Foi assim
Foste meu
Foste tudo
O alicerce e o muro
Até que desfez o meu mundo
Foste para mim
O bom homem e amigo
O versátil e sabido
Tão justo e tranquilo
Meu herói mas também bandido
Na solidão do deserto
Em que te quis tão perto
E me trancafiava em pensamento
Entre sua ausência e meus lamentos
Aguardando um desfecho incerto
Quis pagar-lhe em vida a minha morte
Tamanha minha dor de ti nesse corte
Deixando-lhe na penumbra de sua (in)
consciência encarcerada
Com os horrores do peso de sua ausência
gelada
A lhe atormentar pelo o tempo de sua
eterna jornada
Não quis assim a vida
Foi preciso virar a página sofrida
Aproximar do teu calor
Pra sentir outra vez o teu amor
E entender que tu jamais deixou de receber o meu valor
Não sei se foi uma religiosa profecia
Se foi o tempo, maturidade ou magia
Mas posso lhe dizer, meu pai, que a
vida é poesia
E nesses versos que em monólogo eu
proseio
Você foi partida, foi meu fim e é o meu
precioso meio
Descobri nesse novo tempo
Que minhas dores e meus lamentos
Era a incerteza de querer teus braços
A saudade em nó sem laço
E tua figura pra reafirmar meus passos
Nosso reencontro foi mais que alegria
Foi conhecimento, foi respeito, cerveja
e companhia
Foi crescimento, foi perdão, emoção e poesia
Que depois da espera do tempo sofrido
Valeu cada segundo vivido e merecido
Sou de ti, meu pai, um admirador
Que extraiu do silêncio e da dor
O que há de mais sincero para lhe
dedicar meu amor
De ti, muito mais que lembrança e
saudade
Novo tempo, esperança e amizade...
Ao meu pai Derci Domingues de Oliveira