Foi um tempo. Foi um tempo que não havia tempo. E o tempo que corria não corria contra
o que havia. E o tempo que passava não retirava da
vida as gotas de cada dia. Foi um tempo em que o tempo não foi
momento, foi tempo real...
Foi um tempo. Foi um tempo em que infância era coisa
de gente grande realizada na cabeça de criança. E o tempo que se custava deixar os
ponteiros darem voltas era vilão, inimigo da espera. E o tempo que então se passava era
lembrança nata, era saudade recente de quem nunca fora ausente. Foi um tempo em que o tempo não deixava
marcas, nem dor, foi tempo real...
Foi um tempo. Foi um tempo em que o futuro incerto
era o rumo certo a ser seguido. E o mesmo tempo foi perseguidor imbatível das metas traçadas, dos planos
sonhados. E o tempo que ficava, ficava retido
invólucro na caixa secreta do coração para ser aberta um dia na janela da
saudade. Foi um tempo que no seu saldo, nem
positivo nem negativo, foi simplesmente vivido, foi simplesmente um tempo real...
Foi um tempo. Foi um tempo que virou história,
memória viva da roda viva do tempo da vida. E o mesmo tempo que um dia fora
perseguido, almejado, traçado, sonhado, surrado e vencido é o tempo que gostaria de ver novamente passar feito rio que corre pro mar, a refazer caminhos. Foi um tempo que ficou pra trás, fez
raízes, fez poesias, plantou esperança, regou sementes. Foi um tempo cultivado no passado,
regado na lembrança. Foi um tempo que foi, não volta nem nos
dá a chance de trilhá-lo outra vez...
Foi um tempo bom...