A regra dos homens X O amor de Deus.
Imaginem que só fosse considerado cristão aquele que soubesse e
também respeitasse as regras estabelecidas por sua igreja, por sua religião. No
meu caso, como Cristão Católico, existe o CIC - Catecismo da Igreja Católica -
com quase 3.000 páginas para nortear, levando em conta a necessidade
do respeito à comunidade, à localidade, à realidade e à cultura. Não deve nem
pode ser um mecanismo engessado. Isso acabaria por sentenciar a diversidade a
uma massa falida e não pensante, ou seja, totalmente alienada.
Jesus, ultrapassou as regras para o bem comum. Ponto. Soltou o
chicote no Templo quando os ambulantes faziam daquele lugar sagrado uma
verdadeira feira livre. Os doutores da Lei é que deveriam cuidar desse detalhe
mas não! Quem revirou as bancas, esbravejou, gritou foi o
simples Nazareno, filho do carpinteiro José.
Ao se criar um extenso livro com itens e sub-itens, creio eu, a
intenção seria muito mais para que a Igreja como um todo pudesse caminhar com
proximidade. Mas, o que ocorre é que estudiosos e entendidos usam as regras da
igreja para classificar quem é digno e está de acordo com a doutrina e quem é
herege por descumpri-las.
A regra de Deus: o Amor! Pronto. Ponto. Seguindo as pegadas do
Nazareno, que foi considerado um blasfemador, um herege, um possuído por
espíritos malignos, entendemos que tudo se resume no amor ao Pai, o Deus
criador, e ao próximo, imagem e semelhança do Pai.
"A Lei de Moisés manda que apedrejemos essa mulher pega em
adultério e tu, o que dizes?" Perguntaram os homens da lei ao
revolucionário Jesus. "Quem não tem pecado que atire a primeira
pedra!" Respondeu o Nazareno. O desfecho dessa história todos sabem. Dos
mais velhos aos mais novos, cada um foi soltando sua pedra e retirando-se do
local. Ficaram apenas Ele, o libertador, e a adúltera sentenciada. A lição
foi o amor. O amor acima da regra. O amor acima da lei. Na verdade pode ter
sido uma conspiração armada pelos doutores para pegar Jesus e o contradizê-Lo na
frente do povo. O amor venceu!
"Este homem desobedece a Lei de Moisés, pois curou um homem
em dia de sábado!" E mais uma vez, os importunados e orgulhosos
escalonados da Lei, mestres e fariseus, destilavam sua ira e conspiravam numa
trama que teria seu desfecho na prisão, condenação e morte de Cruz ao
"classificado" agitador que para nós é o Filho do Amor. Amor e
perdão. O Filho de Deus, Jesus.
Jesus em sua essência, viveu a regra do amor-obediência ao Pai e
amor-perdão ao próximo, os irmãos. Se Jesus chegasse agora e agitasse nosso
meio revirando bancas, questionando regras impostas que mais servem para
classificar e excluir que à instigar uma caminhada coesa em unidade e respeito para com a diversidade, com certeza seria novamente crucificado e em praça pública. A condenação seria
inevitável!
Os mestres da lei vivem por conta da classificação. A sentenciação
acontece nas bancas de cada Templo. A condenação é destilada pelos lábios dos
que se põem a serviço. Do encontro com os olhares, entre sentenciadores e
sentenciados, as cusparadas, pedradas e zombarias continuam até o calvário. As
vozes cessam quando a morte parece vitoriosa. Excluídos pelas regras e pelos
olhares, as pessoas deixam de caminhar rumo à Comunhão com o Cristo, que já
percorrera e pagara o preço por todos nós.
O Amor de Deus sempre vence! Cristo venceu a morte! Jesus é o
Filho de Deus! Deus é amor! Jesus é o amor! No caminho que os pés percorrem até
o encontro maior com o Cristo, o crucificado, morto e ressuscitado, cabe a cada
um a entrega e o comprometimento de querer, no raiar de cada manhã, ser alguém
melhor do que fora outrora. Como imperfeitos pecadores, os erros, as falhas, tudo
acontecerá e por vezes poderemos tropeçar na mesma pedra. Vale-nos a conversão
diária que nos instiga a ser e viver esse amor e a não correr o risco de morrer
sem ter havido alguma mudança em si.
Religião: justificação ou contradição? Nem uma nem outra. Ela tem
que ser o caminho, as próprias pegadas do Cristo, o Jesus, o Nazareno, filho do
carpinteiro, agitador, revolucionário, libertador enviado por seu Pai, o Deus
do Amor para viver e morrer por esse Amor...
Enquanto as regras dos homens forem usadas para uma classificação
de falsa moral que resulta na exclusão de pessoas, detona a dignidade alheia e
transforma o sentenciado em pobre diabo, a Igreja estará longe de ser caminho
de libertação e salvação.
"Proibido fazer milagres em dia de sábado"
ainda é lei vigente em tempos atuais. Que Francisco não se curve aos homens e
suas regras! Que ele solte o chicote no trono e na realeza e caminhe conosco
rumo ao horizonte do Amor. Que o Templo esteja aberto e se torne fonte de
Libertação! Jamais de exclusão! E, que os resquícios farisaicos, a começar dos
mais velhos, joguem suas pedras e retornem aos seus lugares!