terça-feira, 27 de março de 2012

Crônica, simplesmente crônica

Crônica, simplesmente crônica...

E foi assim que tudo aconteceu...
De repente uma voz se dirigia a mim:
"Foi acidente? De moto?"
Sim. Sim. Respondi sem ver o rosto daquela senhora.
"Tá doendo? Você já avisou alguém da sua família?"
Mais uma vez: "Sim. Sim." Agora, não fiz muita questão de soltar o som da voz com naturalidade...
Fechei os olhos. Coloquei o braço direito sobre a testa e tentei demonstrar que tava a fim de silêncio.
Meu ombro esquerdo e peito doendo com a pancada, braço ralado, tudo incomodava, mas aquela voz parecia não ser a melhor coisa pra se ouvir no momento.
Faltava sitocômetro, semancol, ou sei lá que outro tipo de medidor e ou sintonizador de frequência de inconveniência, mesmo sem saber que estava sendo...
Ao mesmo tempo que ela me interrogava, tentava falar sobre o seu caso, o motivo de estar ali naquele pronto socorro...
Após a sessão de radiografia, volto à sala de espera, aguardando o resultado. Advinha? O único lugar disponível para se assentar era ao lado dela, daquela senhora.
Tentei ficar em pé, mas meu corpo estava desconfortável.
Vamos lá né! Encarar a dona!!! E dali ouvidos...
Ela fazia questão de falar: "Está doendo? Você vai ver quando esfriar! Você vai ver daqui dois dias... Você não vai aguentar!"
E assim ela fazia muita questão de mostrar seu braço, no momento sem gesso, na expectativa que eu perguntasse sobre o que haveria acontecido. Não o fiz! Mas perguntei seu nome.
Zuleica! Ai, dona Zuleica!
Fui pra outra sala, graças a Deus. Enquanto aguardava o médico chamar, advinha quem ressurge e justamente ao meu lado havia uma cadeira vazia?
A própria, dona Zuleica.
Meu Deus, o que queres que eu faça???
"Da nossa turma, só ficou eu e você", disse dona Zuzu...
Acredita? Eu já fazia parte da turma da dona Zu e não sabia...
"Ta vendo aquele casal com a criança? Pois é, a menininha levou uma mordida de cachorro"... E assim ela foi relatando o caso de quase todos os presentes ali... E tinha gente , viu?!
E assim foi que aconteceu...

Momentos antes, subia eu em direção ao trabalho, quando um carro me fechou.
Eu estava atrás dele, mas não deu tempo de freiar quando ele saiu da minha frente, mudando de pista, e voltou de repente com a intenção de estacionar ou entrar em algum lugar. Buzinei, freiei... não deu tempo!
Tal como caí, fiquei até a chegada do bombeiro. Por sorte o fato foi em frente a um batalhão da PM. Fui assistido e acompanhado o tempo todo. Não vi a cara do cidadão que me fechou.
Havia acabado de trocar o pneu e colocodo uma caixa no bagageiro para carregar os pertences.
Logo, logo, estava eu passeando no carro dos bombeiros...
Sensação estranha! Ver o mundo, em poucos segundos, sob a óptica horizontal do asfalto... Muitos pensamentos, muitos flash's, muitos rostos ressurgem na mente... E agora? Família, amigos, coração... Será meu fim?
Não, o plano de Deus é outro. Eu tinha tantos planos para esse dia, uma agenda cronometrada passo a passo, mas tudo foi mudado...
De repente, eis-me aqui, numa crônica com dona Zuleica...
Valeu! Obrigado, meu Deus por mais esse dia, por mais essa lição...

Ailton Domingues de Oliveira
28/03/12