Eu caminhava pelo corredor rumo à saída. Precisava tomar um pouco de ar. Minha mãe já havia sido retirada do pronto-socorro e transferida para o leito de um quarto no hospital de João Pinheiro. A cem quilômetros de Brasilândia, cidade que minha irmã residia com seu marido e filhas até então e quase quatrocentos quilômetros de distância de Uberlândia, João Pinheiro, infelizmente, faz parte da estatística das cidades sem recursos à saúde, principalmente em casos em que a necessidade de um atendimento específico seja urgente.
Desde domingo a noite (23/11/14), quando ela foi socorrida e levada por meu cunhado Lucas e alguns vizinhos para para o pronto-socorro de Brasilândia e posteriormente até João Pinheiro, permanecia no quarto das emergências. A visão deste ambiente era das piores. Poucos profissionais tem um atendimento adequado e ao nível merecido de cada ser humano. Desses dias guardamos o nome do Dr. Ricardo e da enfermeira Eva pela dedicação e respeito.
Havia deixado minha mãe sob os cuidados da minha irmã. A pessoa que agora dividia o quarto com ela também havia sofrido um AVC, porém, suas condições eram bem piores. Apesar dos pesares e das fortes dores na cabeça, dona Claudete estava sem sequelas aparentes.
Eram dezesseis e cinquenta e cinco e eu seguia caminhando por aquele corredor repleto de imagens que conseguia visualizar através das portas entre-abertas. Cenas que não tem descrição. Sofrimento estampado no semblante de cada habitante de cada quarto.
Logo após seguir pela direita e depois para a esquerda avistei uma senhora de casaco branco, Ministra da Eucaristia, caminhando na minha direção. Carregava cuidadosamente, envolto numa toalhinha, o Corpo de Cristo. Com um sorriso singelo e tranquilo ela me abordou e disse: "Jesus vem até você te dar um abraço." Retribui o sorriso mas continuei meu caminhar à saída. Parei. Hesitei. Não podia mais continuar naquela direção e então voltei. Eu precisava retornar para dentro da capela, onde Ele se encontrava.
Era uma celebração simples mas profunda. Fui tocado de forma que não há explicação. Enquanto rezávamos o Pai-Nosso minha irmã vinha me contar algo: "Conseguimos o OK para a transferência da mãe para Uberlândia. Aguardamos apenas a chegada da enfermeira que irá acompanhando na ambulância." Foram quarenta e oito horas desde domingo. O quadro dela era estável e, apesar das dores que a deixavam inquieta, disse que queria assistir uma Missa na Nossa Senhora da Abadia, cidade de Romaria (MG).
Recebemos muito apoio e não tem como falar de cada um. Todos foram essenciais para chegarmos até aqui e continuam sendo especiais para nós. O que sei mesmo é que naquele momento em que Jesus Eucarístico passou por mim, sem eu perceber Ele resgatou minha fé, renovou minhas forças e nos trouxe esperança.
Esse momento em especial havia partilhado apenas com dois amigos do Curso de Teologia, Gilson e Ricardo. Percebo agora que não é meramente um fato importante mas sim a história que vivenciamos nesses dias. É a história em que Jesus caminhou em nossa direção e se mostrou presente em nossas vidas. Quando mais sentimos o medo e a dor solitária da incerteza Ele vem até nós. E no desfecho desse encontro acalenta nossa alma e nos encoraja para a luta.