domingo, 25 de agosto de 2024

Sob as cinzas da ganância



Dia 23 de fevereiro de 2015, voltando de uma viagem de carro com meu filho Felipe, depois de visitarmos minha irmã e sua família em Brasilândia de Minas, passei a observar a expansão dos desmatamentos e queimadas ao longo de um percurso de quase 460 km. Pai e filho, companheiros de viagem, conversamos muito sobre as consequências da ganância do ser humano por posse e poder. Desse diário de viagem ficou um registro em forma de poesia, que foi publicado no meu livro Cá de Dentro, com o título Progresso da Ganância


Há muito tempo venho prestando atenção nas queimadas. Tempo esse anterior ao do escrito acima. E, para mim, existe uma lógica muito simples de entender a motivação desse ato inconsequente e destruidor. A responsabilidade pelo cuidado e manutenção dos acostamentos e canteiros das rodovias estaduais e federais, por exemplo, é de grandes empresas que ganharam mega licitações. Se pararmos para analisar, a mão de obra e maquinários para esse serviço requer muitos homens e grandes recursos. 

Não foram poucas as vezes que me deparei com uma única pessoa, em traje civil, ateando fogo em áreas, cuja responsabilidade por manter sem matos seria de alguma dessas empresas. O custo para isso é apenas o de uma pessoa, talvez das horas extras que parou pra realizar o serviço, ou melhor, o atentado, o crime. Uma pessoa e um palito de fósforo, é o que basta. 

Olhando pela lógica, o custo para a manutenção de canteiros e acostamentos de pistas e rodovias estaduais e federais, é alto. Isso, se feito da maneira correta, a qual foi contratada para fazer. Mas, fato é, que em nome do faturamento sem custo, as empresas arriscam pelo lado mais barato e criminoso, as queimadas. As consequências todos já conhecem e, hoje, o país está sob fumaça.

Os contratos são milionários mas se ao invés de disponibilizar pessoas e equipamentos uma única pessoa realizar o serviço? O lucro será ainda maior. Pode até parecer uma teoria conspiratória mas não é. Só se atentar nas queimadas recentes nas rodovias ao redor das cidades. Por que sempre nos mesmos lugares, nos mesmos canteiros, nos mesmos acostamentos? Tais empresas podem recrutar qualquer pessoa que não seja funcionário e aí não tem como provar. 

Enfim, o que se sabe é o que sempre acontece, nas mesmas épocas. Poder, posses, lucros, são algumas das motivações. Ganância é o que concluímos. E a vida... cada um que se cuide porque nessa história, os culpados nunca aparecem, devem estar dentro de seus luxuosos bankers assistindo de camarote e sem sofrer com as consequências imediatas. Enquanto isso, sob as cinzas nacionais, todos pagamos o preço dessa inconsequência criminosa e premeditada.