Teciam-se remendos,
arranjos
Enfeites e
ferramentas
Nada se perdia, nada
se desperdiçava
Tudo se transformava,
tudo se aproveitava
Não existiam problemas, tudo se ajeitava
Pobres segundo os
conceitos da cultura social
Mas com uma riqueza
que não se encontra por aí
Nos altos escalões da nobreza moderna
No quintal havia
variedade de frutas, folhas e legumes
Pelo dom de suas mãos...
Tão rústico quanto bruto
Sangue quente nas
veias e de poucas palavras
Tão caipira quanto amoroso
Pavio curto e
dedicado
Crescido na roça, sofrido na vida
Não esmorecia pelo penoso passado
Importava com seu
recanto
Sua casa, suas obras
Sua companheira, sua
família
E comigo, seu neto...
Do simples
Tão simples quanto a prosa
Que de tão prosa se fez verso em meus ouvidos
Lateja no peito e na
alma as lembranças
Tão simples quanto a vida poderia ser
No antigamente
daquele tempo
Em que existia também
uma prosa que se tecia a dois
E continha nela
aquele amor de respeito
Naquela casa que se
fazia reza e novena
O almoço de domingo depois da missa
Ali, tão perto do coração
Lá, tão longe das minhas mãos
Para o que não se tinha, tinha o improviso
Para o contraposto do
pronto, havia o rústico
E para me fazer
contemplar a vida, apenas o simples...
Ao som de uma moda de
viola
Meu coração percorre longe
Passando pelo jardim
das rosas
Das primaveras
Entrando pela porta
da sala
Atravessando a
pequena cozinha
Em direção ao quintal
Meu pé de ameixa
Que fora o avião das minhas brincadeiras
O gramado que fora o mar
A terra em que construí castelos
Então, volto sujo do quintal pro bom banho
Dali pra janta tão mais simples e saborosa
Um pouco de sala, causos e mais prosa
Até partir pra cama em quase tarde da noite
Enfeitada com a colcha de retalhos pelas mãos dela
As mesmas mãos que se me espera a tua benção...
Um pouco de sala, causos e mais prosa
Até partir pra cama em quase tarde da noite
Enfeitada com a colcha de retalhos pelas mãos dela
As mesmas mãos que se me espera a tua benção...