"Corpos mutilados neste campo.
Não dá tempo de secar o pranto pelos
que tombaram ao meu lado.
Carrego muito mais que marcas de
batalha.
Tenho o cheiro do sangue de meus
companheiros entranhado em minha pele.
Sou apenas partes.
Parte combatente.
Parte combatida.
Minha alma ferida já desconhece a
piedade.
A teologia de guerra é ter fé pra se
manter vivo.
O santo protetor se divide entre a arma
e as mãos que a empunham.
Deus?
Deus é amor?
Onde?
Quando?
A paz não é o resultado esperado pelos
que comandam os mundos.
A guerra é necessária para que a
economia aconteça.
Paz é utopia.
Todos precisam da guerra para obter
lucros.
Um mundo só de amor dispensa religiões.
Um mundo sem caos dispensa moedas.
E Deus?
Esqueceu-se de mandar amor em certos
cantos...
Eu?
Sou apenas um errante carregado de
munição.
Minha sobrevivência neste fronte é
questão descartável.
Quando eu encontrar Deus só terei uma
pergunta:
Se Ele criou tudo, se Ele nos deu este mundo, nos deu a vida, por que deixou escapar a guerra?
Se Ele criou tudo, se Ele nos deu este mundo, nos deu a vida, por que deixou escapar a guerra?
Que esta carta, guardada em meu paletó,
um dia seja entregue a Ele."