quarta-feira, 14 de julho de 2021

Eu não sou forte mas minha família é


Nunca foi fácil, mas confesso que nunca foi tão prazeroso como agora. A maturidade e a sabedoria que o tempo propicia na travessia permitiu-me enxergar as diferenças como oportunidade para aparar as arestas daquilo que se excede em nós.

Ao invés de me preocupar com o que se derrama de nós, tenho focado naquilo que nos completa, nos sacia, nos motiva a prosseguir e divinamente nos contempla com o bem maior do amor e do cuidado com o outro.

Procuro a cada dia desapegar-me daquilo que um dia em nós, por nós e de nós causou dor. O passado deve permanecer lá. Lembranças vêm, mas só devem ser permitidas no campo da aprendizagem, jamais para ressuscitar a dor. Novamente a vida nos dá a oportunidade de sermos mais e melhor. Mais unidos e melhores do que já fomos. 

Meus braços e pernas, assim considero você, minha mãe. Tem me levado e me guiado por caminhos que eu não conseguiria andar só. Uma escalada rumo ao topo, da verdade, da justiça e por todo o amor que há em nós. Em dias difíceis você me dá sua presença, ao seu modo. Quando lhe faltam palavras, o teu silêncio é de fé e de força. Suas lágrimas rolaram junto às minhas em dias desesperadores.

Muitas vezes falta-me a vontade de continuar, até mesmo de me cuidar, de levantar a cabeça, mas por você tenho me motivado, expressado a minha gratidão e a vontade de cuidar de você. E assim, te ver melhor, te ver sorrindo... Não sei o que o tempo futuro nos reserva, mas sei que lá na frente teremos boas histórias pra contar, pra cantar...

Nessa jornada, entre altitudes e abismos, o que sei e posso afirmar é que talvez eu não seja tão forte, mas sei que minha família é. E ela, é tudo o que eu tenho. Família de sangue ou de laço, do berço ou da vida, não importa. Sinto que me ressignifico em pedaços e partes que se ajuntam e assim formam o meu todo. Cá estamos nós, unidos, juntos e seguindo em frente. 

Meus filhos dividem os compassos do meu coração. Minha irmã, a minha mais pura razão. Dos que se foram, guardo o sentido, a sabedoria herdada e a convicção de honrar todo o legado por eles deixado. Meu pai, a inspiração que não se explica. Tantos nomes, tantas histórias, amizades que me impulsionaram a continuar, formaram a forte costura, o elo entre minhas partes.

E o meu sentimento, a minha melhor poesia, continua a compor versos entre o sol e a lua, vivendo no jardim secreto da minha alma, corpo e pensamento, completando o valor da minha existência e o sentido da minha vida.

"Eu não sou forte, mas minha família é! E ela é tudo o que eu tenho." É com essa frase que me elevo em pensamento e sentimento, fortaleço meu ser e revigoro a força da minha existência, da minha fé e resgato a coragem para continuar a travessia. 

De tantos falsos e desmedidos apontamentos, do lado de quem não recebeu amor por parte daqueles que deveriam lhe proteger no seio familiar, entendi que, talvez, eu não tenha palavras para me expressar a minha dor e indignação mas o importante mesmo é o que as pessoas que me conhecem pensam e me respeitam e, por isso, estão ao meu lado nessa jornada.







quarta-feira, 7 de julho de 2021

Esquinas da vida


Seguia meu trajeto de carro, pelo mesmo percurso de sempre e parei num semáforo. Aguardando o tempo, pensando, observando. O bom de se passar pelo mesmo lugar é que você passa a observar os detalhes da paisagem e as pessoas que circulam por ali. Sabe que pela manhã a senhorinha sai para varrer as folhas caídas em sua calçada. O senhorzinho leva seus cachorros para um passeio. Casais retiram o carro da garagem. Os garis começam sua rotina de trabalho deixando as calçadas limpas. Cada um na sua rotina. 

No semáforo um homem de meia idade vende gominhas. Ele passa por entre os carros oferecendo. Na calçada, seu filho de 6 ou 7 anos também oferece doces para os veículos mais próximos. Ambos são cordiais, educados e mesmo de máscaras percebo o olhar humilde e singelo de quem cumpre com seu trabalho de forma digna e honrosa. O filho, companheiro de seu pai, trabalha com o mesmo empenho. Chama cada motorista em seu veículo e oferece seu produto. Sente-se feliz por isso. Trabalhando, ajudando seu pai. 

Na calçada estavam seus pertences. Duas mochilas, uma do pai, outra do filho. Todo o suor, dever, esperança carregados em poucas coisas. O descanso, o momento para um gole de água, a própria refeição se dão ali, debaixo de uma árvore que sombreia calçada e parte da rua. Ali é o seu reduto sagrado para se ganhar o pão. O pai não tem vergonha de vender doces no semáforo. O filho sente orgulho de seu pai. É tudo notável. Respeito e dignidade no olhar.

Como o carro estava na faixa que beirava a calçada fui abordado pelo menino. O vidro do meu lado já estava abaixado. Acabara de comprar pão de queijo na padaria. Estavam quentes e eu já vinha degustando pelo caminho. Seguia observando o trabalho do pai e o movimento do filho que se espelhava nele. O menino então me oferece seu docinho. Naquele momento, desprevenido, não pude contribuir para o trabalho de ambos, mas ofereci pão e queijo quentinho. E esse foi o momento ímpar.

- Não tenho dinheiro amiguinho, mas você gosta de pão de queijo?
- Gosto sim!
- Você aceita pão de queijo quentinho?
- Aceeeito! Muito obrigado.
- Por nada...

Nossos olhares se sorriram. Ele correu para contar e mostrar para o seu pai. A luz verde do semáforo me fazia prosseguir. E eu só pude ver pelo retrovisor o sorriso do pai e um sinal de positivo enquanto ele agradecia: "Deus abençoe!" 

É uma cena corriqueira, cotidiana a qual nos deparamos diariamente. Pessoas nos diversos cruzamentos dos grandes centros e bairros movimentados fazendo esforços em busca do auto sustento e o dos seus. Peças de veículos, frutas, doces, malabares, encontramos de tudo nas esquinas da vida. E o que eles têm em comum é a necessidade de sobrevivência, a coragem de correr atrás, a dignidade em forma de simplicidade, e poucos olhares atentos que se voltam para eles.

De tudo, nessa cena, ficam o olhares, da criança e do pai. Olhares que foram literalmente a minha benção do dia. Pai e filho, numa esquina qualquer em busca do pão... Juntos, felizes e unidos...

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Meu luto, muitas lutas



Quanto tempo faz

Tanto tempo se passou

Entre a dor que me define

E o que de mim sobrou

A espera do que é meu

Meu pensamento vagueia sem rumo

Perdido entre o tempo de agora

E o que me resta nessa demora

Entre fios de esperança

E uma intensa agonia

A espera que se faz por amor

É também uma sentença impiedosa

Esperar é viver, 

Ter que sobreviver

Viver para esperar, 

Por simplesmente amar

Vivo o luto da distância

E a dor da ausência

Com minhas lutas diárias

De sangue, suor, lágrimas: amor

É somente e tudo o que eu tenho

A dor que por vezes me cega

Vem carregada de indagações 

E indignação

Maldade e injustiça!

Quantas noites sem dormir

Quantos abraços sonhados

Quantos carinhos imaginados

E quantas lágrimas ao despertar para a realidade

Aos poucos, lentamente, 

Fui obrigado a desfazer algumas arrumações

Guardar um pouco das lembranças

Para suportar essa espera

Tentei mascarar minha agonia, minha dor

Não deu...

Precisei de ajuda, muita ajuda

Para suportar essa espera

Espera de saudade, por amor...

Sinto sua falta meu bebê...