Aprisionado estás amigo infiel
Num cárcere erguido, destruído e
reconstruído
A visão que te turva a alma é cega
Não enxergas mais além daquilo que
se vê
O ópio em teu corpo surra-lhe a
essência alheia
A matéria que te cerca, te impede o
caminhar
Os ossos de teu corpo em teu corpo
ossificado estás
É rígido e deturpado o seu querer
O resto que lhe sobra enxerga nos
pequenos detalhes
Entregue estás amigo infiel
À jornada eterna do porvir
À busca desenfreada da felicidade
Ao encontro do colo de Teu Pai
Criador
Quem sabe Ele te alivie a dor
Quem sabe Ele te permita o amor
Quem sabe você não se extingua
E no raiar reencontre a brisa santa
O sussurro inspirador
Da alma o libertador
Condenado estás amigo infiel
No canto empedernido deste
calabouço
Sem janelas nem portas
Onde o pulsar mais forte
Não se escuta do lado de fora
A tranca é de dentro
O mundo é de fora
O corpo é a grade
O coração é a cela
A alma sua prisioneira
Levante-te de si amigo infiel
Rasgue-se as vestes
Existe aresta pois a brisa se faz
chegar
Encontre e alargue a passagem
Esvazie-se
Permita-se
Alongue-se
A prisão é interna
A entrega é opção
A condenação é sua
O sentido que procuras
Nem no dia nem no escuro do
silêncio hás de encontrar
Ai de ti amigo, ai de mim, ai de
nós
Levanta, anda e corre
Vês, o rio ainda não morre
Segue o leito e se mistura ao mar
Sem se importar se sua água vai
mudar
É o ciclo, é a vida, a morte é
certa
O calabouço que te enclausuras
Não tem paredes nem fechaduras
A árvore que sombreia a terra
Foi semente e impotente,
Dor sofreu e sobreviveu
Perdeu a casca, se entregou
Para um bem maior se renasceu
Onde estás meu caro infiel?
Ah, meu bom caro infiel...
Não te cales
Na opressão de teus longos medos
Não teimes em se fazer refém de
seus segredos
Nada há de maior que o peso que
teimas carregar
Nada há de mais insensato que o
querer se entregar
Se amar é sofrer
Que tu sofras amando
Se sofrer faz doer
Que a dor seja por amor
Por mais que a vida seja cíclica
Jamais passará pela mesma medida
A espiral que se gira
Nos permite um olhar sobre a
história
E um outro para o horizonte
O calabouço te sucumbe bom amigo
meu
Que de si, tornastes infiel
As algemas não existem
A luz que não enxergas
Se escondem ao fechar dos olhos
seus
A guerra que travaste
E tão épica a tornaste
Petrifica sua alma
Congela o teu sangue
E aprisiona a tua vida
És de si, o único libertador
Com sua fé no seu Senhor
Hás de vencer o medo
A morte, a história, e sua dor
Destranca-te e vem para a vida...
Destranca-te e vem para a vida...