Sim. Acredito em Deus. Acredito que deva ter existido um início
'mágico', 'celestial', 'inexplicável' para tudo isso. Acredito também que essa
obra criacional pode ser entendida como fruto de um amor incomensurável, tal
qual um pai por ser filho, ou como um pintor que se deleita de orgulho quando
conclui sua pintura.
Também não perdi minha fé com a conclusão do curso de Teologia. 'A
verdade que liberta' deixou de me assombrar e passou a me encorajar. Sem medo
de denunciar, de criticar (se for preciso), de expor e principalmente de
questionar os modos operantes que assolam os bastidores institucionais.
Discordar das regras morais que violam o bem estar e até mesmo a vida do ser
humano é mais do que um mero fato, é obrigação!
Sou católico de berço, gosto dessa religião mas não concordo com muitas
de suas páginas de regras ora absurdas, ora abusivas, ora descabidas. Conheço
leigos, padres e freis, entre outros, que são verdadeiros meios de libertação
junto à caminhada de sua comunidade e para uma vida plena e em abundância de
seus fiéis. Conheço também, infelizmente, o oposto disso que está na prática
deturpada daquilo que se encontra nas tais páginas: a hipocrisia, a falsidade,
a alienação que se manifestam através dos falsos profetas. Não tenho medo do que
penso, do que sinto e nem tampouco de partilhar tais sentimentos e convicções.
Por outro lado não me considero menos cristão que aqueles que ostentam seus
joelhos calejados de tanto frequentarem a igreja. As aparências também fazem
parte do marketing religioso.
Biblicamente discordo daquele deus citado, principalmente no Antigo
Testamento, que castigava um povo em detrimento de outro, que era severo e
vingativo, além de dar poderes para alguns seletos homens que, julgando-se
escolhidos, usavam deus para atuar em causa própria. No que diz respeito a
isso, encontramos versões atuais de como atuar em causa própria nas religiões
contemporâneas. É algo que nunca deixou de existir, apenas se modernizou.
Seguindo à risca a expressão bíblica 'crescei-vos e multiplicai-vos',
assim as religiões o fizeram. São muitas denominações que, em seus ambientes
criam insatisfações entre seus membros e a partir daí os que discordam das
regras e doutrinas aplicadas se insurgem e recriam sua própria igreja, desta
vez readaptada aos seus moldes de entendimento, até que o ciclo se repita e a
redivisão aconteça.
E não é apenas por isso que as ruas de cada cidade estão repletas de
templos, ou melhor, uma nova gama de adaptações de templos. Há lugares em que
são mais de cinco numa única ruela. Como disse 'não apenas por isso', mas o
motivo principal ultrapassa as questões espirituais e a busca pela tão desejada
salvação eterna, tornou-se um negócio. Não duvido da fé de quem procura mas
quem manipula está ciente de seu oportunismo que visa apenas o lucro sobre a fé
alheia. Impossível assistir a isso calado!
Não mais acredito na religião que se impõe acima da vida, nem naquela
que valoriza o institucional em detrimento do ser humano. Qualquer religião que
tem em seu legado o amor e a luta pela vida é digna de ser um caminho para a
salvação. O contrário disso é hipocrisia, alienação e caminho de escuridão.
Em termos de religião, a arte, a cultura e a educação tem sido religiosamente libertadoras e comprometidas com a vida. Já a religião, há muito perdeu-se de si e perdeu sua própria fé... Desatar um antigo nó, é desatar a nós mesmos.