quarta-feira, 22 de agosto de 2012

"Fragmentos"

 Engraçado! Com o passar do tempo adquirimos atitudes que muitas vezes criticamos em nossos pais ou avós, por considerarmos, de certa forma, desnecessários ou supérfluos. Sinais do tempo. Tempo que passou. Envelhecemos. E, que bom! Pois, permanecer como antes, sem o sabor do aprendizado, sem o gosto do levantar após o tombo significaria passar uma vida desapercebido de si, quiçá do mundo!

Quantas vezes, em tom de brincadeira ou sério, indagamos o porquê de tantas quinquilharias guardadas em forma de lembrança pelos nossos pais? Não foram poucas. Ah, mas esse menino levado chamado tempo, que concorre sempre em nossa desvantagem, nos ensina juntamente com a menina que chamamos de vida. E eis que essa dupla "tempo e vida", um casal perfeito, nos permite escorregarmos nas destiladas de nossa própria língua.

Cá estamos nós, juntando "trecos", quinquilharias, as ditas bagunças organizadas, que reservamos caixas e mais caixas de arquivos morto em uma dispensa, que uma vez a cada cinco anos no mínimo, abrimos uma a uma eliminando em gotas homeopáticas certos adendos. 

Pedras sem valor que se tornaram preciosas. Folhas secas de flores de um outono bem passado. Escritos sem nexos, sem conteúdo de pessoas que nem lembramos o rosto. Frases feitas anotadas em cadernos e que algumas ainda carregamos na memória. Personagens épicos recortados de revistas e colados em folhas soltas. Histórias de um tempo e de uma vida contadas em objetos que só nós, autores e protagonistas podemos lembrar e contar. 

A limpeza é necessária. A gente consegue guardar "bugiganga" que nunca vai ser necessária em nada. Apenas ocupação de espaço. Guardamos para "se" um dia precisar! E esse dia nunca chega ou se chega nem lembramos da existência de um parafuso guardado num vidro de azeitona vazio no fundo da gaveta do armário na dispensa que adentramos uma vez ao mês. E olha lá!

Com o envelhecimento, fazemos questão de carregar histórias além de objetos. Queremos manter sempre perto tudo aquilo que um dia nos fora bom, útil, fez-nos rir ou deixou saudades. E assim transferimos esses dotes para nossas futuras gerações que nos criticarão e depois, da mesma forma, ajuntarão "histórias".

Um dia, limparemos quase tudo. Quase tudo! Pois, na medida que nos desvencilhamos de coisas passadas outras novas tomam novos lugares. É quase que uma reciclagem de fragmentos em nossa história, no tempo e na vida.

O que salva, o que nos permite intactos na nossa própria história não são a quantidade de objetos que amontoamos durante nossas fases em vida. Aquilo que nos permite suspirar em tom de alegria ou tristeza, é simplesmente o que carregamos no baú da nossa memória. Objetos são interessantes para marcar época sim, bem como pessoas principalmente. Porém, viver desses fragmentos nos torna reféns de minúcias que não nos acrescentarão em nada neste tempo presente. 

Lembranças e limpezas. Tempo e Vida. Fragmentos de nossa história, em nossa memória selados. Tons que embelezam, entristecem, aproximam, distanciam, libertam ou aprisionam na dispensa do nosso ser. Na medida certa, tudo condiz para o bem da nossa estadia neste mundo.

Fragmentos...


Ailton Domingues de Oliveira
22/08/12