quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

As faces de Cristo.

Diante de tantas injustiças e falcatruas que vemos por aí e que presenciamos no dia a dia, torna-se cada vez mais difícil ter critérios para distinguir quando uma pessoa que pede auxílio realmente esteja dizendo a verdade.
Fato: Aroaldo dos Anjos; de Volta Redonda (RJ); ex-aluno de engenharia elétrica; casado; dois ou três filhos... (pausa, para um suspiro...). “Deserto”, esta foi a palavra que ele disse e que de certa forma resumiria o momento e as dificuldades que ora tem passado. De boa dicção, assim como todo bom carioca, sem o odor de quem se embreaga nas “cachaças” da vida, ao contário, estava muito bem asseado. Seu pedido era simples: queria se ocupar de algo aqui no meu trabalho, por algumas horas ou pelo restante do dia e que recebesse o que achássemos merecido diante do seu desempenho.
Confesso que de ímpeto, quando ele se apresentou e logo perguntou se eu era o dono do comércio, o primeiro pensamento foi de pensar em um jeito de despachá-lo. Isso aqui na cidade onde moro tem se tornado quase que um comércio paralelo. Pedintes que atuam nos semáfaros dentre outros casos de pessoas que passam pelas ruas do comércio semanalmente pedindo ajuda financeira para voltarem às suas cidades de origem tem sido alvo de investigações policiais e muitos noticiários e reportagens na mídia.
Bom, algo me fez olhar em seus olhos e sua face e enxergar além... Não sei explicar, aliás, não consigo... E sei que por melhor que essas palavras descrevam tudo o que aconteceu neste ambiente de trabalho em menos de meia hora, sei que não conseguirão transmitir toda sensação do momento vivido...
Estávamos em três aqui na empresa. E sei que de certa forma todos sentiram a mesma emoção ao escutar as palavras daquele homem. Ele até mostrou um álbum de fotos que carregava em seu bolso juntamente com um boletim de ocorrência o qual mostra que perdera todos os seus documentos, além de passagens que guardava desde a cidade a qual seu projeto fracassou, Araraquara (SP). Havia deixado, pelo que percebemos, sua família em Volta Redonda, em busca de um investimento no mercado de carnes nesta cidade do interior de São Paulo. Por vários obstáculos, o qual dispenso descrever, o negócio não deu certo, aliás nem saiu do papel por conta das burocráticas normas para se estabelecer comercialmente. Perdera tudo.
Pediu-nos a gentileza para que acessácemos seu “orkut” com o propósito de ver se havia algum recado de seus amigos ou familiares. Nada.
Aldo, assim como está denominado em seu orkut, queria um trabalho temporário para este dia somente, receber com dignidade pelo serviço prestado, que fosse lavar uma privada, varrer a loja e a calçada, lavar um carro, não importava, precisava sentir-se dígno e humano novamente. Pedi um dinheiro emprestado no caixa da loja, por fim todos se comoveram e colaboraram. Juntamos um pequeno montante, o qual ele necessitava no momento. Demos pão e café.
Quando botou os pés para fora da empresa, seu semblante já era outro. Transparentemente feliz, renovado, muito mais pela atenção que lhe dispensamos ao que pudemos contribuir e oferecer.
Em suas fotos no orkut, no seio familiar, conhecemos sua mãe, seus filhos, irmã e esposa. Uma vida modesta e feliz.
Durante o tempo de nossa conversa, pedi licença pelo menos umas três vezes para não chorar junto com a face daquele homem. Ele precisava de auxílio e não eu de consolo. O momento era dele, só dele.
Ficamos ainda durante um bom tempo falando sobre o assunto, Aldo, a vida, as nossas vidas. Parece que nossos atos não nos significaram nada. Parece que poderíamos ter feito mais, ter acolhido mais, mas, tivemos medo ou receio de estar caindo nas lábias de  mais um estelionatário. Valeu-nos a consciência e a coragem de ouvir sua história.
Particularmente, tentei enxergar além. Tentei ver naquela face sofrida e amargurada, exausta pelo “deserto”, o qual mencionara no início de sua apresentação, uma face divinamente humana, um rosto coroado pelas angústias do caminho percorrido, uma alma crucificada pela dor de suas próprias escolhas, uma face de Cristo, um Cristo divinamente humano e presente ali, na minha frente...
Acredito piamente, que Deus se manifesta nas adversidades. Ao contrário da imaginação fértil que tínhamos quando criança, de um Deus severo, de um Senhor de barbas brancas prestes a punir se desobedecessemos aos nossos pais, hoje a percepção é outra, um Deus humano, um Deus próximo, um Cristo expressado nas faces de tantos próximos que cruzam nossos caminhos.
Sei que algo novo marcou nossos caminhos e nossas vidas hoje. Sei que a possibilidade de nos reencontrar é praticamente nula. Mas sei também, que vou carregar no coração a face deste Cristo que por hoje tirou-me da realidade e me fez enxergar a face divina contida em tantos semblantes perdidos por aí... É Jesus, meu Deus humano...

Ailton Domingues de Oliveira
25/01/12

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Duzentona !!!

“Neste tempo de tantas escritas
De verso e de prosa
De críticas e poesias
De brigas e nostalgias
De tristezas e alegrias
De polêmicas e romances
De perdas e ganhos
De derrotas e vitórias
De desilusões e glórias
Em meio a tantos temas
No olho de tantos problemas
Ou furacão
Mais do que uma fuga
Mais do que uma superação
As entrelinhas foram e são
Confidente, emoção, coração e razão
Já dediquei linhas aos amigos
Já perdi tempo falando dos inimigos,
Dos hipócritas, dos idiotas...
Já falei de amores
Já escrevi das flores
Briguei contra os sem escrúpulos de plantão,
Os aproveitadores
Já bati de frente com doutores
Chorei de saudade nas entrelinhas
Gritei a liberdade
Joguei pedra no avião
Corri atrás do caminhão
E do cachorro do vizinho
Abrilhantei ao sol
Decorei a lua
Corri e cansei
Bebi, embriaguei
Sorri, mas também chorei
Chorei a dor da partida eterna dos queridos
Chorei a emoção da chegada dos esperados
Sorri pra vida, mesmo quando foi dura
E muito mais que uma lição, parecia uma surra
Cantei, prosiei, recitei, falei, gritei, protestei
E mais do que um cenário sobre o palco
Fiz de cada momento descrito, único,
Eternizado nas entrelinhas do tempo
Amigos, família, Deus, sempre ali, nas linhas,
Aqui no coração...”


“Duzentona se refere à 200ª postagem no blog. Na realidade a contagem correta seria 210 postagens, algumas porém ficaram opcionalmente de fora. Obrigado a todos e todas que leram e acompanharam de perto ou de longe...”

Ailton Domingues de Oliveira
16/01/12

Apenas imagine

“Imagine a cena: um homem paralítico descido pelo telhado...
Imagine a cena: um leproso implorando por sua cura...
Imagine a cena: somente uma fala àqueles que puniriam a pecadora...
Imagine a cena: somente um olhar à mesma pecadora...
Imagine a cena: um homem espiando atento de cima da árvore...
Imagine a cena: um cobrador de impostos sendo chamado a segui-Lo...
Apenas imagine...

Imagine a cena: as lágrimas ao saber da morte de seu amigo...
Imagine a cena: a dor da traição pelo beijo...
Imagine a cena: a dor da decepção ao ser negado...
Imagine a cena: a dor ao cair no chão e seu olhar encontrar o de sua mãe...
Imagine a cena: de cima da cruz, sentir medo e solidão e clamar aos Céus...
Apenas imagine...

Incrível, como mais de dois mil anos se passaram e as mudanças que este eterno Homem causou ainda são presentes em nossos corações. Impossível falar de amor e perdão sem voltar os olhos para a Sua cruz e sentir o descompasso tirar nosso chão.
Indiscutível falar de justiça e paz, igualdade e liberdade sem pensar nos critérios por Ele usados para salvar os pobres, dar voz aos excluídos e lutar contra os corrúptos.

Quantos desses leprosos e paralíticos encontramos no dia a dia buscando por cura, por direito, por igualdade...? Quantas pecadoras ou pecadores cruzam nossos caminhos e, sem hesitar, eis que os holofotes os apontam e os dedos os condenam...?

Superação! Como perdoar a quem Te traiu? Como aceitar a quem Te negou? Como não culpar e condenar o mundo que Te condenou? Como??? Como...
Como não apaixonar-se por Ti, por Tua vida, por Tua história...? Como não imaginar cada um de seus atos de amor, seus passos de solidariedade, seus gestos de caridade, tua compaixão pelos menores, os excluídos, a escória que os doutores assim os condenam...? Tantas perguntas, tantos questionamentos, uma busca incessante no caminho intenso e eterno de sua vida...”


Ailton Domingues de Oliveira
17/01/12

Marcas, eternas marcas...

“Caminhada... que caminhada!!!
Caminhei até aqui,
Por sombras, montanhas, céu e mar...
Sob o sol e sob a lua
Chuva forte, suaves brisas
Ventos cortantes, tempestades...
Marcas, eternas marcas...

Carrego no peito
O anseio da vitória
Da vida
Dores que passaram
Sombras que desfrutei
Perigos que sobrevivi
Paixões e amizades
Marcas, eternas marcas...

Donde estou
Olho para cima,
Para os lados
Para o passado
Vejo as frutas no topo
Percebo a distância percorrida
As dores sofridas
Esperança
Na soma de tudo a vitória
O espaço conquistado
Coração apertado
Vale encontrar no olhar do pequeno
A recompensa de estar presente
Marcas, eternas marcas...

Pra onde vou,
Não sei, talvez
Sei o que não posso mais
Sei o que não quero mais
Sonho onde quero estar
Ao lado do meu príncipe
Meu tesouro e inspiração...
Sei o que quero continuar a ser...
Não importa mais o que passou
Importa é que estou aqui...
Marcas, eternas marcas...”


Ailton Domingues de Oliveira
17/01/12

Mãos e Pés...




“De mãos estendidas
O vejo pelo caminho onde passa
A curar feridas
Com toques e gestos sublimes
A misturar cuspi e terra
E do barro fazer o cego enxergar

De pés descalços
O vejo a caminhar...
Caminhando vai,
Rumo ao destino de amor
Sangue, suor, lágrimas e dor
Pés que deixaram marcas por onde pisaram
E de seus passos um longo caminho se abriu

De mãos e pés chagados
Peito aberto
Coração transpassado
Admiro, hesito, suspiro...
Entrebalanço o olhar no silêncio
De encontro ao mesmo olhar
Voltado àquela que seria apedrejada
Vítima de seus pecados
E de uma sociedade excludente
E percebo mais uma vez que
No toque piedoso de sua mão
No andar copioso de seus pés
E no seu olhar sublime
Existe uma mística revelada
A cada dia, em cada passo, em cada toque, em cada olhar
De um próximo, às vezes, insignificante
Aos olhares da sociedade...”

sábado, 14 de janeiro de 2012

Nas águas do Teu mar

Nas ondas que o mundo formou
Nas correntezas que ele criou
Subi e desci como folha ao vento
E sobre mim ele se quebrou
Deixando as marcas do sofrimento

Terras tão distante vislumbrei
Esqueci de olhar o céu ao meu redor
Em águas tão paradas adentrei
Eram lamas que eu mergulhei
Só agora as águas do Teu mar avistei

Porto seguro só em Ti, meu Senhor
Navego tranquilo em Teu mar
O Teu sangue derramado por amor
É a fonte que me faz velejar
Pra sempre nas águas do Teu mar

Lava e purifica minh’alma
Derrama tua água pura em mim
Reconstrói o alicerce do meu coração
Nas águas do Teu mar, quero mergulhar
Nas águas do Teu mar, quero mergulhar
Minha vida vem purificar
Teu corpo e Teu sangue Senhor, vai me alimentar
E pra sempre em Tuas águas, quero velejar...


“Dedico esta poesia à todos aqueles que um dia se sentiram perdidos na vida, sem caminho, sem esperança, sem amigos, sem nada... e por águas tão sujas navegaram... Mas, como a aurora que precede o nascer do sol, reencontram sua Força e Fé aos pés Daquele que, de braços abertos, derramou seu sangue e se entregou por amor, Aquele que nos resgatou da sujeira e nas Águas do Teu Mar nos purificou...”

Ailton Domingues de Oliveira
14/01/12

Senhor, deixa eu te abraçar!

Andei por aí, sem caminho a seguir,
Pelas sujeiras do mundo
Injustiça e ganância eu conheci
Males que me levaram ao fundo...

Senhor, deixa eu te abraçar
Senhor, deixa eu repousar na Tua sombra
Senhor, come comigo em minha casa
Me dê teu perdão, tua luz
Eu quero seguir teu caminho, Jesus!

A lama atravessei, Tua voz não escutei,
Preferi esbanjar a riqueza
Amizades que me derrubaram
Acordei sem nada e na tristeza...

Meus irmãos maltratei, Tua fortuna esbanjei
Só vivi nos prazeres da vida
A ninguém estendi minha mão
Agora peço: cura minha ferida!


Ailton Domingues de Oliveira
14/01/12

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Cheirinho de guardado...


Domingo, oito de janeiro de dois mil e doze. Abri a porta do guarda-roupas e retirei um cobertor. Como de costume, e nem sei o porquê, cheirei-o. Estranho. Por alguns segundos viajei no tempo e na distância. Fui parar na casa da minha avó. Pude vê-la repetindo os gestos de maneira lenta, caminhando até o quarto onde eu costumava ficar, abrindo a porta do guarda-roupas antigo, olhando com atenção e paciência e por fim retirando aquele cobertor...
Engraçado. Como que o cheiro nos remete à lembranças, de dores, tristezas, alegrias, momentos especiais, mas este era de saudade. E que saudade doída!!!
Em março de mil novecentos e noventa e três participei de um encontro sobre sexualidade. Durante três dias, eu e mais tantos adolescentes, ouvimos palestras, participamos de debates e discussões em grupos entre outras tantas coisas mais. Algo que me marcou e hoje, dezenove anos depois, ainda percebo a verdade contida naquela informação, foi: “Nossa pele seria como uma caixinha registradora que consegue assimilar cada toque, cada contato... Pode passar tempo, mas quando repetimos aquele toque nossa memória será ativada e a lembrança florirá.”
Bom, descrevi, de maneira grosseira, de forma que posso imaginar que seja, afinal fazem dezenove anos.
Neste dia, neste domingo, pude reviver essa frase ao sentir o cheiro e tocar naquele cobertor... O cheirinho de guardado acredito que esteja muito mais guardado no nosso inconsciente, na nossa lembrança, que propriamente por estar num determinado lugar, trancado a tempos.
Todos nós temos alguns pertences que possuem tal característica. Esse cheiro, coisa de pele, química, lembrança, cheiro de casa de mãe e de vó, cheiro que não se encontra nas melhores perfumarias que conhecemos, cheiro de saudade e de solidão, cheiro de conquista e de derrota, cheiro de tempo, ao tempo, no tempo... Cheiro que nos gera um êxtase no pensamento, lágrimas, questionamentos...
Cheirinho de guardado, tem cheiro nosso, tem cheiro de nossa história, tem cheiro apimentado, cheiro saudoso, cheiro poético, cheiro profético. Cheirinho de guardado é alegria, nostalgia, fé.
Mais uma vez, o tempo, que guarda na lembrança e na poeira, na química, no toque  e na pele, o gosto saudoso do cheirinho de guardado, e por ora muito bem guardado no coração.


Ailton Domingues de Oliveira
09/01/12

sábado, 7 de janeiro de 2012

Doce Anjo


Tão sonhada,
Tão formosa e bela,
Tão menina
Tão cheia de graça,
Diante de tamanha pequenez
Doce anjo
Tesouro divino
Raio de luz
Eis que chegaste
Trazendo alegria
Eis que, em tua espera, ansiosos
Acompanhávamos o tempo regresso
Seu mundo, nossos olhos
Nossos olhos são à você
Perfeição do Artista
O que há de mais belo nesta obra que o Criador pintou a dedo?
Toque de magia, magia celestial
Seja bem vinda, doce anjo
Abençoada desde sempre,
Lara.


Ailton Domingues de Oliveira
07/01/12