Tudo é um risco
Viver é um
risco
Mas quem
não vive corre o risco de morrer sem ter vivido
Paz e bem,
meu caro infiel ingrato
Apesar de
sua reclusão
Ainda
mantem-se inalterado
Inquieto e
pelo medo frustrado
Tenta
abrigar-se na escuridão de tua cela
Fingindo
não haver portas nem janelas
Acreditando
encontrar aí a paz
Frente ao
silêncio que teimas fazer
Podando-se
simplesmente de tua vida
E deixando
este avesso do bem lhe imperar
Espinhosa a
tua escolha
Eu preferi
a coerência da realidade
Não tanto sonhadora
ou utópica
Mas,
certamente, palpável e passiva de ser vivida
Tu tens te
arrastado
Para além
da compreensão
Tuas fontes
tens aniquilado
Tuas
estruturas abaladas
Suas
sementes estirpadas
Teus ramos
podados
E as raízes
cortadas
Confesso,
não poucas vezes, a vontade em te deixar
Na prisão
de tuas escolhas
Onde tens
as chaves de todas as trancas
Ainda
assim, teimas em manter-se inerte
Caro algoz
de tu mesmo
Veloz é o
tempo quando se vive
Ontem mesmo
éramos meninos livres
Hoje cá
estamos na discorrência filosófica da vida
Buscando
razões para as emoções
E
encontrando emoções pelas razões
Onde está
tua fé?
Não busco
entender-te
Apenas
ouvir-te, e esperar-te
Que não
tardes a sorrir aos céus
Pois,
poderás chegar e encontrar um dia escuro
Ao som de
marchas fúnebres
Vendo a
morte alheia a lhe sorrir
Enterrando
o que havia de melhor a lhe esperar
Lembre-se
que para ter a tua tranquilidade da morte
Apaixone-se
pela vida
Queres
amar, não queres amar
Queres
viver, queres se esconder
Queres e
não queres a mesma coisa, sempre
E nesse
sempre das coisas quistas
Há de não
tê-lo mais
Não quer
pagar o preço
Exiges o
quê de ti mesmo?
Hã?
Já ousou
olhar o dia?
Quando foi este último encontro?
Quando foi este último encontro?
Já
vislumbrou o encanto da lua?
Tentou
brincar de contar estrelas?
Sob a luz
do sol enxergou as cores?
Quando foi
a última brisa sentida em tua face?
Escutou as
notas cantadas pelos pássaros?
Eu mesmo
lhe respondo: Não!
E já faz
muito tempo que jaz vivo em teu confinamento
Que tu
chamas cela
E eu digo
que és um sepulcro
Amor,
dor...
Então
digas!
Realmente
digas e sejas!
Sou mesmo
teu amigo inquisidor
E assim
prefiro por mais difícil seja
Minhas
palavras são verdades
Que rebatem
tua atual incapacidade
De querer e
não conseguir
Livrar-se
das correntes que teimas carregar
Estancastes
à toa a esperança
Não queres
ousar a entrega
Preferes o
sequestro de tua alma
O
aprisionamento de teu coração
E a fuga de
seus medos
A enfrentar
a saga da vida
Com tudo o
que há em seus compassos
Livra-te de
teu algoz
Estarei por
aqui,
Ainda não
sei quanto tempo mais
Teu amigo,
inquisidor, porém amigo e fiel.