"O plano divino da salvação parece dar-se antes mesmo do evento epifânico no tocante à encarnação. Desse modo é evidente que tal fato revela o ponto fulcral para a continuação da "obra começada" na humanidade, feita pela desobediência dos primeiros pais. Entretanto, a encarnação do verbo inaugura um tempo novo que impulsiona o surgimento da eclésia enquanto continuadora do projeto divino por intermédio da graça que pressupõe a transformação do gênero humano."
À igreja de Cristo compete a missão de
continuar o projeto divino de salvação. Ela deve possibilitar a transformação
do gênero humano para que cada ser em si alcance a graça que lhe é devidamente
merecida. Uma vez que a salvação deve estar ao alcance de todos, conforme o
mérito por suas ações, a eclésia não deve ser empecilho nem impor pesados
fardos ou rigor exagerado às pessoas com a intenção de mantê-las sob sua
custódia através da doutrinação e do medo da condenação eterna. Se ela foi
gestada para ser continuadora da obra nada mais justo que manter o rigor
conforme a vida de Jesus que foi regada de amor e misericórdia.
A encarnação do verbo quebra paradigmas
de um tempo estagnado pelas leis políticas, sociais, morais e, principalmente,
religiosas. Ela é uma ruptura que ocorreu nesse entremeio, entre o velho e o
novo. Essa mesma ruptura, esse rasgar de cortinas, foi acontecendo no íntimo
das pessoas que, primeiramente estiveram próximas do Verbo, um seleto número
que foi o pioneiro na continuidade do plano salvífico e responsável pela
estruturação inicial da eclésia.
Entre a encarnação do Verbo e o
surgimento da eclésia existe um tempo que foi o propulsor motivacional para a
continuação da "obra começada". A atuação do Verbo encarnado no mundo
enquanto filho amado de Deus, irmão dos homens e, principalmente, a voz que
ressoa no deserto contra os algozes da vida, foi o fator fundamental para a
conversão e adesão das pessoas ao projeto de salvação e sua continuação, a
eclésia.
Com o passar do tempo, a continuidade
da obra, tendo objetivo principal a salvação para todos, foi-se
desconfigurando. A individualidade do ser humano não foi levada em conta, ao
contrário, as normas nivelaram a todos e se engessaram desde o início da
organização eclesial. A salvação virou produto que se adquire mediante os
cumprimentos das regras estabelecidas. Regras essas que foram feitas para uma porção
apenas, não para todos, uma vez que havia muitos excluídos que já estavam
condenados por sua condição social. A fé propriamente dita não era levada em
conta.
A partir do ponto fundamental, que é a
encarnação do Verbo, o divisor dos tempos entre o velho e o novo, dá-se início
a uma nova possibilidade de vida. A esperança na justiça divina que, pode atuar
diretamente no gênero humano, passa a ser enxergada, sentida e trabalhada na
individualidade e também na vida em comunidade. A eclésia se organiza e acerta
mas também se perde e comete erros com a justificativa de que exerce o seu
divino papel, a ela incumbida por Deus no projeto que deveria ser de salvação e
não de condenação. A história nos revela capítulos de martírio e terror
pintados com o sangue de inocentes.
Na contramão da conveniência eclesial,
ao longo dessa história de derrotas e vitórias, surgem grandes nomes que
entendem o sentido real do plano de salvação e travam verdadeiras batalhas
contra o poder institucionalizado, que em nossa atualidade essa luta ainda
acontece nos bastidores e nas comunidades.
Enfim, mais de dois mil anos se
passaram e muitos apedrejamentos, chicotadas e crucificações são sentenciadas
de forma velada, através de palavras, atos e omissões, aos considerados
pecadores e subversivos pelos defensores da doutrina, esta que deveria trazer
para perto ao invés de condenar. Sendo assim, considera-se muito que o atual
detentor da cadeira de Pedro, papa Francisco, esteja fazendo um trabalho
dignamente próximo e coerente com a missão verdadeira a qual a eclésia foi
constituída: "a continuação do plano salvífico por intermédio da graça
divina que transforma o gênero humano."
AVALIAÇÃO DE TEMAS FUNDAMENTAIS
PROFº
MARCIO FERNANDES
6º PERÍODO DE TEOLOGIA - FCU
6º PERÍODO DE TEOLOGIA - FCU
24/06/16