"Vóóó! Faz um viradinho pra mim?!" Levantava-se "correndinho" e em menos de dez minutos estava já no prato aquele mexido com feijão e farinha, que só a Vó Cida tinha a arte em fazer. Receita que ninguém conseguiu copiar. O sabor do tempero ficou na saudade...
Domingo. "Nego, tira o
"arroiz" pelos ladinhos porque o seu pai gosta de tirar ele mais
soltinho por cima!" Onze horas da manhã já estava praticamente tudo
pronto. "Não coloca limão na salada porque o Berto gosta sem tempero. Liga
lá na casa deles que eu quero saber se eles vem pra comer aqui!"
"Oi! Cêis vem logo porque senão a comida esfria!" Dois frangos refogados num sabor também inigualável. Uma baciada de macarronada e uma pratada de bifes ou bistecas. "O Derci gosta mais de frango, mas o Berto gosta de bife." Esse era o ritual sagrado de cada domingo.
"Oi! Cêis vem logo porque senão a comida esfria!" Dois frangos refogados num sabor também inigualável. Uma baciada de macarronada e uma pratada de bifes ou bistecas. "O Derci gosta mais de frango, mas o Berto gosta de bife." Esse era o ritual sagrado de cada domingo.
Caso alguém passasse lá durante a
semana e fora de hora, em questão de minutos a mesa estava posta. Se fosse por
volta das duas ou três horas da tarde seria um café feito na hora. Rapidinho
ela corria até a padaria mais próxima e trazia pães e mortadela. Mas, se o
relógio beirasse as dezessete horas seria uma jantinha básica com direito a uma
carne moída fresquinha, batata frita para as crianças e uma coca-cola, sempre
reservada na geladeira para momentos inusitados. Deixava as visitas lá e já
corria comprar e preparar os comes.
"Tem doce de côco na
geladeira!" Era um dos poucos que o Vô Dito gostava... De poucas
conversas, foi se abrindo mais desde que a Vó Cida se foi. Ambos, gostavam de
músicas sertanejas de raiz, conhecidas pelo casal como "caipiras". Vó
Cida sempre que podia escutava essas melodias que a instigava a dançar com sua
vassoura na cozinha. Vez ou outra ela tentava me ensinar mas além de
achar muita graça não tinha então o gingado que ela esperava. Preferia a
vassoura mesmo, que podia conduzi-la conforme o ritmo da música.
"Vó, dá dinheiro pra gente
comprar um sorvete?!" Lá ia ela pegar umas notas, sempre guardadas em
diversos lugares. Tinha até um copinho de moedas na prateleira da cozinha
reservado para os netos. "Toma aqui! Traz um de côco pra mim!" Côco,
era esse o único sabor que ela gostava.
Cada momento desses que ficou na dor da ausência tornou-se imortal na memória. Lembrança sagrada eternizada no tempo, no sabor de cada tempero e na saudade...
Cada momento desses que ficou na dor da ausência tornou-se imortal na memória. Lembrança sagrada eternizada no tempo, no sabor de cada tempero e na saudade...
Ao redor da mesa, os netos mais
velhos, eu e meu primo Kleber, aguardávamos as batatas fritas que acompanhavam
um prato de arroz com feijão e carne moída. Tudo junto e misturado. Cada qual
com sua colher partilhava no mesmo prato o sabor da simplicidade transformada
na melhor comida do mundo...