"A realeza inalcançável, a nobre corte inatingível, os
vassalos, o povo e a Verdade."
Vivia a realeza inalcançável no seu castelo adornado de ouro,
protegido por guardas e cercado de fieis sanguessugas, a nobre corte
inatingível que apenas comandava de suas sub-salas secretas as decisões a serem
tomadas mundo afora por além dos muros da fortaleza.
Os
vassalos, espalhados pelo mundo, tratavam de difundir as regras impostas de
cima para baixo. Os que ousavam questionar atos e atitudes ou gerar pensamentos
que contestassem condutas impróprias e o próprio acúmulo de riquezas por parte
da realeza e sua corte eram considerados desertores, subversivos e, por vezes,
caçados, castigados e condenados às mais diversas formas de fogueira.
O
povo, sempre a caminhar por caminhos difíceis, entre alienadores,
massificadores, exterminadores e poucos libertadores que, em sua maioria, sempre foram perseguidos pelo alto
escalão do poder. Ele, sempre ficou à mercê das mais diversas formas de
verdades deturpadas pelos, então, homens da fé. Poucos se libertaram, muitos se
perderam, muito mais foram condenados por conta de discordarem.
Os
auto-elegidos e ditos detentores da verdade sempre mantiveram-se como única
forma de verdade herdada diretamente do céu para a repassarem à terra e gozaram dessa reputação
histórica para então extrapolar os limites do homem, manter o status de
caminho seguro, manter inabalável a instituição hierárquica e pior, manter
sob sua custódia a mente e a alma de cada ser vivente, massificados pelas
palavras proferidas e oriundas do poder. A verdade, nesse patamar hierárquico,
era muito mais vaidade e poder que palavra libertadora.
...E
a verdade vos libertará! Longe da verdade mundana se igualar à verdadeira
Palavra Libertadora do Homem de Nazaré. Longe desses doutores em leis,
inquisidores auto-santificados em poder e ouro serem porta-voz da verdadeira
Verdade! A vaidade assola, antes de qualquer coisa, ao coração de cada poderoso
chefão.
Um
dia, essa realeza, sensata, descobriu o poder paralelo existente nos redutos do
castelo. Poder este que brigava por mais poder e escondia a podridão dos homens
que se diziam de boa fé. Então, ela renunciou... e deixou ao sucessor o dever
da faxina geral...