(Reflexão inspirada na homilia do dia 03/04/16,
por Frei Geovane Santiago - Jo 20,19-31)
E de repente, a única esperança que lhes restava, justamente a palavra Daquele que revolucionara suas vidas, foi estremecida e dissipada com Sua morte de cruz. Imagina-se o quão perdidos ficaram os discípulos! Mesmo tendo convivido diretamente com o Jesus de Nazaré, escutado Seus ensinamentos e presenciado Seus milagres, ainda assim a fé desses seguidores mais próximos foi totalmente abalada. Nada mais importava pois a única voz que lhes dava sentido havia sido calada...
"A paz esteja convosco!" A tristeza foi
quebrada e deu lugar à alegria quando Jesus pronunciou estas palavras. Os
discípulos reunidos a portas fechadas, por medo de perseguição e retaliação,
uma vez que os seguidores de Jesus ficaram mal vistos na sociedade principalmente
após Sua morte, foram surpreendidos. Ele apareceu no meio
deles e após a saudação mostrou-lhes as mãos e o lado. A tristeza se dissipa
com a alegria do reencontro e o medo é superado por uma encorajadora exortação.
Nesta aparição de Jesus, Tomé, um dos doze, não estava presente. Os
outros discípulos contaram-lhe depois mas ele não acreditou. Dídimo, nome pelo
qual Tomé também era conhecido, carregado pela tristeza da morte de Jesus,
por quem havia depositado toda a sua confiança, frustrado pela ausência Daquele
que trouxe-lhe uma nova razão para a vida, foi além nas palavras: "Se
eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas
dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei."
Tomé carrega muito mais do que tristeza em seu coração. Traz também a
angústia, o medo e principalmente a frustração pela morte Daquele que sempre
teve palavras de vida nova e prometera a vida eterna. Talvez ele imaginasse que
o desfecho deveria ter sido outro por parte do Homem que se dizia Filho de
Deus. Talvez, em certos momentos, tivesse sentindo-se enganado. E tudo isso fez
com que suas palavras fossem tão carregadas de mágoa e dúvida. Uma mágoa que
causava-lhe incômodo e aguçava-lhe a esperança. Uma dúvida que maquiava o
desejo de que a notícia fosse realmente verdade.
Oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em
casa. Desta vez Tomé estava presente. Portas fechadas e Jesus pôs-se no meio
deles. A saudação, como de costume e depois disse a Tomé: "Põe
o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu
lado. E não sejas incrédulo, mas fiel." Nenhum relato de que
o incrédulo discípulo tenha tocado de fato em Jesus como havia dito aos outros que faria.
O mais longe que podemos pensar sobre sua reação é que a tristeza, mágoa,
dúvida, incerteza, medo, tudo se dissipa diante do ressuscitado.
No contra ponto desta narrativa algo sublime renova o coração
fragilizado do discípulo que tivera sua fé abalada. Jesus vem ao seu encontro.
E apesar da ausência de relatos sobre a aproximação de fato, notoriamente a
simples fala de Tomé mostra o quanto fora tocado por Jesus. Talvez tenha
sentido-se envergonhado diante do Mestre. Talvez, não contivera as lágrimas.
Talvez, quisesse ter falado mais neste encontro, talvez... Mas, a chegada do
ressuscitado simplesmente apazígua seu coração e devolve-lhe a fé: "Meu
Senhor e Meu Deus!"