Que a fé ainda é objeto de estudos e de especulações, tamanha sua capacidade de alterar o estado emocional e motivacional de uma pessoa e, consequentemente, sua maneira de encarar a própria realidade, não há o que questionar. A fé no sagrado pode ser considerada um meio eficaz para a pessoa em busca de mudanças em seu próprio ser bem como o único "meio" para depositar sua esperança diante das variadas impossibilidades que surgem em sua vida. Infelizmente ela tornou-se também alvo de exploração por parte das grandes instituições religiosas sobre as pessoas de baixa renda.
Somos criados, na maioria dos casos, sob uma estrutura religiosa que é
passada de geração em geração. Somos batizados enquanto crianças sem a opção de
fazer a livre escolha, no caso dos católicos, ou, no caso dos evangélicos, após
uma certa maturidade que lhe permita escolher, porém, não é uma escolha
totalmente livre, uma vez que o ambiente familiar e os vários círculos
religiosos influenciam sumariamente tal decisão. E é óbvio que o batismo
ocorrerá.
Mas o fato de ser batizado para estar devidamente inserido na comunidade
religiosa e assim fazer parte desse "grande corpo espiritual" e poder
crescer sob a tutela institucional da moral religiosa não é o objeto da
discussão. Amadurecer sob os pilares religiosos é, de certa forma, crescer numa
zona de conforto e o problema real que levará às mais diversas crises,
principalmente a de fé, será quando for necessário direcionar os passos para
além desse reduto de conforto. E é fora do alcance das sombras religiosas que
as regras básicas institucionais, que envolvem fé e moral, serão testadas. Esta
será então uma nova zona, a zona de impacto.
As instituições de fé, de maneira geral, tendem a podar o ser humano com
regras por vezes exageradas. Algumas dessas regras são datadas anterior à idade
média, portanto, arcaicas. Uma grande dificuldade para o "fiel" pode
ser a de ter que carregar uma enciclopédia de leis e coloca-las em prática em
pleno século XXI, exigência essa totalmente institucional. Há uma disparidade
que permeia a distância entre o berço de fé do indivíduo e o seu atual espaço
de convívio e nesse vácuo surgem os conflitos de fé.
Quem nunca se sentiu um animal com tapa olhos quando, diante de novos
entendimentos e compreensões sobre determinados assuntos, percebe que muito do
que foi dito e imposto no ambiente religioso e familiar era um mero engano e um
exagero em nome da fé? Claro que há alternativas para se compreender melhor uma
vez que tais enganos e exageros podem ser frutos de uma consciência inocente ou
ignorante tanto por parte de quem expõe como de quem interpreta.