Na preguiça do
pensar,
Só me resta o pensamento
Tudo me cerca, eu me
cerco
Tudo me cega, eu me
cego
Sou de outro mundo,
de outra galáxia, qual?
Sou de mim, sou de
tu, sou de nós, sou de vós
Sou verbo, sou ação,
intransigente,
Sou, sei lá,
entende?!
Rebusca-me o
pensamento
Visões são o tormento
Estou embriagado com
o exagero
Estou desanimado com
esse desespero
O frio é solitário,
neste deserto vazio
A plateia é gélida,
de graça sombria
Os aplausos são
máscaras
Os olhares são
lápides
Estou morrendo aos
poucos, esse é o problema
Sem a pergunta, busco
uma resposta para o dilema
A construção com a qual
se preocupam é a da aparência
Enquanto aos poucos
extinguem com a essência
As lutas que travam
são pela posse, pelo poder
Enquanto sufoca-se a
possibilidade de ser
Erguem-se
superficialidades, muros, muralhas e mansões
Derrubam-se pontes e não se constroem relações
É o mundo, imundo,
mundano
O profano sem sagrado
e o sagrado no profano
Uma engrenagem
mecanicamente viva
Permuta diária pela
sobrevivência típica
Selva de humanos
desalmados
Lobos solitários,
vampiros e aloprados
Vou meter nas ideias
um capacete
E sair por aí, tomar
vento e sorvete
Deus me livre da
maldição do protocolo
Quero minha vida de
volta, sem culpa nem dolo
Corro pra longe dessa
vida de concretos
Quero água, terra,
verde, ar puro e céu aberto
Quero uma rede na
varanda pra cantar ao som da lua
Uma fogueira pra
aquecer e clarear, e trazer lembrança sua
Meu violão vai
tirando ao fundo uma canção
São saudades, são
verdades, alegria e solidão
Cantarei ao tom das
lágrimas, ao poeta, meu profeta
Partirei em cada trem
até chegar à estação certa
Quero a brisa, a vida
plena, porto seguro pronto e certo
Quero a paz em
abundância no silêncio do meu deserto