sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

A vida, a travessia, o amor e a solidão


 A vida é estranha, mas também engraçada. Ela é difícil, repleta de desafios, surpresas, decepções, conquistas, derrotas, suor, lágrimas e sangue... Tudo isso e mais um tanto de considerações fazem parte da ação, do "viver a vida", da travessia que fazemos desde nossa concepção no útero materno até o apagar das luzes. 

Noutra óptica, ela é o oposto de morte. Lançamo-nos o desafio diário de viver intensamente porque ela é uma só. A morte é certa, é a parada final, o encerrar do espetáculo. E quando as cortinas se fecham, sobram apenas as lágrimas da plateia. 

"O tempo que escoa não permite despedida
Todo dia ecoa uma nova chance
Todo dia destoa uma eterna partida
Há quem nunca mais alcance
Viver a vida como haveria de ser vivida" ("Espelho da Alma" - Cá de dentro - A.D.O. - 2015)

Sempre ouvi histórias sobre maritacas, de que elas formam casais inseparáveis até o fim de suas vidas. Pesquisando sobre, pude conhecer a diversidade de nomes e suas variantes de cor que predominam em determinadas regiões do nosso país. Claro que existe sim um certo exagero, que alguns consideram como mito a questão da fidelidade de seus pares. Por razões diversas, a formação dos casais pode se dissolver ao longo do tempo. Como eu disse, por razões diversas que não cabe explicar aqui. O que há de interessante e romântico nisso é que em sua maioria, os casais são eternos e quando um deles morre, o outro tende a viver só.

Essa experiência eu tenho acompanhado de perto, aqui onde estou. Notei que uma maritaca tem se aninhado sob a aba do telhado na lateral da casa. Quando passo por ali ela bate as asas em disparada e voa pro alto dos coqueiros. Está sempre só. Parece esconder-se do mundo. Recolheu-se em luto num cantinho incomum. Animais também sofrem de amor e solidão...

"No repente do tempo
O tempo de repente se vem
No repente do tempo
O tempo de repente se vai" ("No repente do tempo" - Cá de dentro - A.D.O. - 2015)

A vida é um exagero... e vai da ação de cada um para entende-la como boa ou não. Prefiro crava-la como um presente único que recebo diariamente. Que, no decorrer do tempo, tenho a oportunidade de vivenciar, experimentar, degustar, saborear, lutar de forma intensa por mim mesmo, pelos que amo, pela sobrevivência, pela essência... Não serão objetos adquiridos ou construídos que deixarão memórias de quem partiu. Mas, a ação da construção, o tempo dedicado, o sorriso aberto e o pensamento calado que se eternizarão...

"Vida na memória...
é o som que reverberará por toda a história" (A.D.O. - 2019)