No final dos tempos
Todo o passado será memória
E não passará de um saudoso antigamente
Nem dinheiro, nem sucesso
Nem metas, nem aquisições
Nada terá valor
Nada trará de volta o tempo
Restarão apenas lembranças
E lembranças de relações
Nenhuma tecnologia será capaz
De satisfazer a sensação do bem vivido
Nenhuma imagem estática
Ou em movimento
Saciará o vazio
O que perdurará de bom
Estará na caixinha do sentimento
Viver a vida sem prazer
É desconhecer a que veio
É estar distante do sentido da
existência
Minhas saudades de antigamente
Estão enraizadas no lado bom do peito
E arquivadas na memória viva dos meus
dias
Não me cobro das obrigações impostas
Eu cumpro meu papel com zelo
Mas vivo além do que a aparência me
permite
Nessa contramão de todo o sempre
Apenas observo o que ninguém enxerga
Nos detalhes de cada olhar
Eu me reencontro aprendendo
Sigo nesse deserto de tédio sem ópio
Esperanto um horizonte eterno
Que por tal só é belo e inspirador
Em seu cenário e além
E nunca uma linha de chegada
Na utopia dos meus dias
Contemplo a pequenez das coisas simples
Me farto de boas prosas
E me empanturro de sonhos sórdidos
Vivo a demência dos meus atos
A inquietude dos meus pensamentos
E a certeza louca de não ser normal
Afinal, jamais quis ser igual
Estou pronto!