segunda-feira, 23 de maio de 2016

Cartas em tempos (X) - Das matas


"Acuaram nosso povo.
Tempos difíceis.
Sequestraram e torturaram muita gente.
Querem que a gente desapareça de vez.
Empacamos o progresso das grandes plantações.
Defendemos a floresta.
Mas somos tratados feito coisa ruim.
Sobra coragem e nos falta força.
Ouvidos que nos ouçam e bocas que nos possam dar voz.
Mas enquanto existir um de nós aqui, lutaremos até o fim.
Despejam veneno com os aviões.
Matam os rios.
Não há interesse de nenhum governo pra nos defender.
Discurso de um lado e prática de outro...
Contamos apenas com a nossa sabedoria, transmitida por nossos ancestrais.
Defender o chão que a gente sempre viveu é perigoso.
Matam inocentes mas não abalam nossa coragem.
Estar aqui, estar aí, tudo é uma terra só...
Tudo é guerra de poder...
Não esperamos nada que venha de fora.
Somos aqui, um pelo outro.
Somos a sombra e o escudo de cada guerreiro.
Aqui a gente cuida...
Nossa terra chora.
Os animais sofrem.
Homens da lei não fazem justiça aqui.
Esperança chega em cada sol.
Talvez seja este sol, neste céu que nos aproxima das histórias.
Não podemos sair daqui.
E nunca fugiremos dessa luta.
Mas se a justiça nos acompanha então estamos todos do mesmo lado.
Uma hora isso vai acabar.
Ou vão acabar com a gente primeiro..."