sexta-feira, 13 de março de 2015

Cachaça ganha novo nome: "Capeta"











Cachaça, goró, pileque, quando se entranha no sangue alheio, de forma negligente pelo autor do fato, ganha uma grande justificativa, ou melhor dizendo, um sinônimo que simboliza o regaço causado pela ingestão excessiva de álcool. O capeta deve estar se ardendo de raiva e cansado de tanto levar a fama!

Vinte e duas horas e trinta minutos do dia doze de março de dois mil e quinze. Quinta feira. Voltando da Faculdade e adentrando o bairro em que resido, alguns metros antes de virar para a rua da minha casa, percebo uma movimentação estranha no meio da avenida. Carros e motos desviando de um círculo de pessoas apavoradas. Cheguei mais perto e identifiquei uma mulher ao chão. Um rapaz a segurava fortemente e um menino de uns doze anos mantinha a cabeça dela em seu colo. Ela se debatia, se contorcia, alterava sua voz e falava "ele ta vindo me buscar". Segundo os comentários ela havia se jogado na frente de alguns carros que por sorte conseguiram desviar.

Sem muito o que poder fazer, apenas liguei para 193 - o Corpo de Bombeiros. Enquanto aguardava a chegada do resgate conversei com algumas pessoas que estavam ali desde o início do episódio e me inteirei do fato. Uns diziam que ela havia tomado um golinho de cerveja. Uma senhora disse que ela passou "nervoso". Informações que aos poucos se costuravam para o desfecho.

Não sei de onde surgiu, ou melhor, de onde brotou um pastor que já estava ajoelhado com a mão sobre a cabeça da mulher gritando pro "capeta" sair. Gente! Isso é terra sem lei! Se fizermos uma estatística será constatado que já são "DEZ" desencapetadores para cada tinhoso. Como manda a lei da demanda: será necessário inventar novas modalidades de "caos" para os profissionais do altar não perderem o posto!

Tive pena do filho de doze anos que chorava ao ver a mãe daquele jeito. Perguntava por quê que ela estava daquele jeito. Num determinado momento, enquanto o oportunista dava seu show, chamei o garoto e com jeitinho expliquei que aquilo, no máximo seria uma crise nervosa. Não precisava ser especialista pra entender os fatos, nem tampouco "capetologista".

Realizado o cerimonial o show-man se levanta e diz em alto e bom tom: "Podem levá-la para casa! Ela já está curada!" Colocaram-na numa cadeira ali mesmo na calçada. Ela estava fria e tremia muito. O próprio senhor, nada modesto, quisera ajudar a recolher a mulher. Intrometi-me na conversa e disse que os Bombeiros já estavam a caminho e que o mais sensato seria esperar ali mesmo. Liguei novamente e nem bem desliguei o celular a unidade móvel chegou.

Enquanto os bombeiros conversavam com a enferma sua mãe aparece para acompanhar o resgate. Perguntei-lhe se ela havia passado por algum "nervoso" ou ingerido alguma bebida de álcool. A senhora abriu o jogo: "Ih meu filho, ela é cheia de querer e não gosta de ouvir as verdades! Tá bebendo desde as cinco da tarde!" Bingo! Chamei um dos bombeiros de canto e repassei as informações.

Pronto. A situação agora estava devidamente encaminhada. As pessoas que mais precisavam de oração e conforto naquele momento não era a moça que encheu a cara e teve uma crise nervosa, mas sim a senhora sua mãe e os filhos que assistiram tudo. Óbvio que no momento oportuno um acompanhamento espiritual e religioso serão necessários. Agora, porém, apenas uma santa dose de glicose expulsaria o causador dos males.

Vivemos num momento em que uma mega onda pseudo-religiosa tem requerido veementemente um "demo" para pagar a conta pelos serviços prestados. Marketeiramente várias denominações religiosas tem exposto em suas vitrines verdadeiros absurdos, os quais chamam de milagres. Este tornou-se um sub-produto da fé que os falsos profetas utilizam em seus shows e dramatizações. O que deveria ser fonte de libertação é na real de alienação. Tudo em nome de Deus, inclusive o oportunismo financeiro-religioso.