mas pode ter um sentido a cada dia. Basta que não tenhamos medo de silenciar e assim consigamos enxergar além, além das vidraças, além dos olhos, e a nós mesmos.

Entre cruzes e luzes, o sentido de cada um, para cada um, está ao alcance de quem ousar-se...