Pelos lugares onde passo, observo e sinto uma
familiaridade no ar, tal qual aquela saudosa sensação da infância. Dia de
domingo, as pessoas perambulam sem pressa pelas ruas e calçadas do bairro. Um
sol timidamente quente arde a pele de quem o encara. Em contraposto o ar frio
das sombras chega cortante numa brisa que teima sem se tornar vento forte.
Carros com seus sons altíssimos e suas rodas
rebaixadas fazem um passeio lento e incomodante. Cruzam lombadas numa lentidão
que tira a paciência até mesmo das tartarugas. As motos, com seus escapamentos
potentes ou sem eles arrebentam o pouco do silêncio que ainda resta.
Há terremos, baldios, verdadeiros depósitos
de lixo. A educação e a falta de senso e responsabilidade social e higiênica
impera. Há quem se salve neste processo mundano sei lei.
Não há uma única moda nas ruas, estas que se tornam
passarelas a céu aberto. Os desfilares são bonitos, em sua maioria, esquisitos.
A moda predominante é a liberdade de se sentir à vontade num lugar que seja
"seu". O bairro tem essa magia, esse poder de dar a sensação de
liberdade, coisa que nos grandes centros não acontece. A liberdade é tanta que
as mínimas regras de boa convivência, por vezes, ficam esquecidas.
Os meninos e meninas do tráfico são figuras
fáceis nas noites solitárias. Seus pontos já são bem conhecidos por todos os
habitantes do local. Ninguém mexe com ninguém. O pessoal levado da breca vive
um sub-mundo à parte do mundo em questão. Nem mesmo a política nem a polícia
põem fim ao esquema. O esquema é literalmente forte.
Pelas manhãs, traficantes que também são
usuários ziguezagueiam feito zumbis. Há os super-sinceros que pedem dinheiro e
já o dizem a finalidade: "sim, é pra comprar um baseado."
A praça, com grama e árvores, (faltam
flores!), poucos bancos, vez ou outra tem suas sarjetas repintadas de
branco para, no mínimo, dar um ar de bem cuidada. Os caras-de-pau que pediram
votos nos templos sumiram!
Ela (a praça), é também lugar não só de
famílias mas o ponto de encontro, da compra e venda de drogas. Brinquedos não
resistem, não existem. Não existe quem volte os olhos para os bairros,
principalmente os mais afastados.
Um jogo de futebol amador acontece no campo.
Várias pessoas assistem. O tiozinho do espetinho serve um assadinho com cerveja
aos torcedores. Lembrança das vezes que ia ao estádio com meu avô Joaquim...
Diferentemente dos shoppings, aqui a moda é
outra. Não há a necessidade de se usar muita máscara, roupagens modernamente
medievais, muito menos em se falar corretamente. Aqui, a vida simples,
simplesmente acontece.