(Reflexão inspirada na homilia do dia 20/03/16,
por Frei Geovane Santiago - Lc 23,1-13)
O contentamento causado pela curiosidade e pela expectativa de um milagre foi desfeito com o silêncio do galileu. Herodes estava em Jerusalém no tempo da prisão de Jesus. Muito maior do que o desejo incomensurável em conhecê-lo, era o fato de que os ensinamentos e milagres do Nazareno se alastraram desde a Galileia até a Judeia fazendo com que seu nome ganhasse repercussão e consequentemente fosse perseguido pelas autoridades, tanto as políticas quanto as religiosas.
Uma vez que não encontrou culpa naquele filho de carpinteiro Pilatos
resolveu entregá-lo a Herodes. Diante de tantas perguntas e expectativas o
silêncio foi a única resposta que obtiveram do moreno de Nazaré. Assim sendo, a
alegria do Governador foi frustrada quando percebeu que não seria testemunha
ocular de nenhum milagre.
Os sumos sacerdotes e os mestres da lei, como hienas carniceiras, não
perdiam tempo e reforçavam a dramatização acusando Jesus de ser um agitador das
massas por conta de seus ensinamentos libertários. Entre outras culpas
pesava-lhe o fato de fazer subversão entre o povo, proibindo pagar impostos a
César e afirmando ser ele mesmo Cristo, o rei. Palavras dos acusadores.
Revoltado por não ter sua curiosidade saciada, Herodes tratou logo de
desferir toda a sua arrogância que o posto de autoridade lhe concedia. Em atos
de desprezo, juntamente com seus soldados, não polpou zombarias ao Nazareno.
Encerrou sua participação na acusação de Jesus vestindo-o com uma túnica
vistosa e devolvendo-o a Pilatos. Assim pode demonstrar ao dito Cristo e a toda
plateia quem é que detinha o poder.
A curiosidade e frustração de Herodes é algo que me chamou a atenção no
Evangelho de hoje. Óbvio que no contexto existem particularidades mais
importantes as quais devemos nos atentar. Porém, essa insaciável busca por
milagres concretos e palpáveis que possam definir a existência de um Deus que
escuta e atende ao pedido é algo que tomou proporções alienáveis no meio
religioso. São práticas vendidas pelos diversos templos de nossa contemporaneidade.
Muitos herodes de nosso tempo perdem sua fé quando não tem seus desejos
atendidos. Desejos estes que estão no campo material, na prosperidade, na
ganância, no poder...
A fé se tornou um produto prático no mercado religioso. As pessoas são instruídas (alienadas) a exigir um milagre de Deus, uma vez que participam de determinado templo e contribuem com o que lhes é solicitado. É quase uma permuta sagrada. Longe dos holofotes midiáticos e dos detentores da passagem para o Céu ainda podemos encontrar pessoas desalienadas, destorpecidas, e sábias em suas práticas de fé. Afinal, a vida é um milagre.