terça-feira, 3 de setembro de 2019

Como posso me calar?

"Como posso me calar? Como posso me calar?
Como posso me calar? Como posso me calar?
Semblante de um povo oprimido
Crianças sem vida e sem lar
Milhares de jovens perdidos
Cansados com medo de amar
Meu grito, calar não consigo
Minha voz ninguém vai abafar"
(Música: Como posso me calar - Roberto Merli)

Quando um cenário como esse não faz mais diferença aos olhos de quem passa perto, com certeza a frieza do mundo já consumiu grande parte do humano que habita o corpo. Não faço aqui um chamado para caridades paliativas, do tipo esmola em forma de trocados que sobram na carteira, mas para o que a raça humana tem se tornado em nome do lucro, do status e do poder, tentáculos estes daquilo que chamamos de capitalismo. É certo e verdadeiro que pessoas que habitam em condições subumanas como essa, à margem da sociedade, precisam sim de apoio material, financeiro, bem como de cuidados com a saúde do corpo e da mente.

Algumas parcelas da sociedade, principalmente políticas e religiosas, necessitam de situações como essa para esbanjar seu marketing. Parar e resolver a situação é uma questão que raramente se vê e tampouco se sabe. Algumas pseudorreligiões consideram que tais pessoas são vítimas de sua própria falta de fé em Deus, ou seja, vivem à margem como um castigo divino. Utilizar deste subterfúgio é algo digno dos falsos profetas que utilizam do mercado da fé para enriquecerem seus cofres. 

Na política, segundo uma nova onda de pensamento ultra radical e conservador, que tem colocado em pauta que tudo é uma questão de meritocracia, as vítimas da pobreza e da miséria não se esforçaram o suficiente para romperem as barreiras sociais e o prêmio seria continuar vivendo no submundo e anonimato sociais, sendo tratados como lixo, escória, sem méritos e não abençoados...

A mentalidade humana está mudando, enrijecendo de tanta frieza e falta de empatia com o próximo. Nem digo falta de amor, porque isso já deixou de ter faz tempo. Respeito então, é algo que existe no dicionário de raríssimas pessoas. Não demora muito e os habitantes dessa morada, das fotos aqui apresentadas, serão expulsos daquele lugar. Bem ali, onde eles sobrevivem, seria a entrada de veículos de uma empresa já fechada. Sim, eles serão expulsos porque simplesmente estão poluindo uma pequena parte do cenário urbano e incomodando aqueles "cidadãos de bem" que passam por ali, de carro, na ida ou na volta de seus trabalhos ou passeios.

Ao ver e rever essas imagens o único pensamento foi de indignação e também de questionamento. Por isso, um trecho da música "Como posso me calar?" acompanha a primeira imagem e também é o título desse texto. Infelizmente essa é a única forma disponível no momento para que, primeiramente, eu jamais deixe de perceber e enxergar não apenas o cenário mas os protagonistas que ali sobrevivem e assim não me torne mais uma alma fria a vagar pelo mundo do ter. E por último, que outras pessoas também se deem conta que nem a política e nem a religião será capaz de mudar o mundo se seu coração não for capaz de ter pequenas atitudes como simplesmente enxergar e respeitar.




*Fotos: Escritos em Tempos - A.D.O.
Ailton Domingues de Oliveira
Adm ∞ 
Teo ΑΩ 
Psic Ψ (acadêmico)
Escritor & Poeta