sexta-feira, 14 de outubro de 2022

O sequestro de Deus


As ciências que discorrem sobre a fé. A fé que atesta a ciência. Assim deveria ser, mas não é. Há mais que uma disputa de devotos e torcidas entre os opostos e divergentes. A briga é por uma verdade que ninguém detém. Verdade empurrada, à força, que soa mais como necessidade de impor e mostrar poder. Ganância pelo próprio poder. O poder que proporciona status. E para se impor, com poder, é necessário causar medo. E o medo aliena. E quando se aliena, qualquer mazela dita como "verdade", mesmo que não o seja, acaba sendo única, seja ela religiosa ou científica. Uma verdadeira deturpação de valores. 

Quando a necessidade de mostrar poder e força estão acima do bem comum, há no contexto um grande sinal de desvio de finalidade e, nos porta-vozes da alienação, um medo maior de perder o controle, o poder, e todas as regalias que o mesmo proporciona. 


Falamos aqui não apenas do sequestro de Deus através da religião, da fé ou mesmo da teologia que tem "Deus" como objeto de estudo mas, de todo os deuses pré-fabricados por quem deveria usar o "poder" para libertar e não alienar. As ciências, as políticas e todo tipo de radicalização que produz cegueira coletiva, alienação, polarização, extremismos inconsequentes, fanatismo, os quais geram vítimas. O Deus das religiões, o deus das ciências e por mais que a política seja uma ciência ou, em sua mais resoluta e simples tradução como sendo a "arte do bem comum", também produz o seu deus e este talvez seja o mais perigoso de todos, pois consegue manipular tanto as mentes "religiosas" quanto "científicas.


A religião deveria ser aquela que liberta a mente, que cura a alma. A ciência deveria ser aquela que liberta o corpo, que cura a matéria. A política deveria ser aquela que cuida de todos, sem distinção. Mas cada força desse tripé é controlado por pessoas que deturpam o objetivo real, e promovem "verdades" conforme sua própria intenção, necessidade, proteção de seus asseclas e no fim, o que deveria ser para todos torna-se uma megaprodução para poucos e uma retaliação para os que divergirem. 


Deus foi sequestrado em nome do deus do poder. A ciência foi prejudicada em nome do deus do poder. A política há muito deixou de ser a arte do bem comum para ser fonte de autoritarismo de quem está no poder que, como tal, usa o mesmo poder para proteger os comparsas à sua volta. Uma guerra de interesses onde a tirania assume um papel de mocinho e salvador, aliciando para si os deuses do poder.


Deus mesmo, continua sendo esquecido, encarcerado, morrendo nas esquinas, nas favelas, marginalizado. Deus, sendo amor, está deturpado até mesmo nos altares dos vendilhões e "mestres da lei". Vendem por aí os milagres da fé tanto quanto os da ciência, mas o milagre do amor ao próximo, muito mais real e necessário, já não existe nem nas tábuas dos mandamentos desses senhorios.