domingo, 25 de dezembro de 2022

Papo de irmãos: "despojar-se de si"



Véspera de Natal de 2022. E como de costume, tradição, eu e meu compadre Fábio, falávamos ao telefone. Nossa comunicação é constante e é como aquele livro gostoso de se ler ou aquela série que nos prende, não importa se paramos alguns dias de ler ou assistir, quando nos conectamos não existe hiato temporal em nossa amizade. Vale ressaltar que somos compadres por duas vezes, fui seu padrinho de casamento e ele padrinho do meu primogênito Felipe. Entre brincadeiras, zoeiras, palavrões vulgarmente carinhosos de amigos e felicitações, caímos em mais um papo sagrado, mas dessa vez sobre O Sagrado. Como parceiros, amigos, companheiros e irmãos pela vida, outras vidas, noutras épocas pelo tempo dessa estrada, nos reservamos o direito de falar aquilo que percebemos faltando ou sobrando no outro. Sempre achamos o meio certo de expor a nossa percepção, esta que se insurge em nosso íntimo em forma de um cuidado especial. Sempre descobrimos um sentido diferenciado que as vezes só percebemos ao longo dos dias. 

E como irmãos, presente da vida para a vida, o ato de preocupar com o outro nos dá as condições necessárias de chamar a atenção quando necessário pois, elogiar quem a gente gosta é fácil mas, ter coragem de puxar a responsabilidade de cuidar do outro é para poucos. Cuidar implica também ser contra, questionar, chacoalhar no sentido de alertar os prós e contras da inércia em que nos encontramos, seja um engessamento no lugar, seja um movimento desenfreado, ambos com riscos iminentes. 

Entre papos e frases aleatórias que trocávamos, eis que surge um questionamento do meu amigo sobre a minha espiritualidade, o contato direto com o Sagrado sem adentrar o quesito religião, ou seja, religiosidade sem denominação religiosa. A abordagem direta de sua parte foi sobre minha crença em Deus e a possibilidade de dar-me o direito de ausentar-me do mundo e conectar-me com o Sagrado, sem envolvimento com trabalhos, apenas eu e o Divino. 

Suas dúvidas em relação ao meu pensamento sobre tal assunto eram palpáveis, explodiam em seu olhar e se manifestavam em palavras ditas com muito cuidado, carinho e sentimento. Adentrar num terreno desses, um terreno amigo porém alheio, em que se mexe no íntimo do outro, não é pra qualquer um. Mas, nossa amizade tem uma potência que ultrapassa barreiras e isso não abala as estruturas. Ele tinha a necessidade de saber como estava minha vida longe do contato com o Sagrado, que a seu ver, necessita de uma intimidade maior e a sós com o Divino, longe do mundo. Expliquei-lhe que tenho uma conexão com o Sagrado mas de outra forma, na figura de cada próximo que cruza meu caminho e isso está longe das paredes de qualquer instituição religiosa. 

Mas, com toda sensibilidade e respeito, ele me contou de sua experiência e isso foi concreto para mim, Trouxe-me um alento de esperança para uma reconexão com a Vida, o Divino, o Sagrado, Deus. Ele ainda falou algo que, com certeza, poucos entenderão: "precisamos nos reconectar com aquele Deus da Cantizani". Comunidade de Nossa Senhora Aparecida, na vila Cantizani, Piraju-SP, foi o local onde demos nossos primeiros passos dentro da igreja Católica. Missas, catequese, grupo de canto, grupo de adolescentes, grupo de jovens, retiros, encontros, coordenações, teatros, vigílias, serenatas, trabalhos diversos, enfim, muita experiência que é a nossa base para os dias atuais. Entendi então o convite através de sua experiência: resgatar o "eu", ainda certamente inocente para a vida, mas com ânsia de viver, que não se afastava do Sagrado, das raízes, do alicerce... Não podemos esquecer os passos dados dentro da travessia de nossa história.

O que ele me contava era mais que uma história ou experiência, mas um convite a viver algo íntimo, de reconexão com o Sagrado, em que possamos ser apenas o "EU e DEUS", sem pretensões extras em qualquer tipo de envolvimento dentro da comunidade religiosa. E claro que, dentro de nosso momento de pura transcendência num simples diálogo de amigos, percorremos por várias direções do pensamento mas a linha mestra que norteou esse tempo que nos demos um ao outro, foi no intuito mais puro desse meu irmão dividir algo que ele já sabia, poderia ser grandioso para mim também tanto quanto tem sido pra ele. 

O caminho que ele fez para chegar no lugar de onde fala precisou sim se desconectar do mundo, dos afazeres, das atribuições e cargos que ocupa para ser simplesmente ele, aquele menino crescido na Cantizani, com uma fé enraizada na simplicidade e, assim, se reconstruir a partir de experiências da base, do alicerce e do presente. A palavra que, por unanimidade, marcou esse bate papo foi "despojo". Despojar-se de si para adentrar o solo sagrado da pura intimidade e privacidade com Deus. "Ali eu sou apenas o Fábio, da Cantizani, sem pretensões a não ser o de agradecer, rezar, pedir junto a Deus e Nossa Senhora Aparecida", disse meu amigo. 

Apesar de estar sempre me conectando com o Sagrado, Deus, através da intimidade com o próximo que cruza meu caminho, que ao meu ver é um ato concreto de manifestação do Divino, senti na experiência retratada no olhar e no tom de sua voz, do meu querido compadre, algo mais que especial que iam além das palavras. E foi esse sentimento, o do "despojar-se de si", que me fez refletir sobre o meu momento atual e, a partir daí, dessa nossa conversa, senti a necessidade de me permitir experimentar, sem amarras e sem ambições, uma nova forma de viver a experiência do despojo de si para encontrar o Sagrado que habita em mim. 

Papo de irmãos: pra sempre. 








sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Espelhos: portal, retrato e conexão



Na inebeleza das imagens refletidas nos espelhos
Qualquer um que me faça deparar com pensamentos
Sinto e enxergo a reciprocidade do olhar encontrado
Côncavo e convexo numa dança de sentimentos

O espelho que se tornara portal dos olhares
Transmitindo o fogo cruzado do desejo e da paixão
A necessidade ardente do contato imediato
Sem perder a essência, somente a razão da emoção

Em qualquer espaço em que a imagem se reflete
O pensamento acelera e se transporta no tempo
Num tom de miragem a saudade se converge
E corre ao encontro, aquele encontro que não se encerra num momento

O espelho foi a comunicação não verbal mais profunda
Que perpetuou tantas declarações em olhar
Em meio às aparências frias de gente sem essência
Enquanto nós fizemos do amor o nosso altar

Na sensual dança dos corpos, côncavo e convexo
As peles se deslizam enquanto as almas se enamoram
Os corpos se entrelaçam e se encaixam despretensiosamente
Enquanto a respiração se ofega e os corações se descompassam

O espelho é o retrato que revive cenas de olhares e sorrisos
Que coravam tua pele no disfarce displicente
E hoje me alivia quando miro em meu olhar refletido
E reencontro seu semblante em paisagem à minha frente



terça-feira, 6 de dezembro de 2022

De almas e de rios, encontros



E quando me recobro da realidade
Sentindo-me deslocado da sociedade
Que padroniza religiosamente seus seguidores
Que crucifixa descaradamente seus opositores 
Escondendo suas fraquezas em recalques e tabus
Mantendo firmes suas regras, suas guerras 
Exalando preconceitos em nome de pseudorreligiões 
Condenando a pecados de dor, sem amor
Tudo o que não se enquadra em seus hipócritas padrões

E quando me reencontro dessa dura realidade
Sem padrão que me enquadre
Sem religião que me prenda
Sem senso que me cale
Sem preconceito que me oprima
Sem sombra que me pese
Sem dogmas que me ceguem
Sinto apenas o saldo das labutas
Sangue, suor e lágrimas de tantas lutas

E me vejo um forasteiro privilegiado
De tantas amarras libertado
E o que sobrou é tudo o que carrego
Aquilo que sou na minha mais íntima essência
Recortes de alegria, de sorrisos, de amigos
Amor, amores, cheiros e sabores
Porque o sentido desse mundo é sermos
Especialmente, uns pelos outros
O que seria dessa travessia sem a devida empatia?

Do mais, não quero ter aquilo que possa me definir
Nem status nem poder, nem matéria nem miséria
Principalmente aquela que mata de fome a alma
Quero continuar sendo o que sempre fui
"Nem melhor nem pior, apenas diferente"
Ser voz onde falta vez
Dar vez onde falta olhar
Ser olhos onde as palavras cegam
Verbalizar onde tentam calar a voz

Sou partida e sou chegada, mas antes de mais nada
Sou travessia e estripulia, intensidade e movimento
Sou deserto, sou paisagem, sou montanha, sou passagem
Sou verbo, de ação e ligação
Sou razão mas, emoção e coração
Encontro constante, de rios e de almas 
E de tudo o que já fui, só quero continuar sendo
Eterna construção do melhor que eu possa ser
Sou poeta e menino protagonizando meu próprio tempo

Silêncios vazios


Meus vazios, ora preenchidos com silêncio
Encurtam as asas do meu pensamento
E escancaram amores, flores, dores
De vidas em sonho ainda esperadas

Meu silêncio, ora preenchido com vazios
Encurtam os pensamentos de minhas asas
E escancaram dores, flores, amores
De sonhos em vida ainda esperados

Minha vida, ora preenchida com silêncios e vazios
Bate as asas do pensamento libertado
Escancarando recortes de cenas
De vidas sonhadas em meio a flores, dores, amores

Minha vida, ora desocupada dos silêncios e vazios
Bate os pensamentos das asas libertadas
Escancarando cenas recortadas
De sonhos vividos em meio a amores, flores, dores

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Vôlei: acolhida, empatia e respeito



A palavra é "acolhida". Quem chega numa terra estranha, num lugar diferente, num grupo desconhecido, sempre se vê perdido em meio a tantos rostos novos. O clima, o ambiente, as pessoas, tudo é novo. Geralmente cabe a um líder, ou alguém de mais empatia e sensibilidade quebrar o gelo e dar as boas vindas. 

Empatia, é dar o respeito merecido ao ser humano que chega ou que parte. Um mínimo de olhar para com quem se achega ao ambiente, ao grupo. É isso que geralmente falta em muitas denominações religiosas. 

A partir da teologia, posso dizer que já estive em diversos meios cristãos: linhas de frente, bastidores, grupos de massa (aqueles que querem te converter pela emoção forçada e forjada), e os grupos de base (os quais sempre centraram minha travessia e ajudaram a alicerçar o meu senso-crítico). 

Através da psicologia, venho me atentando, interiormente, esforçando para ter um olhar de acolhida, respeito, empatia, aceitando o diferente que me ajuda desconstruir e reconstruir-me cada vez mais humano.

Enquanto pessoa, luto para ser voz diante de tantas vozes sem vez, fazendo a minha parte num mundo hipócrita que cobra justiça e torce pela guerra. A luta é contra as máscaras-maquiadas que se matam pelo poder, sejam elas religiosas ou políticas. 

Através da poesia, eu me permito sonhar, ter fé, e coragem de lutar. Ela me conecta com as ciências, me  permite a transcendência entre os universos do sonho e da realidade. A poesia me faz ver a justiça em pé de igualdade, é arma de amor contra o ódio estipulado pelas religiões de poder. Ela anuncia, denuncia, ama, abraça, e acolhe as minorias. É a conexão entre ciência, fé, sonho, realidade, amor, coragem, luta e perseverança. 

Trago comigo um álbum de recortes de sorrisos, olhares de empatia, palavras de acolhida, alegria, determinação, em meio a gritos de vitória em cada passe que permite um bom ataque. 

Poesia e esporte, mais uma base que alicerça minha caminhada. Não foi fácil chegar até aqui. Em vários momentos eu me vi parando em qualquer estação da vida, e me encostando sob uma sombra qualquer à espera do tempo e do fim... Mas, não era pra ser assim. E não foi! 

Entre lágrimas de desespero, e abraços de coragem, cá estou. Um sobrevivente de lutas invisíveis, de sofrimentos palpáveis como a de qualquer outra pessoa. Vi muita gente abdicar de sua existência por não se enquadrar em nenhum modelo ou padrão social. Porque pra você existir, ser reconhecido, precisa fazer parte de regras arcaicas as quais os hipócritas julgam ser morais e de bons costumes. Querem nos enquadrar naquilo que os donos do poder consideram como normal e são. 

Não quero ser normal pra me enquadrar. Prefiro a insanidade de quem pensa por si só. Um maluco beleza e pronto. Só quero ter a liberdade de escolher o meu próprio padrão. Não quero seguir modas. Quero só o tempo para viver ao lado das pessoas que me fazem bem, que eu gosto, que eu amo, e juntos praticarmos seja a teologia, seja a psicologia, seja a poesia, seja o esporte, seja um mix temperado com muita alegria, respeito e amor. 

É isso. Voltar ao vôlei me trouxe vida, sobrevida de um tempo difícil. Encontrar pessoas alegres, que deixam suas armaduras de lado quando entram em quadra me fez olhar ainda mais a fundo o ser humano. É possível fazer a diferença com poucas coisas, em pequenos gestos. É sobre isso: acolhida, empatia, respeito. E são essas as palavras que me trouxeram até aqui para agradecer a cada um e cada uma que pisa nessa quadra. 

By 
Vôlei Roosevelt
Vôlei Corujinha

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Sonhos em auto análise: a cobra de cada dia



O sonho se desenvolve num lugar já conhecido de minha saudosa infância. Era a escola Moreira Porto, especificamente na entrada, a qual tinha uma rampa de acesso que passava por três árvore, dava de frente com a biblioteca e logo já estava no pátio onde tudo acontecia. 

Nessa rampa, uma cobra jiboia me dava o bote e pegava no dedão esquerdo da mão. O dedo estava inchando rapidamente e a impressão era a de que iria explodir, enquanto o veneno poderia invadir meu corpo, caso a cobra não soltasse.

Com a outra mão eu segurava o dedo ao qual a cobra ainda estava pressionando. A ideia era simular um torniquete e impedir que o veneno se espalhasse pelo. A dor era demais.

Algumas opções me passaram pela cabeça como pedir ajuda para alguém próximo e de confiança. Puxar a mão e correr o risco de perder o dedo. Cortar a cabeça da cobra, fazendo com que meu dedo fosse recuperado e assim o veneno ficaria sem efeito. 

A cobra pode ser um problema, alguém que está tentando dar o último bote, a última tentativa. Posso deixar o veneno tomar conta, como se não houvesse solução, como se minha única alternativa seria suportar a dor e as consequências desse efeito; com riscos da cobra sempre abocanhar cada vez mais, me consumir mais até que em determinado momento já não saberia a minha identidade. A cobra teria assumido o controle sobre mim.

Cortar a cabeça seria cortar os problemas, vínculos desnecessários, cortar na carne e cortar da vida pessoas e relações tóxicas. Todo corte causa incômodo, dores, reações próprias que nunca tivemos antes, mas depois vem a sensação de alívio. O tempo tem essa função de aliviar tudo. Desintoxicar.

Em muitos momentos, pedir ajuda de quem confiamos não é desmérito. Muitas vezes não temos força nem coragem de fazer algo só e, por medo ou vergonha, nos deixamos consumir pelos problemas e a toxidade que não nos pertence. Pedir ajuda é honroso para quem ajuda e para quem pede.

Uma outra opção e talvez a mais sensata, seria a de que a cobra faça parte dos meus próprios pensamentos, especificamente daqueles que me fazem voltar para lugares de toxidade. Lugares que já deveriam estar enterrados, uma vez que o luto da dor já acabou. A cobra faz parte de mim, ela é o pensamento ruim, o negativo, aquele que me instiga a permanecer no erro. Então, a cobra também sou eu. Anjos e demônios coabitam no ser e assim, estamos todos lutando internamente. 

Carrego meu bem e meu mal. A toxidade que meu ser - corpo, alma e mente - foram testados e forjados, demora para ser eliminada. Por mais que o grau de toxidade não seja mais tão alto, haverá dias em que corpo, alma e mente sucumbirão de desejo de possuir aquela droga, aquele problema, entre outros exemplos. É uma luta constante manter-se livre e liberto de tudo o que nos impede de viver, ser feliz e crescer. Sim, só depende de mim. Depende de querer mudar, depende de não aceitar pessoas e relações tóxicas, depende de compreender que preciso de ajuda.

A cobra mordendo meu dedo pode ser meu subconsciente alertando. É necessário deixar o sistema de defesa em estado de alerta. A cobra do sonho foi eliminada. Sua cabeça foi cortada. No mundo real as lutas são reais, mais intensas e reque cuidados, estratégias, convicção e ação. 

Eu sou o meu maior incentivador, mas posso muito bem ser o meu maior adversário também. Isso só depende do protagonismo que eu assumir: anjo ou demônio. Não vou deixar que o veneno nem a cobra façam parte da minha vida. Esses pensamentos do meu "eu adversário" serão sabiamente eliminados, dia por dia. 

domingo, 6 de novembro de 2022

Marginal social ou sociedade marginal



A hipocrisia acompanha a evolução da espécie desde os primórdios da existência
A briga, tanto quanto as guerras, sempre foi por poder 
A luta desarmada em prol do bem comum
Sempre perdeu espaço para as guerras desalmadas
O sacrifício oferecido em tempos sombrios
Sempre foi o dos inocentes e sem voz
Para se manter o poder é necessário abalar as bases da estrutura
Uma sociedade que não visa igualdade
Terá sua política voltada para manter suas classes bem separadas
Destruindo a educação, sentencia-se o futuro
Quem está no topo do poder sempre terá seus privilégios inabalados de geração em geração
Enquanto isso, na base, quando não se foca na educação
Ou quando se destrói o sistema educacional
As possibilidades de um futuro vão se anulando


A criança presa por fora
como marginal social
acusada e sentenciada por suas precárias condições
abandonada em si
refém por herança
busca sobrevivência
e encontra saída nas mazelas
no crime, nas drogas
porque são os únicos lugares que acolhem
e novamente se tornam reféns
o sistema, que recebe para cuidar
pouco se importa do lugar em que a criança está

Cuidar das crianças
Para que quando adultas
Possam passar valores e cuidar dos seus
Educação é base, é caminho e caminhada,
É a própria vida, é a própria jornada

Poema escrito para o trabalho da disciplina de Psicologia Social e Comunitária - 4º período de Psicologia - Unitri


"As crianças saudáveis não terão receio da vida se os seus idosos tiverem integridade suficiente para não recear a morte." - Erik Erikson 

"Educai as crianças para que não seja necessário punir os adultos" - Pitágoras

"Por meio da educação transformamos realidades, diminuímos diferenças sociais e criamos oportunidades para as nossas crianças!" - Marianna Moreno

"A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida." - John Dewey

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Alienação, hipocrisia, desrespeito: CHEGA!



Hoje, após compartilhar uma mensagem em diversos grupos que faço parte, falando sobre pessoas de opiniões políticas diferentes e que nem por isso sua índole e caráter são duvidosos, alguém postou em seguida, num determinado grupo, a imagem de uma "enxada" com os dizeres "Varinha mágica pra trazer cerveja e picanha". 

Refleti muito sobre a minha postagem antes de responder, se havia algo provocativo da minha parte, mas não. Foi uma mensagem encaminhada e de autor desconhecido. Segue: 
- "Aprendi que existem pessoas maravilhosas que votam no Bolsonaro e existem pessoas maravilhosas que votam no Lula. Há extremistas dos dois lados. A escolha por um desses candidatos não define o caráter de alguém. Ela é baseada nos conhecimentos e experiências de vida e sobretudo como cada indivíduo significou tudo isso. Isso não faz das pessoas melhores ou piores, são apenas pontos de vista e expectativas diferentes. No entanto, a forma grosseira de lidar, julgar e acusar o outro porque ele pensa diferente, supor que você é mais inteligente, vivido, esclarecido... enquanto o outro é alienado, ignorante, manipulado, isso sim diz MUITO sobre você! Cuidado com as projeções pessoais, elas tem mais a ver com a gente do que com o outro" (autor desconhecido).

Me senti não apenas no direito mas na obrigação de responder de forma clara, simples e sem perder a noção e limite do meu espaço. Minha resposta: 
- "Isso é lindooooo!!! Vejo com bons olhos e orgulhoso da minha origem. Meus pais e avós são da roça, da terra. Mas, teologicamente falando, sendo o crucificado alguém que veio das mazelas da pobreza, e teve ao seu lado todo o tipo de excluídos e pobres (ladrões, prostitutas) me sinto duas vezes abençoado."

Tentei refletir sobre essa imagem a partir de várias ópticas mas, em nenhuma eu consegui ver algo que não fosse pejorativo; foi apenas no sentido de debochar. E, debochar de quem é simples e usa de trabalho braçal e pesado para sobreviver, tal como pessoas que trabalham no campo, na lavoura, na roça soa estranho demais para quem se julga "do bem", "cristão" e "patriota". Me questiono se o que se passa em certas cabeças seria que "uma pessoa da classe dos trabalhadores braçais não poderia então tomar sua cerveja e comer uma carne melhor"? 

Sem muitos questionamentos, me apego em três pontos: a minha origem e ou minhas raízes; os trabalhadores braçais, em especial os que utilizam da enxada, defendendo a premissa de que todo trabalho é abençoado e digno; o olhar teológico que, numa simples passada de olho pelos diversos livros sagrados, em especial a Bíblia cristã, todos falam sobre amor ao próximo, falam em especial sobre os excluídos, as minorias rejeitadas pelo sistema, pelos doutores da lei, pelos homens do poder, pelos abastados que se encontram no topo da pirâmide. 

Sem trabalhar ninguém se mantém, ninguém sobrevive. A injustiça está em todo canto, em todo campo. Trabalho escravo ainda existe em pleno século 21. Meus avós não tinham boa escolaridade mas eram sábios em seus ensinamentos, lições e exemplos. A classe trabalhadora, operária, braçal, não pode ser resumida a isso. Enxada, foice, martelo são ferramentas e símbolos de quem trabalha de forma pesada, de sol a sol, em sua maioria com um salário de fome; têm suas mãos calejadas, rachadas, cheias de bolhas de sangue; suas peles são queimadas pelo sol e muitas pessoas aparentam mais idade que de fato tem. 

O dito "cidadão de bem" faz o bem para quem? O "patriota" usa seu patriotismo para defender qual tipo de valor? O "cristão" usa o "seu deus" pra acolher ou pra julgar e sentenciar? Usa sua religião pra libertar ou pra alienar? Usa sua oratória pra trazer amor e paz ou pra esbanjar ódio, intolerância, discriminação, guerra e morte? 

Seguindo os valores do evangelho cristão, prefiro estar com os loucos do que com os falsos; falsos esses que na expressão de Jesus eram os hipócritas do templo e da sociedade que batiam no peito mas era verdadeiros sepulcros caiados. Prefiro estar com os excluídos, os pobres, as putas, as LGBTQIA+ do que com a cristeirada hipócrita de armas na mão. A diferença entre os lados é que os bandidos da elite se vestem bem e são protegidos pelo sistema. 

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Manoel de Barros por ele mesmo: frases e pensamentos

Fonte: "Só dez por cento é verdade" - Documentário - Netflix


Há várias maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é a verdadeira.

Me procurei a vida toda e não me achei.
- pelo que me fui salvo.

A palavra oral não tem rascunho.

Não saio de mim nem pra pescar.

Poesia é a virtude do inútil.

Poesia é o belo trabalhando.

Imagens são palavras que nos faltaram.

As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis.

Eu não amava que botassem data na minha existência.
Nossa data maior era o quando.

Sou poeta em tempo integral.

O poeta tem o dom de transformar: alquimista.

Poesia que é explicada deixa de ser poesia.

Des-herói: o vagabundo do Charles Chaplin é o herói.

Poesia se dirige à sensibilidade.

Eu quero usar encantamento.

Já tenho árvores, flores e pensamentos.

Bernardo desregula a natureza.
Seu olho aumenta o poente.

Pode um homem enriquecer a natureza 
com sua completude?

Palavra de um artista tem que escorrer substância escura dele.

A criança erra na gramática e acerta na poesia.

Repetir-repetir, até ficar diferente.
Repetir é um dom do estilo. 

Eu tenho uma ânsia de não fazer lugar-comum.

Coisificação do humano.
Humanificação das coisas.

Divagando inutilezas...

Eu tenho muito orgulho de ser lido.

Tudo o que não é inventado, é falso.

Fonte: "Só dez por cento é verdade" - Documentário - Netflix

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Carta para minha irmã - Parte 1 do infinito



Eu não sei o que dizer
Porque nunca aprendi a dizer adeus
Cultivar a proximidade é o que eu aprendi a fazer
Não significa não saber cortar o cordão
Está além disso
Eu não seria eu se não te apoiasse
Mas também não seria eu pra deixar de te dizer "não vá"
Meu coração bate assim, pulsando pra que você não vá
Para que vocês não vão
Porque metade da minha vida aqui é vocês
Meus sobrinhos... 
Ainda não assimilei
Ver vocês crescendo e conquistando as coisas aqui
É motivo de muita satisfação e orgulho
Sabe que isso é de coração
Porque eu sempre te quis o melhor
E sou orgulhoso de você e por vocês
O meu lugar de fala sempre se manterá assim
No cuidar de perto
E cuidar, na maioria das vezes, é só estar perto
Mesmo sem precisar falar, nem ouvir, nem ver
Apenas saber que está ali
Penso que nunca quis sair do lugar, do meu lugar
Não queria sair de Piraju, mas me vi obrigado
Foi necessário
Tive meus arrependimentos
Mas tenho também meus motivos pra sorrir diante da escolha
Hoje é só o começo de uma longa jornada até a partida
Ou melhor, até a despedida...
"A vida se dá é no meio da travessia"
Nunca se esqueça disso
O melhor da vida não é apenas a festa, a conquista, o topo...
Toda a vivência e experiência adquirida nessa travessia
Faz parte, e temos que aproveitar ao máximo
Eu sempre estarei aqui
Eu apenas não sei o que dizer...
Minha eterna "Companheira"

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Um lugar chamado saudade



Hoje eu tô navegando num lugar chamado "saudade"

minha alma veleja pelas águas do pensamento

em oásis inexplorados de sentimentos

cercado de solidão

mas que em algum lugar do paraíso chamado vida

habita uma alma que me espera

habita você, que eu sei, é de verdade

Estou num lugar chamado saudade

te esperando e aqui eu vivo

entre a criança que sonhou

e o futuro que virá

no tempo desse presente

eu me entrego em tempo

mas se por uma desventura

suas mãos não mais puderem me tocar

adentrarei na próxima estação

embarcarei sem destino

e soltarei ao céu

o meu coração 

rumo ao infinito

para que ele possa voar

e te encontrar

no céu dos meus sonhos

O sequestro de Deus


As ciências que discorrem sobre a fé. A fé que atesta a ciência. Assim deveria ser, mas não é. Há mais que uma disputa de devotos e torcidas entre os opostos e divergentes. A briga é por uma verdade que ninguém detém. Verdade empurrada, à força, que soa mais como necessidade de impor e mostrar poder. Ganância pelo próprio poder. O poder que proporciona status. E para se impor, com poder, é necessário causar medo. E o medo aliena. E quando se aliena, qualquer mazela dita como "verdade", mesmo que não o seja, acaba sendo única, seja ela religiosa ou científica. Uma verdadeira deturpação de valores. 

Quando a necessidade de mostrar poder e força estão acima do bem comum, há no contexto um grande sinal de desvio de finalidade e, nos porta-vozes da alienação, um medo maior de perder o controle, o poder, e todas as regalias que o mesmo proporciona. 


Falamos aqui não apenas do sequestro de Deus através da religião, da fé ou mesmo da teologia que tem "Deus" como objeto de estudo mas, de todo os deuses pré-fabricados por quem deveria usar o "poder" para libertar e não alienar. As ciências, as políticas e todo tipo de radicalização que produz cegueira coletiva, alienação, polarização, extremismos inconsequentes, fanatismo, os quais geram vítimas. O Deus das religiões, o deus das ciências e por mais que a política seja uma ciência ou, em sua mais resoluta e simples tradução como sendo a "arte do bem comum", também produz o seu deus e este talvez seja o mais perigoso de todos, pois consegue manipular tanto as mentes "religiosas" quanto "científicas.


A religião deveria ser aquela que liberta a mente, que cura a alma. A ciência deveria ser aquela que liberta o corpo, que cura a matéria. A política deveria ser aquela que cuida de todos, sem distinção. Mas cada força desse tripé é controlado por pessoas que deturpam o objetivo real, e promovem "verdades" conforme sua própria intenção, necessidade, proteção de seus asseclas e no fim, o que deveria ser para todos torna-se uma megaprodução para poucos e uma retaliação para os que divergirem. 


Deus foi sequestrado em nome do deus do poder. A ciência foi prejudicada em nome do deus do poder. A política há muito deixou de ser a arte do bem comum para ser fonte de autoritarismo de quem está no poder que, como tal, usa o mesmo poder para proteger os comparsas à sua volta. Uma guerra de interesses onde a tirania assume um papel de mocinho e salvador, aliciando para si os deuses do poder.


Deus mesmo, continua sendo esquecido, encarcerado, morrendo nas esquinas, nas favelas, marginalizado. Deus, sendo amor, está deturpado até mesmo nos altares dos vendilhões e "mestres da lei". Vendem por aí os milagres da fé tanto quanto os da ciência, mas o milagre do amor ao próximo, muito mais real e necessário, já não existe nem nas tábuas dos mandamentos desses senhorios. 



segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Potência e Autonomia de si



Nasce sob holofotes de silêncio, dor e solidão

O menino do reflexo no espelho que sorria

De um novo eu que já fora inteiro, 

Partiu em pedaços, tornou-se sobras

E que agora renasce entre escombros de castelos de areia

E paisagens desconhecidas e inabitadas rumo ao topo da montanha

Estações de travessias que registraram sentimentos

Ajuntando cacos, curando feridas e guardando cicatrizes

A dor do renascimento é maior que a do próprio parto

O medo da infância não supera o medo do desconhecido na experiência

Dentro dessa cela que me aprisiona em vidas

Esse novo eu é capaz de suportar traído e traidor, inocente e culpado

A luta é para permanecer vivo para alguém

Por amor, pelo amor, para o amor

Quero ser especialista de mim, desse eu de travessias

Desse eu transformado, marcado, dedicado

Que a beleza da tristeza seja sinônimo de força e sensibilidade

Coragem para as lutas

Em minhas pegadas pelas trilhas dessa jornada

Ficaram marcas vermelhas pelo caminho

Hora de amor, hora de sangue

As lágrimas do choro a só 

Era o mais puro e límpido que jorrava

Os meus inimigos sempre foram meus maiores mestres

E dentre estes, estava também o meu eu, 

O que ignorava minha realidade e sentimentos

Busco, luto, me derramo pela potência e autonomia de si

Numa espécie de libertação constante das prisões por onde passei

Meu ponto de desembarque final será tão somente

Quando não houver mais amor...

Enquanto isso...

"Ninguém deve deixar essa vida sem uma sensação de completude." (Sherlock Holmes)


Crítica: "Dahmer"



"Dahmer"... Respirar fundo é preciso...

Uma pausa para analisar a história recontada nessa série. É macabro, surreal, triste, carregado de angústia, dor, crueldade e ao mesmo tempo, com ausência de empatia, de sentimentos, de humanidade... Se é angustiante assistir, tento imaginar como deve ter sido a sobrevivência dos familiares das vítimas. Tento imaginar como cada uma delas passou suas últimas horas nas mãos de Jeffrey Dahmer. Porém, me abstenho de comentar o que já está bem explicitado em cada um dos 10 episódios da série da Netflix.

Em termos de estudo, para o aprendizado através das ciências que investigam comportamentos como o de Dahmer, vale a pena se atentar. Não dá para olhar com olhos clínicos somente sem se comover pelo lado humano. É um mix de sentimentos que envolvem ao telespectador. 

Da história em si guardo apenas o memorial de fotos das vítimas exposto no final do último episódio. 17 vidas ceifadas, carregadas de sonhos, desejos... Jovens que foram ludibriados por uma mente perturbada e ou maligna e a seguiram para um triste fim.

Atentei-me para um fato que foi contado nessa história e que, não sei se foi perceptível por outros olhares mas, o quanto algumas pessoas se sentiram envolvidas e atraídas por Dahmer após ele ter sido preso. A quantidade de cartas de pessoas que se declaravam como fãs e seguidores era enorme. A maldade também atrai adeptos, mesmo que seja uma maldade que esconde diversos transtornos. 

Transfiro agora para a atual realidade em que vivemos uma acirrada "briga" política. Pretendo ser objetivo em minhas colocações. O bem inspira o bem tanto quanto o mal conquista seguidores. Levando em consideração o tipo de discurso que ouvimos dos candidatos e seus seguidores é nítido entender quem prega paz e quem prega guerra, quem distribui valores e quem escancara manifestações de ódio. 

A exemplo de seus líderes, os seguidores tendem a extremizar aquilo que fica explícito nos discursos e nas ações. Até mesmo a forma de se referir ao adversário, de forma pejorativa e negativa, pode estimular de crianças a idosos. Como combater o bulling nas escolas se temos candidato que trata o outro com falta de respeito? Como combater a violência se o mesmo incita seus seguidores a "metralhar" os do adversário? Como lutar pelas minorias, pelas mulheres, se o mesmo faz piadas, desrespeita e passa um péssimo exemplo à sociedade?

Dahmer ficou conhecido como um serial killer que dopava suas vítimas, praticava alguns procedimentos considerados bárbaros e depois delas mortas praticava o canibalismo. Ainda assim, diante de tantas histórias de perversidade pelas quais suas vítimas passaram, encontrou fãs e seguidores que o idolatravam. 

Hoje, diante do que vemos e ouvimos através de uma análise de conjuntura na política nacional, bem como somos vistos por entidades internacionais de renome e até por líderes de outros países, podemos comparar que o mal, em suas mais diversas formas, atrai seguidores fiéis que estão dispostos a matar em nome de sua nefasta ideologia. 

Nessa era de explícita tecnologia, a desinformação é o carro chefe de quem joga sujo. A polarização chega ao ponto extremo de inventar mentiras para confundir quem não entende e ao mesmo ponto serve para escancarar o mal que habita no lado sombrio do humano mas que agora encontrou um porta-voz que dá liberdade e proteção para seus asseclas cometerem as mais diversas atrocidades. 

A diferença entre Dahmer e um certo candidato brasileiro é que o serial killer matou 17 pessoas enquanto que o "tal" pratica crimes de todas as formas possíveis, seja por ação, omissão, incentivo ao ódio que resulta em ataques contra opositores, acobertamento de seus comparsas, e uma ditadura velada, sem contar as ameaças às mais diversas instituições de poder. O crápula deixou um rastro de mortos, simplesmente por necessidade particular de boicotar as vacinas...


quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Os demônios do pós-guerra


Um momento de pós-guerra. Essa é a sensação que mistura esperança e medo. Esperança de que tudo possa melhorar e medo de que as variações pandêmicas possam ressurgir e causar nova devassidão. Pois sim, fomos devastados, dizimados e derrotados em certo momento. Já estivemos no caos. As ruínas que ficaram não são herança de explosões causadas pela pólvora e tecnologias de guerra. São sentimentos de impotência frente a tantas vidas ceifadas. Tempos trancafiados em nosso próprio reduto, convivendo com todos os nossos demônios interiores, sem ter como fugir do ambiente para ao menos respirar um ar fresco, causou danos e trouxe à tona fragilidades e novos demônios. Não bastasse, em muitos ambientes o espaço era divido com outras pessoas, as quais também expunham seus próprios conflitos. Muitos não se abalaram, não sofreram, mantiveram seu status e nem sequer se compadeceram pelas vidas alheias. Retrato de um momento proporcionado por desumanos desalmados que detêm o poder para si. Políticos, religiosos, líderes sem empatia, que em seu cargo e posição a que foram destinados, utilizam tal poder em benefício próprio. Impossível permanecer igual. Impossível sair desse campo de batalha do jeito ao qual entramos. O pós-guerra deixa consequências, além de feridas incuráveis e cicatrizes eternas. Você até pode deixar o campo de batalha e a guerra em si, mas eles jamais sairão de você. É preciso reaprender a conviver com o caos, as perdas, as dores, as ruínas e a morte. É preciso reaprender a viver e isso é urgente. Pois, uma vez que isso não acontecer, estará fadado a continuar uma guerra solo dentro de você. A solidão a dois, a quatro ou mais pessoas, vivenciada no pico da guerra pandêmica foi uma experiência necessária pela sobrevivência e contenção de danos. Uma prisão com portas e janelas trancadas por dentro. Todos têm acesso mas ninguém pode sair. Não se deve sair. Fobias, transtornos e doenças várias que surgiram e ou cresceram junto com o medo e a incerteza. Abraçar nunca foi tão necessário e urgente. Máscaras externas para se proteger de um inimigo letal se contrapunham com as máscaras maquiadas de hipocrisia que os poderosos, oportunistas e medíocres deixaram cair propositalmente. Os demônios do pós-guerra ainda vivem, mesmo que silenciados em algum canto do nosso campo caótico. E, muitas vezes, para continuar a jornada será necessário retornar às ruínas da batalha e refazer o percurso. 

domingo, 4 de setembro de 2022

Crítica: "A desordem que ficou"



Professora: "Morrer é uma arte. Como tudo, eu faço isso excepcionalmente bem. Tão bem que parece o inferno. Tão bem que parece real. Suponho que poderia chamar de vocação." - Sylvia Plath.
- O que ela pretende com esses versos? Seria um grito de socorro? Está anunciando a sua morte?

O trecho acima refere-se à série "A desordem que ficou". As falas incitam curiosidade e pesquisa. A morte  em si causa espanto, curiosidade sobre o que vem depois e, óbvio, insegurança, medo. Até os mais céticos se rendem ao tema morte. As religiões explicam às suas maneiras e o que move as pessoas é a fé, a crença. 

Dentre tudo o que se expressa e afirmam por aí sobre a morte acredito que a arte é a maneira mais leve, pura e não deixa de ser uma verdade carregada de esperança para elucidar esse rito, esse mito, essa passagem. A poesia por exemplo é capaz de ir além do que a religião afirma e do que a ciência propõe. Ela pode caminhar sem peso nem culpa lado a lado com ambas e ainda assim tecer o seu próprio meio para explanar sua verdade.

Particularmente acredito que a morte não possa ser o fim de todas as coisas. Acredito também que a nossa memória persiste como um legado no coração daqueles que amamos. Tornamo-nos histórias recontadas entre risos e lágrimas que, com o tempo, vai se apagando lentamente neste plano. Em algum lugar, ainda nos encontraremos...

sábado, 3 de setembro de 2022

A rainha e o plebeu em Lótina



O conto era de fadas 
Mas somente quando a rainha fugia para a cabana de seu amante 
Uma vez que ela insinuou para ele ir vê-la, 
correndo todo tipo de risco por entre os cercados de seu castelo, 
mudou de ideia instantaneamente 
quando percebeu sua coragem ao nota-lo em sua porta 
Ignorou-o e o deixou ao relento
Rainha e plebeu ou a dama e o vagabundo, não importa! 
O que separa o verdadeiro do irreal ainda é o material. 
Esse fato sempre existiu e assim continua sendo...

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Por medos


Por medo de te perder
Por medo de não te ter
Me sucumbi
Me libertei
Das algemas que eu criei
Quando me coloquei aos teus pés
Quando fui atingido pelo teu olhar

Entre meus medos 
Não podia ser o medo de te perder
Porque eu nunca te tive
Da forma que eu gostaria de ter
Por medo de te perder
Eu nunca te tive mas sempre quis
Mas sempre tive medo
Medo de não te não ter mais
Medo de nunca te ter
Medo de perder o que eu nunca tive

E o medo faz a gente fazer coisas
Coisas que a gente não gostaria de fazer
Para não magoar aquela pessoa
Que você gostaria de ter
O medo e a coragem são irmãos gêmeos
Necessários para toda e qualquer sobrevivência
Agimos com coragem ou a coragem pelo medo
A coragem transformada pelo medo

Pelo medo de perder
Pelo medo de sofrer
Pelo medo de viver refém
Daquilo que eu nunca pude ter
E do mesmo jeito eu só tive dentro do meu ser
No meu pensamento entre meu tempo e meus tormentos
Esse medo chega como vento,
Varre, estraga, leva, tudo aquilo que não tem alicerce
Meu medo, meu segredo, minha coragem

Por todos os meus medos
Eu não quis ficar refém
Desse segredo de amar em segredo
Por todos os meus medos 
Eu não te esperei
Eu adiantei o sofrimento que um dia poderia me deter
Por todos os meus medos eu corri
Pra você, por você, de você
Eu corri!
E eu sei que te perdi
Mas perdi aquilo que eu nunca pude ter

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Broto de poesia




E percebi, apenas percebi
que a poesia não se inspira 
sob o efeito deturpado do visível
ela brota do desejo da alma
que clama e espera no tempo,
um tempo não cronometrado,
por quem traz na leveza do olhar
o incompreendido a qualquer olho nu
a poesia brota consciente,
inconsciente, no sonho acordado
ou pesado
Poesia e amor andam juntos
Amor é poesia, prosa, silêncio...