quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

2020, o ano que não terminou



2020 poderá ficar marcado para sempre como o ano que nunca se acabou. As consequências de tudo o que vivemos e passamos serão marcas eternas em nossa vida, em nossa alma. 

Muitos distantes que se fizeram próximos, muitos próximos que se distanciaram. Enquanto fomos obrigados a usar máscaras por um bem maior, muitos seres tiraram a máscara e mostraram sua verdadeira face.

Vidas se perderam e com o distanciamento percebemos o quanto um tato, um contato, um abraço faz falta.

Se eu tiver que escolher algo em que acreditar e levar para o próximo ano, se eu puder ter esperança em algum sentido, depositarei toda a minha fé na Justiça, a dos Homens e a Divina.

Que 2021 não seja apenas o reflexo ou simplesmente a sequela do que passamos até agora, mas que realmente seja um ano de muita humanidade, sensatez, esperança, fé, e que o sonho jamais se acabe... "E que a maior revolução seja o Amor!"

Feliz Ano Novo!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Esperas ou esperança?



Na busca diante das incertezas se vive a sentenciada espera... Espera pela vitória, espera pelo alívio, espera pelo alcance de uma meta. Pouco se fala do tempo de espera que também é de tentativas, frustrações, derrotas, lona, dores, suor e lágrimas. Esse é o tempo do aprendizado, que em sua maioria é cercado de medo, dúvidas, sentimentos de desistência, escuridão e tempestades. Há um fio que permeia ambas as margens, que podemos considerar como sendo a esperança ou a falta dela. 

É preciso se apegar para não ser um náufrago em terra firme. Afundar no medo e na incerteza é não crer em si mesmo, é podar a esperança de que um dia a vitória será certa. Mas antes da esperança, o sonho se tece. E em cada pedacinho costurado nesse sonho, vamos alicerçando sua realização. Espera sem luta é vã. Desistir sem tentar é não se acreditar. 

"Todo ser humano pode. Se tem algo que o ser humano pode é poder." Há algo que está implícito nessa frase de efeito e empoderamento de gênero que é a capacidade humana além do poder, o pós poder. Há quem não saiba o que fazer com o poder alcançado e mete os pés pelas mãos. Todo ser humano pode sim, mas nem todo ser humano é capaz de lidar com a vida depois. 

"Todo ser humano morre, mas nem todo vive." Essa sim é uma frase épica, pois o que mais se vê são defuntos vivos, gente que habita um corpo mas não vive a vida. Deposita todas as fichas na conquista dos materiais diversos enquanto a balança da essência flutua sem peso. Se tem algo que o ser humano, independente do gênero, devia se dedicar era para a vida, a vivência.

Longe de embarcar nessa vibe de coaching que vagueia entre frases de efeito e insigths de auto-ajuda, terapia, psicologia e não conclui muita coisa além do que já conhecemos. Daqui deste reduto só poetizo a problemática que retumba à minha volta. 

O tocante desse contexto abordado em um emaranhado de pensamentos livres e devaneios necessários surge num momento ímpar, momento em que liberdade e libertação se alinham, dialogam e se confrontam. São apenas os ecos das vozes que coabitam entre corpo, alma e coração e buscam deliberadamente o canto em que o encanto permanece pairado no nosso recanto.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Entre desertos e trincheiras

 

Entre um deserto e uma trincheira a vida se tece
Durante meus desertos carreguei o peso do meu próprio mundo
Com minhas livres decisões e também com aquilo que me foi imposto
Em minhas trincheiras reencontrei quem já partiu
E aqueles que merecem toda confiança e amizade
Lágrimas e suor limparam qualquer vestígio de dor
Aquilo que chamam de derrota eu trato como lição e aprendizado
Tombo e lona não são vergonhosos
Vergonha e desonra é para quem foi desleal
Estes, sempre serão lembrados por seus atos covardes...

Entre um deserto e uma trincheira, o pensamento e a luta
Minhas manhãs de deserto, sem brilho e sem sol
Solidão a sós, em nós, nas lutas desarmadas, desalmadas
Trincheiras da vida, da lida, da labuta
Poeira nos olhos, calor, dor, presença
Há quem nunca ouse acreditar
Há quem nunca queira sonhar
Mas há quem só quer lhe roubar
A esperança, o sonho e a vida
Sua própria travessia... 

Entre meus desertos e minhas trincheiras...
Ah, quanto medo derrotado, quanta dor perdoada
Entre meus mundos, eternas lições
Entre meus devaneios, anjos e demônios
Entre o sonho e a realidade, fantasmas e esperanças
É assim, é a lida, é a vida... meu saber, meu querer, meus sonhos
Ninguém rouba, ninguém tira, ninguém mira
Só quem tem a chave e conhece o desejo, o segredo
É capaz de decifrar, sentir, pulsar,
Tanta ternura, loucura, amor... 

Entre vitórias e derrotas, a vida e a morte
Há quem sabe um tanto de suor e um dedo de sorte
Mas poucos conhecem a dureza das batalhas
Foco na intensidade das pegadas, e me afasto das migalhas
Maquiagens não me distraem, imagens não me atraem
Em meu rumo e meu foco só cabem essência
Lado a lado, de mãos dadas, pés descalços
Descarto a frieza da mórbida aparência
Enterro vivo os corpos desalmados
E assim cicatrizo meus próprios machucados...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

A vida, a travessia, o amor e a solidão


 A vida é estranha, mas também engraçada. Ela é difícil, repleta de desafios, surpresas, decepções, conquistas, derrotas, suor, lágrimas e sangue... Tudo isso e mais um tanto de considerações fazem parte da ação, do "viver a vida", da travessia que fazemos desde nossa concepção no útero materno até o apagar das luzes. 

Noutra óptica, ela é o oposto de morte. Lançamo-nos o desafio diário de viver intensamente porque ela é uma só. A morte é certa, é a parada final, o encerrar do espetáculo. E quando as cortinas se fecham, sobram apenas as lágrimas da plateia. 

"O tempo que escoa não permite despedida
Todo dia ecoa uma nova chance
Todo dia destoa uma eterna partida
Há quem nunca mais alcance
Viver a vida como haveria de ser vivida" ("Espelho da Alma" - Cá de dentro - A.D.O. - 2015)

Sempre ouvi histórias sobre maritacas, de que elas formam casais inseparáveis até o fim de suas vidas. Pesquisando sobre, pude conhecer a diversidade de nomes e suas variantes de cor que predominam em determinadas regiões do nosso país. Claro que existe sim um certo exagero, que alguns consideram como mito a questão da fidelidade de seus pares. Por razões diversas, a formação dos casais pode se dissolver ao longo do tempo. Como eu disse, por razões diversas que não cabe explicar aqui. O que há de interessante e romântico nisso é que em sua maioria, os casais são eternos e quando um deles morre, o outro tende a viver só.

Essa experiência eu tenho acompanhado de perto, aqui onde estou. Notei que uma maritaca tem se aninhado sob a aba do telhado na lateral da casa. Quando passo por ali ela bate as asas em disparada e voa pro alto dos coqueiros. Está sempre só. Parece esconder-se do mundo. Recolheu-se em luto num cantinho incomum. Animais também sofrem de amor e solidão...

"No repente do tempo
O tempo de repente se vem
No repente do tempo
O tempo de repente se vai" ("No repente do tempo" - Cá de dentro - A.D.O. - 2015)

A vida é um exagero... e vai da ação de cada um para entende-la como boa ou não. Prefiro crava-la como um presente único que recebo diariamente. Que, no decorrer do tempo, tenho a oportunidade de vivenciar, experimentar, degustar, saborear, lutar de forma intensa por mim mesmo, pelos que amo, pela sobrevivência, pela essência... Não serão objetos adquiridos ou construídos que deixarão memórias de quem partiu. Mas, a ação da construção, o tempo dedicado, o sorriso aberto e o pensamento calado que se eternizarão...

"Vida na memória...
é o som que reverberará por toda a história" (A.D.O. - 2019)