terça-feira, 31 de março de 2015

Cartas do calabouço - Parte IV




Jamais me entenderás amigo
O máximo que conseguirá
Uma leitura será
Dos meus devaneios escritos
Ainda assim, as entrelinhas
Não lhes serão reveladas

O tempo nos leva ao esquecimento
A memória se perdura na história
Ou vice-versa
Quero ao menos, permanecer na lembrança
Do amor que um dia tive
Ou que não soube tê-lo
Nem vivê-lo
Nem amá-lo
Nem esquecê-lo

Pergunto pro tempo: e agora?
Sinto sua resposta como vento
Pedindo para passar
Ou, sem pedir, vai passando
E já me perco nessa busca sem fim
Não sei se sou eu que corri do tempo
Ou o tempo que fugiu de mim

Quero mesmo é falar de amor
O tempo e o amor
Amar é sofrer, será?
Será mesmo que é esse o tal?
Da relação, o mistério norteador?
Amor e dor
Que relação desastrosa!
Talvez, menos penoso seja
Esquecer-se em si
Sem vivência, sem querência
Mas sem sofrência

A paga é alta meu amigo inquisidor
O tempo custa tempo
O amor custa tempo
O tempo custa ao amor
O amor custa ao amor
E cá perdido estou
No silêncio desta cela
Uma gota, uma quimera
Do que a mim se resta
É a dolorosa espera
De um tempo que há de curar
Ou de um amor que o venha sagrar-se
Pois já cansado estou
De assim ver jorrar o vermelho heroico
E o que passou, de mim levou
O que havia de melhor
Resta-me revirar o baú e a terra
Em busca de uma semente
De amor

Amigo das humanas razões
Voz das mais avessas emoções
Já faz mesmo, tanto tempo assim?
Creio que ouvira certas vozes
Aproximando-se deste recanto impiedoso meu
Não foi falta de vontade
Nem falta de forças
Apenas, não havia o que quisesse ouvir
Nem tampouco algo a responder-lhe

Despeço-me
No estanque da esperança
Ou no balanço de uma nota só
E que não cesse-lhe a alegria
Que já fora-me o esteio mas um dia 
Para mim virou pó
E agora, jaz o passado
De que não quero mais estar atrelado
E remexo a alma em busca de mudança
Aguardo-lhe, novamente, outra vez
Caro meu.

Quanto à letra,
Creio que firmei o golpe
E exigi-me uma à altura
Para que a sua leitura
Não se canse mais na decifração
Meu caro da razão