quarta-feira, 28 de junho de 2023

Sol da primavera



(...) 
e, então, sigo para qualquer canto
onde o sol possa secar meu pranto
no deserto do silêncio aprisionado
o brilho da lua se torna solo sagrado
tocam minhas faces ventos de oração
enquanto o som da brisa se torna canção
é a saudade de quem já partiu
trazendo-me afagos do amor que sempre existiu
a dor que não se vê 
nas entrelinhas que não se lê
gritam-me os demônios de outrora
fazendo doer minha alma no agora
névoas que dificultam a travessia
sem luz, sem destino, em cada passo do meu dia
viajante do meu tempo
vagueando pelo sentimento
em busca do sentido
que ainda há de ser vivido
deixando pelo caminho
lembranças de dias sozinho
rascunhos de sonhos, desejos e espera
em tempos de sangue, suor e guerra
das dores de um passado recente
lembranças e cicatrizes ainda se fazem presentes
em dias de invernos sentimentos entre céu e terra
sigo noite adentro à espreita do sol da primavera

Império do Tempo - o querer


Podemos retornar, em algum momento,
mas, jamais no tempo
O retorno existe, no espaço físico
porém, o que se viveu
ou deixou de viver
fica apenas na memória, 
na consciência
na saudade
ou no arrependimento
não se pode reescrever sobre linhas preenchidas
escrever novos capítulos é uma possibilidade 
talvez única
essa, está no campo do querer

O império do tempo


"Não vivo por vitórias, pelo menos não aquelas que movimentam a sociedade em busca de um pódium de superioridade. A vitória consiste em estar bem, feliz, realizado, amar e sentir-se amado. É clichê mas, a vida é uma vitória diária. Quero apenas vivê-la." (05/03/23)


"Não escrevo para me livrar do tédio do tempo, essa espera eterna pelo amanhã. Escrevo para expressar o amor, para chorar em palavras, cada dor... Escrevo porque o que acontece nas linhas e entrelinhas de cada pensamento, me ajudam a superar os tormentos." (10/04/23)


"Tenho medo em voltar. Voltar no tempo em que me aprisionei, me desfiz, me perdi e me reconstruí. Mas, quando volto a dor não se vê. Ela me tira o chão, a visão. Prefiro então não sentir onde estou. Prefiro a dor física, a do corpo, a do cansaço e da fadiga, irrigada de suor e sangue. Ela ajuda a situar-me na realidade e na vida." (12/06/21)


"Nossos piores momentos nos define..."

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Deturpações da fé



"A prisão foi um propósito de Deus". Não. Não mesmo! 

Da até pra explicar por raciocínio lógico ou regra de 3. Deus é amor. Amor não fere. Deus é pai. Pai não descuida. Logo, Deus que é amor e pai, não permitiria uma injustiça dessas. 

Erros humanos acontecem e aos montes. E muita gente inocente paga por tais erros. No entanto, essa fala, vem muito do discurso neopentecostal e carismático Católico de hoje, oriundo da Teologia da Prosperidade. "Deus te dá, mas você tem que pagar por isso. Pagar no sentido de "dinheiro e bens" mesmo. Correntes como a do Edir Macedo e do Valdemiro Santiago chegam a dizer que você tem que doar tudo e depois cobrar de Deus. Você tem que exigir sua parte de Deus. 

A moça, na simplicidade e humildade, tirando forças e lições do que vivenciou, ressignificou o pesadelo creditando a Deus todo o ocorrido. Como que, Ele quisesse lhe dar uma lição por um bem maior.

Muitas coisas acontecem por consequência de nossas escolhas ou por erro de terceiros, como no caso dessa moça. Mas, é tranquilo entender as palavras dela. E, por outro ângulo, não está errada levando em conta que toda religião, com raras exceções, traz esse tipo de argumento. 

Dentro da própria família sempre ouvimos desde cedo que Deus castiga, e por aí vai. Em outras situações, muita gente vive na miséria, e ouve nas igrejas que isso também é um propósito de Deus. "Deus está te provando!" 

Ao contrário do que a religião deveria ser e fazer (ser libertadora e praticar a libertação), ela acaba alienando e fazendo a pessoa acreditar que tudo isso seria um desígnio de Deus em sua vida. 

É extremamente importante, para quem crê, buscar a verdade para além das falácias oriundas dos empresários da fé e dos movimentos que corroboram para manter os fieis presos por medo a um Deus castigador, que já não cabe na sociedade já tem mais de 2000 anos. 

Ailton Domingues de Oliveira
Adm ∞ 
Teo ΑΩ 
Psic Ψ (acadêmico)
Escritor & Poeta
*Pós Graduando em Psicanálise, Coaching e Docência do Ensino Superior

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Relação de avatar



As pessoas se impressionam com as imagens postadas. O encantamento gera sentimentos, paixões, fetiches e aquela imagem passa a ser objeto de desejo por quem se sentiu atraído por ela. Quando há uma reciprocidade de atenção e interesse, e a possibilidade de conhecimento é real, os anseios para um romance ou um encontro trivial crescem. Muitos procuram algo estável. Porém a realidade é outra a partir desse conhecimento real. Muitas vezes, aquilo que era desejo, torna-se frustração. A imagem do post era apenas uma imagem. A ilusão criada pelas caras e bocas, pinturas esculturais na imagem, que provocaram o pensamento, o instinto, o sentimento em si, foram desconstruídas à medida que a realidade se mostrou além do sorriso, do olhar da figura retratada naquela imagem. O sentimento foi por um avatar, um sentimento por algo figural, esculturado e cultuado nas redes sociais que, hoje, tem um poder de persuadir de forma ampla. Amor Líquido de Baumann traz essa fragilidade das relações atuais, que são superficiais, rápidas, descartáveis. Tudo muito passageiro devido ao interesse de momento que não tem perspectiva de amadurecer e crescer para a continuidade. As relações estão assim, cada vez mais superficiais. Tudo é apenas uma questão momentânea que, em sua maioria, não é nem a busca por uma satisfação rápida, mas a necessidade de se ter o protagonista daquela imagem para si. No mundo virtual tudo dá certo, é lindo, perfeito. Os avatares tomam conta dos espaços. Trazer a figura, o avatar, para o mundo real é um caminho em que as máscaras maquiadas caem, o visual que fora encantador é destronado pela falta da essência. Não é regra, mas isso faz parte do cotidiano e da vida de muitos. 

Ailton Domingues de Oliveira
Adm ∞ 
Teo ΑΩ 
Psic Ψ (acadêmico)
Escritor & Poeta
*Pós Graduando em Psicanálise, Coaching e Docência do Ensino Superior

domingo, 11 de junho de 2023

Sacrifício ou misericórdia - um olhar teológico



A igreja, o templo é um lugar de acolhida. Pelo menos deveria ser. E, quem a ela busca, precisa encontrar as portas abertas e não fiscais da fé, como disse o Papa Francisco. Isso vale para toda e qualquer religião. Quem busca é porque precisa. A igreja é para esses que tem esse sentimento, essa certeza e essa fé de que necessitam melhorar enquanto pessoas. Todo aquele que julga é porque está convencido de que é superior, puro, não comete erros, deixou de ser pecador. E, para sua decepção, a igreja não é para estes. 

O sacrifício que os "santos da verdade" fazem para se manterem no direito de julgar e sentenciar é vão, porque justamente a hipocrisia é vã. O "céu" deve estar cheio de pecadores enquanto o "inferno" com certeza está repleto de puritanos com véus. A igreja é lugar de gente que busca, que está a caminho, porque não existe uma conversão da noite para o dia. Toda conversão é diária. Toda mudança é uma construção. E essa construção é eterna. Passamos uma vida em construção e ainda assim não temos certeza do nosso último destino. 

O que não dá pra aceitar é que uma leva de seres que se acham como os mestres da lei da bíblia, só porque conhecem tais leis, só porque se sentam nos primeiros bancos, façam julgamentos sobre a vida alheia. Deus é amor. O Antigo Testamento foi renovado pelo Novo Testamento. Jesus veio para provar que a vida humana é mais importante que as regras sociais dos homens. 

Todo aquele que se acha superior já sentenciou a si mesmo. Adão e Eva foram expulsos daquele paraíso justamente pela vaidade e necessidade de se sentirem superiores. Quiseram o poder e encontram a ruína. Deus não odeia ninguém. Não odeia nem os empresários da fé que colocam palavras em Sua boca. Não odeia nem aqueles que enriquecem ilicitamente usurpando dinheiro e bens dos menos favorecidos e esclarecidos. Se algum líder religiosos ou instituição usar esse termo, "Deus odeia isso ou aquilo", duvide desse ser, de sua palavra. Tenha certeza que ali o único deus que existe é o do poder e do dinheiro. Até o Deus castigador do Antigo Testamento era um meio para manter os fiéis sob o poder da instituição. Ainda hoje existem deturpadores da fé.

Deus é amor, Jesus é misericórdia. E é isso, apenas isso, esse olhar que temos que ter para com o próximo. Em especial aquele próximo que vive marginalizado por regras sociais. Misericórdia, empatia, amor, caridade é isso que enquanto pessoas de fé, ou simplesmente seres humanos, nós precisamos ter para com o outro. Mesmo que não acreditemos em Deus, ou não tenha fé em nada, ainda assim, a regra maior é a do respeito, da misericórdia. Muito cuidado! Toda religião deve ser fonte de libertação para o ser humano. O que não te liberta, te aliena e te aprisiona. 

Ailton Domingues de Oliveira
Adm ∞ 
Teo ΑΩ 
Psic Ψ (acadêmico)
Escritor & Poeta
*Pós Graduando em Psicanálise, Coaching e Docência do Ensino Superior

sábado, 10 de junho de 2023

Carta aberta: orgulho x hipocrisia



O assunto é delicado e pode levar a inúmeras interpretações equivocadas. Por isso é sempre necessário invocar o bom senso, ter empatia, saber acolher e se posicionar em prol da dignidade humana. Para início de conversa trago a seguinte questão: Quantos tipos de orgulho existem, ou melhor, como podemos interpretar a palavra "orgulho"? Particularmente, penso de duas formas: existe o orgulho, em seu significado negativo, que impede o ser humano de se redimir de algum ato cometido, o qual o resultado tenha sido prejudicial a si, a outros ou a uma situação; e, existe o orgulho, em seu aspecto positivo, aquele que nos enche de prazer e, que se dá no momento em que elogiamos alguém, "você me enche de orgulho". Como pai, não me canso de repetir aos meus filhos, o quanto eles me enchem de orgulho. 

Estamos nos aproximando de uma data em que já é um marco nacional e mundial: a PARADA DO ORGULHO LGBTQIA+. E esse termo é repleto de significado positivo, porém, incomoda os padrões de uma certa ala da sociedade. A PARADA não é apenas um ato de representatividade, é um momento de juntar forças e poder expressar, entre protagonistas, simpatizantes e apoiadores, o ORGULHO por ter tido a coragem de assumir perante ao mundo, aquelx que realmente é: simplesmente VOCÊ! Não é um movimento provocativo, nem impositivo mas um ato simbólico e de protagonismo que se expande para além do momento. Ao mesmo tempo há uma provocação sim mas, para que, enquanto telespectadores, saiamos do nosso anonimato e lutemos por igualdade para todxs, bem como a única imposição que existe é a de si mesmo, ao se aceitar como é de fato, sem precisar se encaixar nos padrões impostos. 

No tempo que antecede esse encontro, mercadores da fé usam de seu púlpito pseudorreligioso, ora transformado em palco de exibicionismo, ora em palanque de moralismo seletivo e, ora ainda, em tribuna religiosa para sentenciar àqueles que não se encaixam nos padrões sociais ditados por sua instituição. Segundo essa corrente seletiva de fé deturpada, tais desviados dos padrões são sempre merecedores de um certo inferno. E inferno sempre foi usado para usurpar e manter os fiéis submissos e alienados. De forma teológica, que meu ínfimo conhecimento acadêmico nessa área me permite, gosto sempre de lembrar e ressaltar quem foram os escolhidos citados nas passagens da bíblia cristã, o qual tinha como protagonista o nazareno, este que foi condenado por instituições religiosas, tido como blasfemador; literalmente um preso político de seu tempo. Ele dava voz e vez aos excluídos da sociedade: prostitutas, ladrões, cobradores de impostos, etc. E na contramão das regras sociais condenava a hipocrisia exacerbada dos mestres da lei e donos dos templos. Vale ressaltar que as instituições religiosas daquela época tinham poder igual ou maior ao do Estado. 

Nesse mesmo tempo em que uma instituição, que prega fé cristã, através de seu líder que usa das mídias, inclusive de seu canal de TV para segregar, dizendo que Deus odeia o orgulho, referindo-se ao ORGULHO LGBTQIA+, isso literalmente é tido como uma incitação nada velada de ódio e que pode acarretar formas violentas de expressão contra os protagonistas desse movimento, a PARADA. Na mesma semana em que esse líder religioso se manifesta, o pastor de uma de suas filiais foi preso, suspeito de estuprar adolescentes.  Talvez, se o dono desse templo institucional se preocupasse menos com a sexualidade alheia e tomasse conta dos gestores de suas filiais, dito religiosas, crimes assim não aconteceriam. Isso vale para toda pessoa e para todo tipo de instituição que se acha detentora exclusiva da verdade e no direito de classificar quem é ou não digno de sua aprovação arcaica. Veio à tona também, nas redes sociais que, sua instituição foi uma das que mais lucrou no Governo passado. Nesse caso, o silêncio tornou-se ensurdecedor. Os tempos mudaram mas os excluídos ainda existem e resistem contra o sistema discriminatório. Infelizmente os hipócritas também estão por aí e à solto. 

Nascido em berço Católico, conheço a fundo as diversas ideologias religiosas existentes nos bastidores da igreja. Devida à sua extensão, existem inúmeros braços e formas de se trabalhar mas, infelizmente , também está regada de moralismo seletivo, hipocrisia, deturpadores da fé e bandidos disfarçados de cidadão de bem. Minha formação e atuação sempre se deu através da Pastoral da Juventude, que tem uma representatividade muito forte nas questões sociais, políticas e lutas de inclusão. Sempre me mantive alheio aos exibicionismos de fé e shows milagreiros e midiáticos. A maior forma de se viver uma espiritualidade e praticar a fé é respeitando o outro, o próximo. O que não se pode tolerar são as formas de segregação que culminam em discriminação e preconceito. Falo aqui da vertente cristã (católica, evangélica, protestante, pentecostal, neo-pentecostal, etc...) porque é a que tem mais adeptos. Demais religiosidades, como budismo, espírita e as de matrizes africanas têm uma prática mais inclusiva e social.

Penso que, se a religião não te liberta e te faz perseguir e atacar minorias, tome cuidado. Você está sendo enganado, usado e manipulado. O intuito é te manter cego, surdo e mudo, enquanto você sustenta os vícios e regalias dos magnatas da fé.

Como pai de dois filhos, já trouxe em outros momentos que tenho um filho assumidamente dono de si: liberto de amarras, livre de mordaças. Considero um ser de muita luz, inteligência e amor, ao qual me ORGULHO dia e noite. Por ele, por eles, estou contra qualquer tipo de sistema opressor, seja religioso, seja político, seja de algum hipócrita sem noção que se punha no caminho. Para além de política e principalmente de qualquer crença religiosa, nossa missão é sempre combater a favor da inclusão, da igualdade, da justiça. Uma palavra resumiria tudo: amor. Amor cuidado, amor empatia, amor ao que se faz. Para além das instituições que regem a sociedade, nós, acadêmicos, que escolhemos o curso de psicologia como um meio para o futuro profissional, que tem como uma de suas missões, auxiliar o ser humano a encontrar respostas e ressignificar sua vida, precisamos nos ater e nos posicionar de forma sensata, humana e científica. 

A PARADA DO ORGULHO LGBTQIA+ está chegando, e de coração, estou me preparando para ir pela primeira vez, assistir de perto. Isso não partiu do meu filho, ao contrário, eu o convidei. E é pelo AMOR e por esse ORGULHO que tenho por ele, e pelas tantas lutas que pude presenciar e participar ao lado de amigxs tão queridxs dessa jornada, amigxs da Pastoral da Juventude, amigxs da teologia, amigxs do vôlei, amigxs das academias, familiares, afilhadxs, amigxs-irmãos de alma, amigxs da poesia, amigxs da psicologia, enfim, amigxs que a vida e o universo divinamente me presentearam, que não poderia me calar diante de tanta discriminação, preconceito disparados com ódio através daqueles que se julgam detentores da verdade. Pobres de espírito e podres no pensamento. Hipócritas. 

Essa luta não pode se findar nas palavras. PARADA DO ORGULHO LGBTQIA+ aí vamos nós!!! 


Ailton Domingues de Oliveira
Adm ∞ 
Teo ΑΩ 
Psic Ψ (acadêmico)
Escritor & Poeta
*Pós Graduando em Psicanálise, Coaching e Docência do Ensino Superior

quinta-feira, 1 de junho de 2023

Descortinando para a vida



Eu sei,
Um dia, quando
Te vi, de uma forma não descrita, apenas sentida
E você, ainda presa em si mesma
Apesar, do silêncio e ausências de brilho e sorriso, sentia que havia mais
Mais do que eu e você esperávamos
Entre desertos, trincheiras e repostas
Inquietudes trazidas à tona, na pele, na alma
Pairando sobre o pensamento e a vontade de viver
Rompendo laços de aparências
Internalizando apenas o essencial para viver uma nova vida
Mas, também eu estive ali, estou aqui, pois
Eu, amei primeiro
Inteiro
Rasguei minhas roupagens e sigo esperando
O descortinar da verdadeira mulher que te habita