"Era o ano de 1.990. Cursava a 8ª série do 1º grau. Tinha 14 anos de idade, porém já trabalhava desde os 12. Em meados deste ano tive hepatite, não me lembro ao certo qual o tipo mas sei que foi a de de nível mais "leve". Fiquei mais de 40 dias em repouso absoluto, com uma dieta cheia de restrições (sal, óleo, qq tipo de gordura ...), o que me resultou em dificuldade para andar quando liberado pelo médico. Minha mãe e minha avó me cuidaram em todo o período. Fiquei pálido, quer dizer, amarelado, ou melhor ainda, desbotado ... ah, sei lá !!!
Neste mesmo ano, após recuperado, comecei a trabalhar em uma farmácia, e nela permaneci durante 10 anos. Até minha ida para a capital. E foi justamente neste ano (1.990) que tive os primeiros sintomas da enxaqueca.
No princípio achava que era apenas uma "queda" de pressão, seguida de uma dor de cabeça forte. A danada foi se apoderando e acontecendo nas mais inusitadas situações. Começava dificultando a visão, fazendo com que eu não conseguisse ler qualquer coisa, "embaralhava as vistas" dizia minha avó. O médico que diagnosticou essa conjuntura como enxaqueca, disse que a este sintoma se dava o nome de "perda da visão lateral", com "raios" ou "flashs" ou "relâmpagos" que caiam simultaneamente. Paralelo a isso, a pressão realmente baixava. Aí, vinha a tontura, ânsia, vômito, diarréia ...
Num diagnóstico médico, um doutor me receitou uma injeção endovenosa com um remédio que amenizava todos esses "pi-ri-ris". Enfim reorganizava a bagunça.
Passado um tempo fui substituindo a injeção, pelo mesmo medicamentoem comprimido. Li muito sobre a enxaqueca. Fiz inúmeros tratamentos. Realizei, de simples exames à eletroencefalogramo e tomografia. Não deu em nada ! Não estava enlouquecendo ...
Como ela sempre aparecia em horas incríveis me senti obrigado a carregar sempre um kit-enxaqueca, com injeções EV e IM e outros tantos analgésicos.
Ela funciona assim: depois que começa, nos primeiros sintomas, se não tomar o "remedinho" certo em tempo mais certo ainda, não esquenta não, que a dor vem pior. Daí, é só procurar um quarto escuro, silencioso, com cama e um recipiente para os vômitos vindouros.
Dezenove anos se passaram desde a primeira crise e esta "minha santa enxaqueca minha" ainda me ensina muito ...
Aprendi, nesse tempo todo, a me conhecer melhor. Cada vez que permitia que a ansiedade tomasse conta dos momentos, dos atos, do meu ser, ela aparecia; cada vez que não dava o descanso necessário ao corpo, ela aparecia; cada vez que ingeria um pouquinho a mais de álcool nos finais de semana, ela aparecia; cada vez que permitia que os momentos de puro estresse e adrenalina se tornassem maiores que o meu controle sobre a situação, ela também aparecia. Enfim, diante de qualquer coisa, em qualquer situação, em qualquer hora, ela poderia aparecer de surpresa, sem ser convidada.
Precisei então, me respeitar mais, e respeitando pude também me conhecer melhor, reconhecendo assim minhas humanas limitações. Entendi que após os momentos de crise, de problemas causados por fatores internos ou externos principalmente, ela vinha pra reorganizar meu corpo, meu ser, minha vida ...
Eram momentos únicos de dor intensa e pulsante, com sensações das piores possíveis, que pareciam intermináveis. Um simples abrir ou fechar de portas, qualquer barulho era o suficiente para refletir diretamente na cabeça, na dor ...
Passado os momentos de sofrimento, vem a tranquilidade, a serenidade, a calmaria, melhor ainda, a sensação de ter sobrevivido após uma difícil e estratégica batalha, onde com as armas certas - "os remédios" -, e muita paciência, o inimigo era mais uma vez superado.
E não há nada melhor do que a sensação de estar vivo, de não sentir dor, de sentir-se purificado, renovado, descansado, após uma tormenta.
Bom, hoje, tenho certeza de que essa "abençoada" enxaqueca, chegou e se instalou em mim não por um mero acaso ... acredito muito que aprendi e ainda aprendo com ela... Por isso, procuro, dentro dos limites, viver bem e feliz, onde quer que esteja e com quem estiver. Quando ela desponta, já sei que to desorganizado comigo mesmo, extrapolei os limites. E aí, o ciclo recomeça ... e a batalha também.
Vivendo e aprendendo ... sempre ... "
Ailton Domingues de Oliveira
Neste mesmo ano, após recuperado, comecei a trabalhar em uma farmácia, e nela permaneci durante 10 anos. Até minha ida para a capital. E foi justamente neste ano (1.990) que tive os primeiros sintomas da enxaqueca.
No princípio achava que era apenas uma "queda" de pressão, seguida de uma dor de cabeça forte. A danada foi se apoderando e acontecendo nas mais inusitadas situações. Começava dificultando a visão, fazendo com que eu não conseguisse ler qualquer coisa, "embaralhava as vistas" dizia minha avó. O médico que diagnosticou essa conjuntura como enxaqueca, disse que a este sintoma se dava o nome de "perda da visão lateral", com "raios" ou "flashs" ou "relâmpagos" que caiam simultaneamente. Paralelo a isso, a pressão realmente baixava. Aí, vinha a tontura, ânsia, vômito, diarréia ...
Num diagnóstico médico, um doutor me receitou uma injeção endovenosa com um remédio que amenizava todos esses "pi-ri-ris". Enfim reorganizava a bagunça.
Passado um tempo fui substituindo a injeção, pelo mesmo medicamento
Como ela sempre aparecia em horas incríveis me senti obrigado a carregar sempre um kit-enxaqueca, com injeções EV e IM e outros tantos analgésicos.
Ela funciona assim: depois que começa, nos primeiros sintomas, se não tomar o "remedinho" certo em tempo mais certo ainda, não esquenta não, que a dor vem pior. Daí, é só procurar um quarto escuro, silencioso, com cama e um recipiente para os vômitos vindouros.
Dezenove anos se passaram desde a primeira crise e esta "minha santa enxaqueca minha" ainda me ensina muito ...
Aprendi, nesse tempo todo, a me conhecer melhor. Cada vez que permitia que a ansiedade tomasse conta dos momentos, dos atos, do meu ser, ela aparecia; cada vez que não dava o descanso necessário ao corpo, ela aparecia; cada vez que ingeria um pouquinho a mais de álcool nos finais de semana, ela aparecia; cada vez que permitia que os momentos de puro estresse e adrenalina se tornassem maiores que o meu controle sobre a situação, ela também aparecia. Enfim, diante de qualquer coisa, em qualquer situação, em qualquer hora, ela poderia aparecer de surpresa, sem ser convidada.
Precisei então, me respeitar mais, e respeitando pude também me conhecer melhor, reconhecendo assim minhas humanas limitações. Entendi que após os momentos de crise, de problemas causados por fatores internos ou externos principalmente, ela vinha pra reorganizar meu corpo, meu ser, minha vida ...
Eram momentos únicos de dor intensa e pulsante, com sensações das piores possíveis, que pareciam intermináveis. Um simples abrir ou fechar de portas, qualquer barulho era o suficiente para refletir diretamente na cabeça, na dor ...
Passado os momentos de sofrimento, vem a tranquilidade, a serenidade, a calmaria, melhor ainda, a sensação de ter sobrevivido após uma difícil e estratégica batalha, onde com as armas certas - "os remédios" -, e muita paciência, o inimigo era mais uma vez superado.
E não há nada melhor do que a sensação de estar vivo, de não sentir dor, de sentir-se purificado, renovado, descansado, após uma tormenta.
Bom, hoje, tenho certeza de que essa "abençoada" enxaqueca, chegou e se instalou em mim não por um mero acaso ... acredito muito que aprendi e ainda aprendo com ela... Por isso, procuro, dentro dos limites, viver bem e feliz, onde quer que esteja e com quem estiver. Quando ela desponta, já sei que to desorganizado comigo mesmo, extrapolei os limites. E aí, o ciclo recomeça ... e a batalha também.
Vivendo e aprendendo ... sempre ... "
Ailton Domingues de Oliveira