quarta-feira, 10 de julho de 2019

Vivenciando e reaprendendo: histórias de minha mãe


05/07/2019. Sexta feira. 19:45 horas. Um frio chegou de repente e pairou sobre a cidade. Pelas últimas notícias sobre o tempo, parece que essa mudança brusca de temperatura não é exclusividade uberlandense. 

Já em casa após o trabalho e aguardando o jantar, entre a leitura de uma notícia e outra, ouvia os causos da semana contados pela dona Claudete, minha mãe. 

Fazia algum tempo que ela havia comentado sobre dois irmãozinhos, um adolescente de uns doze anos e seu irmão menor de uns 8 anos, pelos quais tinha criado uma amizade. Ela só os encontrava pelas manhãs de segunda a sexta-feira. Exatamente no momento que minha mãe aguardava na porta de seu trabalho os irmãos passavam por lá em direção à escola. Ali se criou uma relação de atenção e carinho.

Segundo o que a dona Claudete conta, o menino mais novo, quando lhe avistava, dava um jeito de se esconder ou caminhar sorrateiramente até chegar próximo dela. E depois aparecia com um sorriso largo de felicidade. Notei pela força da expressão da minha mãe o tamanho do carinho que ela adquiriu por eles. Seus olhos brilham ao contar sobre os pequenos. 

Ela percebeu também que eles são de família simples e em muitas manhãs de frio os irmãos vão pra escola de bermuda, chinelo e até sem blusa de frio. Comovida pela situação ela já planejava esperar a virada do mês para comprar umas blusinhas para os meninos. Estava até conseguindo algumas roupas entre alguns conhecidos que servisse para eles.

Hoje porém ela contou que teve a triste notícia, dada pelo menino mais velho, que ele e sua família estariam de mudança para Patos de Minas até o fim daquele dia. Logo no início da semana o adolescente estava indo para a escola e ela percebeu que o mais novo não estava junto. Ao perguntar o motivo do pequeno não estar ali, o adolescente, entre lágrimas, explicou-lhe o motivo. Seu pai havia conseguido um trabalho melhor pois aqui, nessa cidade, eles estavam passando por muitas dificuldades. 

Conta minha mãe que em uma manhã chegou a perguntar se eles não estavam com frio e a resposta lhe cortou o coração: "sim, estamos só um pouquinho com frio, mas a gente não tem outra blusinha"... E mesmo assim, não houve tristeza por parte deles. O sorriso era algo natural independente do tamanho da dificuldade. 

Nesse momento, aqui comigo, ao contar sobre a mudança dos irmãos com a família minha mãe enxugou as lágrimas... E eu precisei me conter... Ela sentiu muito e eu sei o quanto porque havia tempos que ela falava desses garotos com tamanho carinho e desejo enorme de ajudar. Já estava programado para comprar os agasalhos mas não deu tempo... Infelizmente. 

Parece algo superficial, mas não é. Conhecendo o tamanho do coração da dona Claudete sei que ela sentiu com a notícia. Imagino o quanto ela sentiu e chorou quando o adolescente lhe disse o quanto gostava dela e sentiria muita falta de encontrá-la pelas manhãs. O menino chorou. Ainda assim sugeri que ela procurasse algum coleguinha dos irmãos, e parece que tem um amigo que pode dar melhores informações, para de repente conseguir o endereço para onde se mudaram. Nada é impossível. 

A história é simples, porém real. Como lição senti que ainda é possível viver experiências profundas mesmo numa época repleta de corações frios e insensíveis ao sofrimento alheio. São valores como esse, de respeito ao próximo, que eu guardo aqui dentro e procuro passar aos meus pequenos. Triste por não ter dado tempo dela ajudá-los mas orgulhoso pelos ensinamentos que é possível vivenciar e reaprender com essa dona Claudete, minha MÃE. 

Claudete