"Aprendiz, pra sempre quero ser
Que a morte anunciada
Não se faça de uma vez
Se tiver que me esquecer
Que seja bem devagarinho
Nem consolo, nem tormento
Pinturas nas entrelinhas
Em tons de alegria e sentimento
Nos entrelaçamos com carinho
De ausência e distância
Suportamos a dor sensível aos olhos
Que enxergam o que o mundo não mostra
Enfrentamos a barreira da incompreensão
Abrimos o coração e os braços
Acolhemos irmãos, esticamos os passos
Chegamos, num ponto onde só há poesia
Sentimento vivo, dor, sofrimento, nostalgia
Felicidade, amor, suor, sangue, conquista
Mãos que se seguram e asseguram a continuidade
Ninguém fica no caminho, pela metade
Caminhamos, todos juntos, unidos e misturados
Rumo ao céu de cada prosa
Nas cores de cada rosa
Nos espinhos que nos ferem
Nos orvalhos de cada manhã
Sob o sol ou sob a lua
No verão ou no inverno
A primavera se faz contemporânea
No olhar intenso, mar adentro
Das simplicidades deixadas de lado
Quero ser, eternamente aprendiz
De Deus, da vida, no rastro dos poetas
Fazer a vez chegar e a voz ecoar
Um dia, alguém vai olhar e gostar,
Quem sabe, se libertar
Não serei mais um, tão somente
Dos caminhos percorridos
Nenhum calou mais fundo
Do que reencontrar a vida, ora perdida,
Na simplicidade eternizada pelos profetas
Se, um dia, a solidão arrasar meu sertão
Minha boca calar e meus olhos se fecharem
Ainda assim, no calado consciente coração palpitante
Terei lembranças, as quais me servirei com esbanjo e saudade
'Basta-me saber que estás aí...'"
Ailton Domingues de Oliveira
13/07/12