"Reza a lenda que havia uma fortaleza, distante e desconhecida, porém habitada. Era um reinado equilibrado que regia o lado interno da fortaleza, de ordem, tanto para os habitantes como para os que estavam em suas proximidades, na vizinhança.
O Rei era jovem, inexperiente e justamente por isso, os que estavam ao seu redor o ajudavam a manter as coisas em sua perfeita sintonia.
O tempo foi passando e o rei, já perdendo o medo do mundo fora da fortaleza, começou a explorar mais e mais as terras distantes dali. Os encantos vistos lá fora, faziam-no se distanciar de seu povo, de seu governo. Ele sentia vontade de conhecer tudo o que lhe era permitido e o que não era também.
Muito consciente, ele sabia de sua responsabilidade deixada no forte. Mesmo ausente, preocupava-se e sabia do risco de perder sua fortaleza cada vez que sua ausência se alongava no tempo.
Alucinado pelas visões exteriores, quando retornava ao seu posto, sentia-se perdido, confuso. Permitia-se um embate constante entre o reinado e o mundo fora das muralhas. As vezes, não queria ser o rei. Angustiado por tanta responsabilidade, e ainda tão jovem, fazia de suas saídas uma verdadeira fuga.
Com o passar do tempo, começaram a ocorrer problemas em seu reinado. A paz que habitava, aos poucos, esvaziava-se como areia nas mãos. Cresciam os conflitos, os desentendimentos. Parte do povo cobravam dele uma postura digna de um rei comprometido. Outra parte o ignorava e acreditando que ele só aprenderia a lição quando tivesse prejuízos.
No mesmo período, outros reinados, com ambição e ganância começaram a travar batalhas constantes contra reinados menores. A cada dia, ouvia-se mais e mais notícias sobre a aproximação maciça e desenfreada de povos de origens distantes que queriam apenas destronar líderes.
Os sábios, uma menoria do reinado, ainda se manifestavam calmamente, pensando que o rei pudesse acordar do transe acometido pelo mundo exterior e se dedicar ao seu povo, alicerçar os lados ainda sem muros e fortalecer as muralhas de sustentação e proteção.
O rei que não era mais ingênuo, conhecedor da verdade e das regras de seu povo, sentia-se apavorado diante de tantos conflitos. Tinha vontade, desejo de percorrer livremente as trilhas e caminhos ora desconhecidos e ao mesmo tempo sentia a mesma vontade de se dedicar à sua nação.
Num grande dia, uma guerra estourou e veio na direção de sua fortaleza. Um momento difícil para o rei, tendo em vista a desunião de seu povo, fruto de sua ausência repentina. Desesperado pela pressão ao redor da muralha o rei se curvou diante de seu povo, na tentativa de resgatar o elo perdido. Porém, o tempo, ora deixado de lado pelo rei, aos olhos dos sábios, foi longo. Para ele, o tempo foi vagaroso e vago.
O fato de ter de administrar os conflitos internos nos quatro cantos de seu reinado, para não correr risco de seus inimigos aproveitarem o momento de vacilo e atacar o seu forte, gerou uma ansiedade angustiante.
Os inimigos apareciam de diversas maneiras, sorrateiras, disfarçados, armados. Tinha-se a impressão de que havia espiões em seu convívio, vigiando seus passos e a fraqueza de seu governo. Estrategistas que eram, tornava-se difícil a idenficar tais pessoas entre os seus.
O fim dessa história nunca se soube ... pois, não chegou ao fim.
Essa é versão de uma história verdadeira e real, onde somos protagonistas, e acontece constantemente.
Atuamos como rei (protagonista), de nossa vida (reinado), dentro de nossa muralha (nosso corpo, templo sagrado).
Cada vez que, cientes do conhecimento da verdade, e mesmo assim, ousamos trilhar caminhos diferentes, além do nosso reduto (muralha), levados pela ânsia das aventuras exteriores, permitimos o enfraquecimento de nossa fortaleza, de nosso povo (sabedoria adquirida através de nossa família), e de nossa alma (sabedoria de DEUS). Os sábios, a voz da sabedoria, a consciência do DEUS supremo, pouco ouvida diante dos vislumbres, chamariz dos olhos, permanece intacta, no mesmo lugar.
É impossível administrar um reino, uma vida, não estando presente, consciente de sua importância única. Ou entregamos a coroa e partimos pelas trilhas em busca de novidades, ou a assumimos e tomamos literalmente o posto que por direito é nosso: rei - cristão autêntico, de caráter único, sem mais e sem menos, sem porém e talvez.
O mundo, tentações externas bombásticas, consumo sem freio, libertinagem, indisciplina, princípios forasteiros, quer nos aprisionar do lado de fora de nosso templo.
Para esta história, como já citei, o fim não chegou. A batalha porém não se findou. Como num jogo de xadrez, cada peça deve ser colocada ou movida de maneira coesa, no lugar certo. Não se pode perder uma vida para o mundo, muito menos para si mesmo.
Minha batalha é diária, constante. Os conflitos 'interno X externo" acontecem ...
Só me resta uma saída, fortalecer minhas muralhas e garantir minha sobrevida. Como num jogo de fases, a cada batalha vencida não há tempo para comemorações, pois uma mais difícil está por vir. Garantindo a fé e a sabedoria dada e confiada, uma conduta regrada e fiel, os inimigos se enfraquecerão diante desta fortaleza."
Ailton Domingues de Oliveira