"Caro soldado também sobrevivo
feito tu.
De onde venho já nem sei mais o que
sobrou.
Minhas lembranças é o que sou.
Minhas batalhas dispensam armas.
Os tiros que matam não são de pólvora e
aço.
Os estampidos ressoam das latrinas dos
algozes poderosos.
O fogo cruzado é intenso .
Guerra de interesses.
Este sertão, terra de ninguém, é
intenção que assim permaneça.
Tão seco quanto a pele esturricada
dessa gente.
Gente que vegeta pelos dias e só carrega
utopia.
Um dia, quem sabe, Deus também há de
vir pra cá.
Olhar pra este lugar e mandar chuva e
flores.
Se Ele existe, que escute bem.
Restabeleça a ordem.
E sentencie a cada qual com seu fardo
merecido.
Mas se somos todos filhos Dele, ninguém
haverá de ter menos nem mais.
Daqui do sertão, bravo soldado, também
sou combatente.
Pelejo com a vida, sem igual.
A lida não é para os fracos.
Sucumbir aqui é para os fortes que aqui
resistem.
É esperança que não se vence e alimenta
a quem fica.
Os senhorios, os donos pelo mérito da
desgraça alheia, um dia haverão de prestar contas.
Minha fé é nessa gente brava, de poucas
palavras e sem estopim, queimada pelo sol e saqueada pelos mandatários.
Viver, isso sim é uma afronta para os
coronéis do inferno.
Desejo-lhe paz."