Não quero falar do tempo
Nem do tal
amor...
Já não o sei que
bicho é este
O que será?
De onde vem?
Como que se
pega?
Dói e remedia,
sim
Mas, já não sei
como é que é
Se é ou não é
Se um dia eu
amei
Se ao menos amar
eu sei...
Na verdade não
quero falar de nada mais
Trago aqui o meu
despir
Despindo minhas
máscaras
E despedindo por
esta carta
Tenho um desejo,
sei
De carregar o
desejo livre
E isso é
despojar-se do mundo inteiro
Tudo ao redor
Nada ao dispor
No voo da
liberdade
A solidão é
companheira no céu
Aquele culpado e inocente
Assentado como
réu
Refém de seus
algozes
Paixões do
repente ferozes
Assim cá estou
Desmedido de meu
eu
Corpo e alma se
golpeiam
Razão e fé se
contradizem
Minha vida nesta
cela
De ossos, carne
e sangue
Anseia um
respiro mais puro
Sentir o enigma
da montanha
Além dos sonhos
e da esperança
Alimentar esta
criança
Com a bruteza da
doce natureza
Cá estamos num
diálogo eternal
Sem fim mas que
agora encerro
E um dia, quem
sabe retomaremos
Sei que estás em
mim
E eu em ti
Somos tal corpo
e tal alma
Somos tal emoção
e tal razão
Somos eu e meu
eu
Imagem da imagem
Côncavo e
convexo
Que em
determinados pontos se contrapõe
Que em momentos
vários se esquivam
Que em estações
afora embarcam separadamente
Que por inúmeras
vezes exigem a separação total
Mas não acontece
Porque somos
corpo e alma
Minha cela está
aberta
A tranca era de
dentro
Valeu-nos as
experiências trocadas
De maneira como
se separados fôssemos
Hoje o silêncio
foi possuidor de tudo
Esse mérito é
nosso
Despeço-me daqui
Mas não me
entristeço
Porque sei que
este silêncio inquietante
É o sinal de que
ainda fazemos valer a pena
Entre
consciência, alma e corpo...
Pássaro só é
livre quando voa
Bons céus para nós!
Bons céus para nós!