quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Estradas que se cruzam




Estradas que se cruzam, histórias que se entrelaçam,
Vidas que se achegam, memórias que celebraremos,
Eternamente.










Hoje, 11/12/14, adentrei mais uma vez aquele corredor da ala denominada Cirúrgica I - Hospital das Clínicas de Uberlândia (Medicina). Meu ombro já estava descansado, sem o peso da ansiedade e da espera por minha mãe. Aliviamos toneladas de tensão e saboreamos a sua recuperação, minuto a minuto.

Naquele corredor, sabemos, não era só a ela que necessitava de atenção com urgência. Muitos outros pacientes em situações, talvez, piores, também aguardavam o seu momento. Fui então visitar alguns leitos onde os enfermos e seus acompanhantes se fizeram próximos e solidários.

A começar pela nossa chegada na Medicina, madrugada do dia 26/11/14, enquanto aguardávamos no corredor por uma melhor acomodação para minha mãe, vi algumas cenas marcantes. Um casal de velhinhos, onde o senhor cuidava de sua esposa sobre a maca. Ele, sentado numa cadeira ao lado, sempre atento e prestativo aos movimentos dela. Amor e cumplicidade quase em extinção para os parâmetros modernos.

Ainda nesta madrugada uma mulher inerte sobre uma cadeira de rodas. Havia perdido um ente querido. Não soube se era seu marido ou filho. Ao seu redor vários familiares e amigos próximos a amparavam e sofriam a mesma dor. Ela, manteve-se forte sobre a cadeira, sem esboçar reação durante um bom tempo. Mas, a realidade lhe remeteu às lagrimas. No silêncio que já pairava naquela recepção fria eis que ela se desaba e leva outros pacientes à comoção. A morte, chega para todos e a vida deve ser vivida e celebrada a cada momento.

No corredor, onde nossa mãe aguarda pela alta médica, já famoso por nossas andanças, levaremos muitas recordações. Um rapaz, de frente ao leito 112, que aos 20 anos de idade fez duas cirurgias devido a um AVC, fora embora para sua casa na semana passada. Um senhor bem de idade que, durante a noite acompanha um paciente, pois a esposa só pode ficar durante o dia e os quatro filhos não se comprometem com o pai enfermo. De frente a este uma mulher também com aneurisma que teve seus dias de surto. Por fim caiu por cama e dali só piorou. Foi entubada, teve a morte cerebral confirmada e depois disso a falência múltipla dos órgãos. Dois filhos apenas sendo que a mulher de 23 anos demonstrava desinteresse e irresponsabilidade com a mãe. O rapaz de 20 anos, ao contrário do que a irmã dizia, foi mais humano, filho de verdade e muito mais responsável. Histórias e mais histórias de dor, superação, esperança e também de decepção.

Havia também no mesmo ambiente uma senhora, acompanhada pelo marido. Sem um pingo de humildade esboçava o descaso para com as outras pessoas. Sentia-se a melhor por ter uma condição financeira superior. Os pacientes que caiam com ela no mesmo quarto reclamavam. O tempo todo dizia que estava ali apenas porque a Medicina tinha os melhores aparelhos e médicos, pois, o seu convênio cobria qualquer hospital particular de Uberlândia.

As histórias que contamos e as figurinhas que trocamos madrugada afora ficarão seladas num grande álbum de recordação da memória. E não podíamos deixar de falar da companheira de quarto da mãe, a Fátima e sua mãe, dona Rita que a acompanhava. Pessoas simples que se tornaram praticamente familiares. Combinamos um encontro de comemoração, após a cirurgia de ambas.