Por trás da cortina
o palhaço chora. Encerra-se o espetáculo. As risadas dão lugar ao
silêncio. Sepulcro da solidão do artista. É hora de protagonizar sua
própria vida. Desembarcar do mundo das alegrias e sem dores para confrontar a
realidade nua. Por trás da maquiagem que sorri estão as lágrimas
cristalizadas. Estas que aguardam o toque de recolher do palhaço para escorrer
pelos vincos faciais do humano. Na peça da vida, a vida torna-se uma peça.
Sentidos dessentidos, não sentidos, sem sentido talvez. Se o mundo fosse
verdadeiro a alegria dos palcos seria desnecessária. Prefiro deleitar-me
com a realidade que as cenas levam ao palco a perder-me na inquietude que o
mundo falseia em alegria. Por trás de cada ato, ecoa a imensidão do
abstrato que o palhaço eterniza para o mundo.