quarta-feira, 19 de junho de 2024

O jardim



Meus Jardins
Eu planto na terra
Para que floresça no céu
Gramado novo, flores...
Tudo para que a chegada seja familiar
A estadia seja confortável
E a lembrança seja eterna

Sol, brisa gelada, um tempo bom
Pássaros nas árvores
Borboletas nas flores
O sol me acalenta
Me traz a leveza da vida, a esperança
A noite vem triste, escuro e solidão
Dor e saudade

Este não pode ser o fim
Eu preciso ver você correr pelo jardim
Sua morada, eterna morada,
Está além da fachada
Derradeira que preparei sob lágrimas
Na esperança de que você 
Em algum momento, entre pela porta

Você foi mas deixou seu legado
Viveu o que precisava ser vivido
No seu tempo 
Antes de ter partido
Nada justifica, nada apazigua
Só a dúvida infinita
A de que você logo correrá de volta pra casa

Meu coração, sua morada, meu jardim
Quem foi antes te espera
E juntos hão de olhar para a terra
E daqui, desta imensidão de véu azul
Continuarei elevando meu coração
Ao limiar da sua face
Meu jardim é o céu

Seu jardim é o meu coração
E aqui as flores nunca secam
Você está cuidado e protegido pelo meu amor
O meu jardim é o céu
Basta elevar meus pensamentos
E meus olhos te encontram
E eu sigo a te cuidar daqui...

domingo, 16 de junho de 2024

Não prometeu nada e entregou tudo



Dos caminhos que a gente segue, alguns nos possibilitam encontros inesperados e ao mesmo tempo, marcantes. 

Mais um dia de acasos nas esquinas da vida. Ou quem sabe, destinos.

O carro estava apresentando um problema constante. Do nada, á agua fervia e secava o reservatório em instantes.

Era necessário parar, deixar o motor esfriar, abrir a tampa do reservatório com cuidado, completar com água e seguir ao destino.

A água do reservatório do motor ferveu enquanto esperava o sinal esverdear. Uma motociclista avisou sobre a água vazando por baixo e a fumaça saindo pelo capô. 

O semáforo ficou verde e eu segui até um local que fosse possível parar. Deu certo estacionar sob a sombra de uma árvore. 

Saí do carro, abri o capô e já olhava ao redor para ver onde conseguiria pegar algum recipiente com água. 

Um rapaz se aproximou. Primeiro perguntou se eu iria em algum restaurante. Quando viu que ergui o capô e notou que ainda saia fumaça, logo se prontificou para ajudar. 

Foi numa caçamba de lixo, encontrou um galão e atravessou três vias para buscar água numa construção próxima. 

Fiquei observando, de braços cruzados, toda a saga do rapaz. Em seu retorno fez questão de dizer que lavou o recipiente antes de colocar água.

Abasteci o reservatório enquanto o rapaz falava de sua experiência profissional. Havia trabalhado numa retifica. Sabia muito bem sobre mecânica.

No momento que seguia com o galão para buscar a água, fez um único pedido: "olha a minha enxada, por favor". Era o seu instrumento de trabalho.

Sentado escorado no tronco da árvore ao lado de sua enxada, simplesmente não me pediu nada em troca. Percebi em seus olhos o quanto sua atitude foi isenta de intenção em ser retribuído pelo seu nobre gesto.

Sentiu-se bem em ser útil. Sentiu-se digno em ser ouvido e respeitado como pessoa em toda sua integridade, independente do que fazia ali naquele momento.

De bermuda, camiseta e calçado, parecia aguardar ali sob a sombra da árvore alguém chamá-lo para um serviço rápido de limpeza, capinagem. Um verdadeiro guerreiro pronto para a batalha que aparecer.

Suas mãos, grossas, calejadas, se eu pudesse ler cada traço, ousaria dizer que as incontáveis histórias de luta que marcam sua pele, jamais conseguiria imaginar, nem tampouco capaz de reproduzir em palavras.

Não tinha muito dinheiro no bolso mas ofereci o que podia naquele momento, como forma de agradecimento e principalmente pelo reconhecimento daquele esforço que não pediu nada em troca. Considero que foi uma atitude nobre e repleta de senso de humanidade por parte do rapaz.

O caminho, o evento e o encontro. Uma lição de empatia que dispensa cadeiras acadêmicas. Isso é do ser como um todo. Isso é para poucos. 

Não prometeu nada mas entregou tudo.