quarta-feira, 25 de março de 2015

Cartas para o calabouço - Parte III



Caro amigo, ainda infiel
Se respondestes pela vez primeira
É porque recebeste o meu sentimento escrito
Se o recebeste é porque não estais todo trancafiado
Seu calabouço não é à prova de tudo
Nossa conexão é prova disso
Existe, vez ou outra, uma abertura
Já havia tentado por vezes a comunicação
Porém, tudo em vão
Parecia que tu estavas enterrado
Vivo, porém enterrado

Meu querido infiel
O tempo urge
E tu o foges
São tantas coisas a lhe falar
Das menores às de maior importância
Não tenho noção do tamanho dessa distância
Em que tu se encontras da firme terra
Já se passaram dias, muitos dias
De sol, de calor, de brisa
De noites com chuva fria
Ou de seca e de dor
De escuridão e pavor

Infiel amigo meu
Das muitas coisas que gostaria
De te dizer pessoalmente um dia
Vou tentar aqui expor
De tudo que por essa terra passou
Há coisas que não devemos jamais desistir
Daqueles que a muito gostamos, é uma
Acreditamos, consideramos e juntos lutamos
Eis-me aqui, entre o ir e vir
A te levar um pouquinho seja
Do novo ar, dos bons tempos que tu mesmo almeja

Ah, meu caro e danado infiel
Sobre o tempo quero chamar-te, amigo
Vejo que apesar de tanto tempo neste seu abrigo
O calabouço que tu mesmo o considera assim
Ainda não perdeste de fato a razão
Nem tampouco a profundeza de sua emoção
E sua retórica traz a tona o reflexo a mim
Tempos e mais tempos
E quando estamos cansado do tempo
Tiramos um tempo pro descanso

Amigo infiel
Nossa prosa é séria
O nosso tempo aqui é finito
E com tantos pesares, e falta de humanas essências
Ainda nos prostramos à infinita beleza
Tu perdes tempo
E o perdendo de si
Não construirá seus alicerces
Há um destino que podemos chamar de eternidade
Aqui, o tempo é corriqueiro, passageiro
É o tempo de se plantar, cultivar,
E cativar

Amigo infiel,
Seu abandono sofrido
Tu o repetes para si
Ao abandonar-se nesta cela
Sem querer participar do tempo de hoje
Incomoda-me tanto sua ausência
Sua falta de sentido
A vida ainda é bela
E por ela vale a pena
Tanto pelos que ainda te esperam
Sem saber que tu aí estás
Lembre-se: "A morte é tão íntima com a vida. Esteja preparado."
Só não deixe de viver

Meu caro amigo
Tu já sabes de sua infidelidade
Não comigo, mas consigo mesmo
E é este o maior perigo
Pois já perdeste a noção
Será insanidade?
Sei que ainda tu carregas um coração
Se de razão ou de emoção
De nada importa mais não
Só se dê a devida atenção
Despeço-me aqui
Com o calor te todo o tempo
Com a brisa do momento
E com o frescor do vento
E para a próxima desde já espero
Que tu mesmo queira de algo falar.


PS: Ah, melhore sua letra.