segunda-feira, 22 de abril de 2024

Cenas e Verdades



É no apagar das luzes
Quando se encerram as cortinas
Que você vai entender 
Se aquela cena, aquele ato
Foi concreto ou abstrato
Fingido ou vivido
Real e interpretado

É no apagar das luzes
Que você enxerga o que ficou
As lembranças tão vivas
A nostalgia da alegria sentida
Do amor doado em cada momento
O sussurrar do pensamento
E a companhia tão viva ou tão fria

E no encerrar das cortinas
Que a realidade se desatina
E o que era interpretado
A dor, o amor, a saudade
Tudo vira deserto
Tudo vira tempestade
E a solidão de nós que ecoa pelo tempo

É quando não se ouvem mais aplausos
Aquele vazio retumbante da plateia
Que antes era o mundo
A razão e a emoção
Em que os demônios do vazio proliferam
Quisera a vida do protagonista
Mas ganhara a eterna despedida


Resenha: Pedras, plantas e outros caminhos - por Lucimara Costa



O filme "Pedras, Plantas e Outros Caminhos" proporciona uma experiência profundamente impactante, instigando uma série de reflexões sobre a complexidade da condição humana e os desafios enfrentados por aqueles em situação de vulnerabilidade social. 

Uma das reflexões centrais que emerge do filme é a realidade de pessoas como Ney, que enfrentam adversidades sem terem escolhido estar nessa posição. Contrariando a visão simplista de que a pobreza é uma escolha, o filme nos leva a compreender que somos moldados pelo ambiente ao nosso redor. A falta de estrutura familiar, apoio psicológico e recursos financeiros adequados perpetua essa realidade desoladora, evidenciando a necessidade de políticas públicas mais eficazes e uma sociedade mais solidária. 

O caráter humanitário de Ney se destaca, mesmo em meio às circunstâncias mais adversas. Sua preocupação com a natureza e sua dedicação às plantas e pedras demonstram uma sensibilidade e bondade intrínsecas, desafiando estereótipos e preconceitos. Isso ressalta a importância de reconhecer a dignidade e o valor de cada ser humano, independentemente de sua condição social. 

A importância da família na formação do indivíduo é outro ponto relevante destacado pelo filme. A ausência de apoio familiar expõe a fragilidade das relações sociais e destaca a necessidade de uma sociedade mais inclusiva e solidária. 

A relação entre Ney e sua acompanhante terapêutica, Thaís, também merece destaque. Thaís não apenas desempenha um papel profissional em ajudar Ney, mas também demonstra uma conexão genuína e compassiva com ele. Essa relação exemplifica a importância do apoio interpessoal na superação de desafios e na promoção do bem-estar emocional. 

A atuação dos profissionais de saúde, especialmente dos psicólogos, é fundamental na promoção do bem-estar e na reconstrução da dignidade humana. O filme alerta para a necessidade de uma abordagem mais empática e acolhedora por parte desses profissionais, destacando a importância de estabelecer vínculos de confiança e compreensão com os pacientes. A prática da psicologia vai além das paredes acadêmicas, exigindo sensibilidade e adaptação à realidade de cada indivíduo. 

Além disso, o filme levanta questões sobre a relação entre saúde mental e ambiente urbano, convidando-nos a refletir sobre o impacto do ambiente físico e social na saúde mental das pessoas.

Embora o formato de atendimento apresentado no filme possa gerar preocupações quanto à segurança dos profissionais, os benefícios e aprendizados resultantes desse tipo de abordagem superam os desafios. A troca de experiências, a redução de danos e o enriquecimento pessoal e profissional são aspectos que merecem ser considerados ao avaliar os riscos envolvidos. 

Por fim, "Pedras, Plantas e Outros Caminhos" nos desafia a repensar nosso papel como membros de uma sociedade que deveria ser mais empática e solidária. Ao confrontar questões profundas sobre a condição humana, o filme nos instiga a agir em prol de um mundo onde todos possam viver com dignidade e respeito.

Reflexão Crítica sobre o filme Pedras, plantas e outros caminhos apresentado na disciplina de PSICOPATOLOGIA II, Profª Clara Moriá, 7º p. Psicologia, UNITRI, por Lucimara Costa.

Resenha: Pedras, plantas e outros caminhos



"Por-se a caminho." Acredito que essa seja a frase que representa o que de fato possibilitou todo o desvendar de uma relação construída pela acompanhante terapêutica (AT) Taís e o paciente Ney. Foi mergulhando no mundo desse rapaz que ela permitiu o seu protagonismo em todas as formas, fases e faces apresentadas. Ora frio, ora embrutecido, ora passivo, ora ciente do mundo ao seu redor e capaz de dialogar e expor seus sentimentos. 

Segundo relato da psicóloga do CAPES, existem dois Ney's, antes e depois de conhecer a Taís. Não houve nada de exorbitantemente diferente no trabalho realizado. Na verdade, não foi trabalho, pois o que ali se construiu foi além dos manuais. A proximidade, o sentar-se junto, o contato físico, o permitir seu protagonismo em cada momento, diante de cada sentimento e humor, possibilitou a confiança do rapaz para com a AT.

Existe ali um carinho, que pode se chamar de especial. Impossível não criar esse vínculo em tais condições. Mais impossível não se misturar com o que é considerado loucura aos olhos da sociedade. É preciso ter essa loucura para romper barreiras, essa louca coragem de lutar por mudança. Taís assumiu seu papel, tornou-se coadjuvante, elevando seu paciente ao grau máximo do reconhecimento. Permitiu-o ser quem ele era, em cada momento, são ou não. Ela estava lá. Em sintonia. Com confiança.

Ali, em tais condições e situação, mesmo ele sendo usuário do Sistema de Saúde, sua recusa ao tratamento era respeitado, pois já havia sofrido intervenções que o traumatizaram a ponto de desconfiar de tudo. Descer ou elevar-se ao mesmo nível de sua realidade foi uma verdadeira construção sinfônica de tijolos e notas, com muita ousadia, tato, sensibilidade, empatia, respeito e coragem. E assim sendo, ali se trabalha a desconstrução e a reconstrução, visando sempre a redução de danos.

Taís foi maestra, mas o palco e os holofotes foram para o Ney. Talvez, sem se dar conta de seu papel, não imagina o que de fato transformou na vida dos que o acompanharam durante essa produção. Talvez, esse seja o significado real de toda existência, "por-se a caminho". Respeitando a condução das conversas, bem como aproximação que sempre se dá conforme a vontade do paciente, ela permite que ele atue de acordo com sua real necessidade. E, sem perceber-se, ele sempre se aproxima, de uma forma ou de outra, pois sente que é observado, sente que existe ali alguém por ele. 

O misturar-se é algo que possibilita um crescimento sem se perder, porém, nunca saindo da mesma forma que entrou. Ambos foram tocados e transformados, inclusive quem acompanhou. Existe então um enriquecimento imensurável de humanidade, que nos é devolvido através dos passos que o outro dá a partir daquilo que nos dispomos a doar. 

Há momentos de delírio em que notavelmente ele está transtornado por uso de bebidas ou outras coisas. Ainda assim a AT permanece ao seu lado. Não interfere, não o interrompe, mas assiste firme sem muita interpelação. A vida solitária de Ney muitas vezes o mostra como sensível às pequenas formas de vida e os cuidados com a natureza. Cuida da árvore como se fosse exclusivamente sua, impulsivamente delegando-se como protetor dela. Não admite pedras ao redor da árvore e as retira com brutalidade. Questiona o zelador da praça. Ney não quer que sufoquem sua árvore com pedras. Ela precisa de espaço, precisa respirar, precisa de sua solidão, assim como ele.

Apesar de ter sua avó, família, ainda assim prefere a praça como moradia. Como disse a Taís, "a praça é um lugar de passagem". Ali as pessoas passam e raramente param. Se param é por pouco tempo. Ney se tornou parte da praça. Praça e Ney são passagem e miragem, respectivamente, aos olhos dos transeuntes, que tão logo passam, já o perdem de vista, o esquecem. 

Em dias de sobriedade sua voz canta com a alma. Explode em sentimentos de realidade e normalidade social. Taís o admira, instiga a cantar mais. Ela o acompanha. Mais do que fazer seu papel de AT ela se coloca em pé de igualdade, ora na plateia, ora coadjuvando no palco, no pequeno banco de praça que faz parte de todo o seu cenário cotidiano. Ela lê os sinais, ora para se aproximar, ora para se distanciar. Esse é o respeito que permitiu o elo de confiança.

Seu mundo é restrito, restrito por ser um recorte pequeno nesse reduto de praça, restrito pelas próprias restrições que a vida impôs desde seu nascimento. Seu mundo é a praça, e nesse mundo, poucas flores, raras pessoas, somente pedras e plantas compõem seu jardim, sua passagem, suas miragens. Muitos olhares em que poucos enxergam. Dentre esses, raro é quem se pôs a caminho. 


Reflexão Crítica sobre o filme Pedras, plantas e outros caminhos apresentado na disciplina de PSICOPATOLOGIA II, Profª Clara Moriá, 7º p. Psicologia, UNITRI, por Ailton Domingues de Oliveira.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

A escrita e seu autor algoz



Toda escrita perpassa pela vivência de seu autor
Seja pelas trilhas do acaso, do destino,
Pelas experiências concretas,
Pelos sonhos esperançosos,
Pelas feridas cicatrizadas,
Pelas lágrimas derramadas...
E até mesmo na impossibilidade
Dos pensamentos
Que se mantêm na sala abstrata,
No labirinto entranhado de seu ser
Passado, presente e futuro
Vidas passadas de um futuro imediato
Caminhos percorridos
No aqui e no agora
Espinhos sem pontas
Rosas sem pétalas
Toda escrita é um pedaço de si
Suas dores
Suas vitórias
Seus tombos com cheiro de lona
Seus vislumbres discretos
No concreto de sua alma
Toda escrita tem vida
Tem sentido
Tem espera
Esperança
Tem adulto
Tem criança
Tem jazigo
Tem andança
Toda escrita é única 
No universo do coração 
Que pulsa em pinturas de letra
Pelas mãos que atestam
Sua louca, intensa, insana
Sagrada, profana,
Viagem de si
Para fora
Toda escrita é um permitir-se
Um rasgar-se de si
E remendar-se de amor
Ou de flor...

Sobre as cartas, o que falas?



Caos e calmaria
Vento e ventania
Dor e alegria
Asa e poesia
Brisa e melodia
Sou asa, mas também sou casa
Sou céu, mas também o fel 
A asa que minha habita
Impulsiona-me para céu
Além do meu caos
Um duplo sistema de acordes disformes
Que reverberam notas intensas
No relento do meu deserto
Caos e borboleta
Discorrem suas intensidades
Fragilidades
Num vácuo do tempo
Não percebível aos olhos alheios
Eu corro, eu fujo
Eu me enfrento
As vezes choro
As vezes sangro
As entrelinhas dizem o que a alma sente
Seja ausência, seja presença
Seja aparência, seja essência
Apenas seja...

* Abaixo os links em sequência, referente às 8 cartas:

Cartas - Do caos à borboleta VIII



Toda vida tem seus riscos
Toda brisa esconde o infinito
Rastejar e se ancorar
Romper-me do casulo
Criar asas e voar
Nada pode ser mais duro
Que o mundo que te espera
Por anos, por dias, por segundos
Mas é preciso arriscar
A vida não acontece 
No recôndito de um esconderijo
Nem na prisão de um pensamento
Ela se tece, se aventura
Se doa, se vive
A metamorfose é o processo
De que passamos a cada dia
Caos é a dor
A borboleta sua libertação
É preciso uma retratação
Uma reconciliação com o equilíbrio
Entrelaces e conexões
Expurgos e inclusões
O milagre acontece
No passo, no abraço
No voo, 
Mesmo nas incertezas mais cruéis
Com a presença incansável da solidão
É preciso um espelho d'água
Refletindo a imagem imediata
Tão certa quanto a correnteza que arrasta
Que tudo é passagem
Só resta saber, 
Se queremos a falsa miragem
Ou as dores da liberdade do viver

Cartas - Do caos à borboleta VII


Entre a dor da existência
E a da sobrevivência
Ao meu próprio caos
Prefiro a que eu mesmo gerei
Pois é fruto de meus passos
Ora pisados, pra plantados
Ora empurrados em minha direção
Se há esperança, é a de vencer-me
Aquém de minhas fronteiras
Encontrar sentidos 
Algo que ainda me reencante
Que valha cada gota
De suor, lágrima ou sangue
As leis seriam descartadas
Se não fossem as injustiças
Desigualdades
Esse mundo é imundo
É alto o preço a se pagar
Questionar o improvável
Esperar no amanhã
Lutar no agora
Assumir o passado
Há que honrar o legado
Quem vem depois
Precisa de referência
Só por isso ainda me permito
Nesse mar de caos
Ele faz doer
Mas evita outro sofrer

Carta - Do caos à borboleta VI


A morte é certa
Nunca se sabe quando
Será a última planada 
Sob a terra, sob a água
Onde o vento soprar
Tomar consciência da brevitude
Do tempo que circunda as asas
É estabelecer um plano de voo sem fim
Tão intenso quanto a certeza
Da rosa no jardim
São cores, são louvores
Da criatura que se encanta
Sem saber de seus encantos
O caos também me habita
Mas não me consome
Porque há uma lei 
Que rege toda existência
A consciência do amor
O voo é solo
Mas o ar que sustenta
Que empurra e que dissipa
É o que em comum nos alimenta
Pés abaixo, asas acima

Carta - Do caos à borboleta V

O caos
Universo de opções
Sem intenções
Que tende sempre a despertar
Monstros e demônios
A gladiar com anjos
Num terreno tão sagrado
Quanto profano
Deserto de desejos
Tudo se mistura nessa imensidão
Ao ponto de não saber
O quão inocente seria o demônio
Ou tão tirano seria o anjo
Na guerra dos mundos
O amor quando profano 
Se torna fecundo
A cegueira social é contagiante
Sobrevive quem se anula,
Quem morre para esse mundo
O efeito é gritante
A causa sempre foi distante
De todo e qualquer olhar
Poder, status, ganância
Eis a verdadeira ânsia
Instinto matuto e selvagem
Gerir meu caos
Tem menos danos
Que o sistema desumano

Cartas - Do caos à borboleta IV


Sempre há um porvir
E todos um dia irão partir
Não se pensa primeiro na chegada
Sem antes contemplar a escalada
O vazio está aquém ou além
Nunca no movimento
O efeito do bater das asas
Pode ecoar no infinito
Ou simplesmente enfeitar
A insignificância existencial
De quem não aprendeu viver
Crescer faz doer
Faz perder
Ou melhor, seleciona-se
Pela ordem natural da vida
O que tu chama de caos
Eu chamo de oportunidade
O vento me arrasta
Mas também me mostra
Outros rumos
Outros prumos
Por cima dos muros
Há sempre um quintal
E no quintal os sonhos nascem
Tomam forma, e um dia
São reais

Cartas - Do caos à borboleta III


O caos não tem mais ar
Suga-me das entranhas
Sou engrenagem de sistema
Não vejo sol
Não tenho brilho
Não ouso com a lua
O frio me apetece
Porque me obriga superar
Não espero menos 
Do que a dor da desilusão
Caos de deserto
Caos de solidão
Caos de sentimentos
Caos de um vazio gritante
No deserto do meu ser
Em que vago sem limites
Divago sem pudor
Me apetece minha dor
É nela que me reencontro
Num vazio
Tardio
De frio
Da alma

Cartas - Do caos à borboleta II

Na brisa que dissipa
Sob efeito da gravidade
Mergulho nos abismos da solidão
Percebo meu destino
Nem por isso me desatino
Da grandeza do servir
Mesmo que o depois já é partir
Para onde a correnteza do ar
Para o alto ou para baixo me arrastar
Sou livre, porque a leveza me permite
Antes de voar, 
Precisei renascer
Todo nascimento é um rompante
Antes da alegria vem a dor
A espera é sofrimento
Mas também esperança
Tudo pode ser cinzas
Mas também arco-íris
Não precisa ser um jardim
Uma flor já é um começo
Uma dádiva
Uma vida
Deixe o vento transpassar 

Cartas - Do caos à borboleta I

Meu caos é necessário 
Eu preciso que ele exista, 
Para que a dor prevaleça, 
Para que a coragem persista, 
Para que eu resista
Para que a vida aconteça
A resistência me põe à prova
O silêncio me perturba
Chega a ressoar e doer
O barulho é minha companhia
Minha velha amiga nova
Eu sonho, e vivo nele
Num mundo de possibilidades
Que, talvez, ciente do irreal
A espera, sem muita alegria
Subscrevo-me nas entrelinhas
De versos desconexos
Revisitando paisagens
Miragens de um além
Esperando o efeito
Do remédio
Do tédio
Da causa 
Sem pausa
Sem ar
Sem paz...

terça-feira, 16 de abril de 2024

No limiar do verbo

O mundo me inquieta
O desencanto me encerra
Dilemas que se tornam problemas
Sem respostas, nem apostas
E o pior, sem perguntas
Tantas pegadas juntas
Tantos passos perdidos
Tantas vidas sem sentido
Não há mais lugar almejado
Todo espaço se torna vazio
Como o leito seco de um rio
Por mais que já tenha sido visitado
Uma roda viva,
Que cumpre sua premissa de girar
E logo, tão logo, 
De volta ao mesmo lugar
O fim que vira começo
De um começo que não chega ao fim
Acasos, destinos, 
Fracassos, desatinos
O crescimento dói, 
Porque retira de cena
A visão inocente
E, dali, o que se constrói
É na engrenagem do sistema
Ignorante, talvez conivente
De pessoas, 
Nem tão más, nem tão boas,
O crescer é enxergar, 
Se misturar sem se perder
Mas quando se dá conta
Você já está no limiar
Fronteira distante do seu palco
Agora sem luz, 
E de um vislumbre do universo
Da aparência que seduz
Sem prosa e sem verso
A desalmada vida 
Da essência perdida
No caos do tempo
Que esconde a paz
Afasta o tormento
Sob efeito do pensamento
Que varre a alma
Feito vento e ventania
Deixando o verbo no infinito
Sepultando a alegria
No lugar mais bonito
Em que não há limiar
Somente, amar...

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Crítica: Dexter - "o retorno"



Recentemente essa série retornou à plataforma Netflix. Havia sido retirada, foi parar em outra mas acabou retornando. Dexter é um mix de psicopata, com requintes de crueldade, e justiceiro bonzinho, pois canaliza toda a sua força e aptidão para um único propósito, o de sentenciar e executar todos os assassinos que conseguiram se safar da luz da Lei. Ele faz parte da polícia científica em Miami, um especialista em sangue e através disso, consegue atuar no submundo sem ser descoberto.

No início da série conseguimos ter repulsa em cada ato do psicopata justiceiro, mesmo que suas vítimas mereçam aquele fim. Mas, é incrível, pois, no decorrer dos episódios de cada temporada, acabamos normalizando tais atos e então, o justiceiro psicopata, se torna um mal necessário para limpar a sociedade da escória que sai impune pela porta da frente da justiça. 

Dexter narra seus conflitos desde sua infância, período em que foi recebido em um lar adotivo, com pai, mãe e irmã. Cresceu e foi educado mas não conseguia fugir daquilo que era. Seus traços antissociais foram detectados por seu pai adotivo que, para protegê-lo de si, da sociedade e vice versa, foi criando um código de sobrevivência para o menino. Assim, quando o pai não estivesse mais presente nesse mundo, Dexter teria um manual para saber em que momento deveria usar seus instintos para satisfazer os desejos do "passageiro sombrio". 

Passageiro sombrio, é o nome utilizado por Dexter para falar sobre suas vontades, desejos, instintos, aquilo que de fato aguça sua necessidade de matar. E suas mortes exigem um ritual, um cenário, e uma metodologia que foi sendo aperfeiçoada em cada caso, em cada ato, em cada vítima criminosa.

Dexter é um personagem, bandido e herói, que, a partir de sua narrativa em primeira pessoa, possibilita ao telespectador ver e analisar a mente de um psicopata, supostamente com seus instintos controlados, ou melhor, canalizados numa direção que julga ser coerentemente necessária. Suas falas são filosoficamente poéticas, repletas de solidão, vazio, sem sentido existencial. Ele, vive um disfarce, pois ninguém o conhece de fato como é. O único que sabia de sua personalidade já morreu, seu pai. Mesmo assim, as lembranças de seu pai adotivo estão sempre presentes, confrontando seus passos. Nessas lembranças, ele escuta a voz, um diário vivo que ressoa em seus pensamentos.

Familiarizados com a evolução dos episódios, a torcida da plateia é sempre para que o Justiceiro faça o que faz de melhor: limpar a sociedade de todo o lixo que se livra da lei e da justiça. Sim, validamos, pois como acontece na vida real, as cenas e o cenário, que, antes eram incomuns, se tornam comuns em nosso cotidiano. Fico pensando, caso fosse real, e fosse brasileiro, com certeza muitos famosos bandidos que venceram, ou melhor, corromperam o sistema e saíram ilesos, devido à sua fortuna e status, já estariam literalmente cancelados. 

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Minhas 3 idades e outras loucuras necessárias



Elas se misturam, se conflitam, se desentendem e por vezes misturam seus lugares. Apresentam-se em horas impróprias mas, há um Q que justifica essas lambanças etárias: sobrevivência. Não dá pra dizer o que é mais loucura num mundo tão disforme, tão distópico, tão sem razão que justifique as emoções e vice-versa. Sendo assim, é necessário sempre ter na manga da alma, a roupagem etária diante das situações cotidianas. 

Penso, e acredito nisso, que tenho (ou "temos", para quem quiser seguir esse raciocínio) pelo menos três idades em meu ser. E, são tão necessários quanto certos protocolos que precisamos seguir para determinados ambientes que frequentamos.

A idade biológica, que é a nossa idade de fato, a contar do dia do nosso nascimento, que é devidamente registrado em cartório. É a idade que nos apresentamos, que seguimos os protocolos e sendo assim, havemos de nos comportar conforme a etiqueta exige.

A idade social, que por muitas vezes justificamos nossas opções de estar ou não em determinados lugares, evitando aglomerações, confusões, bagunças, e damos preferência a um canto silencioso, uma poltrona, boas companhias, ou mesmo a solidão. Preferimos assim ficar em casa do que caçar uma balada qualquer. Independente da idade biológica, todos tem um pouquinho da social. Uns mais, outros menos. Quem não teve, fique calmo. Ainda chega lá!

A idade mental, que se caracteriza pela eterna criança e adolescente que habita o meu ser. A espontaneidade, a criatividade, o sonho, a vontade e a gana por mais, por mais além do que se vê e do que se pede. A alegria contagiante em meio a dificuldades. O encarar, mesmo com medo e receio, as barreiras e as fronteiras. Porém, nunca sem a devida responsabilidade. 

E assim, vou costurando meu tempo com as linhas mestras das idades que tenho. Não como justificativa para a travessia, mas como necessidade básica de sobreviver frente as adversidades e viver com ênfase e êxtase as oportunidades que a vida me dá. Se necessário, levar sua criança para um encontro ou reunião, por que não? Quebrar o protocolo, desviar o padrão, por vezes é necessário, pois cada ser é único, bem como suas vontades, desejos, sonhos, e vida. Permear entre suas capacidades, vontades, necessidades e potências é algo que somente eu, somente você, pode fazer por si. Resgate a criança, permita o descanso, abuse com moderação. 

Somos todas as estações numa só, todos os dias de nossa vida. 

Distopias de uma cegueira social




Inocência, Ignorância e Conivência são elementos extremamente importantes que alguns líderes procuram diante da fragilidade alheia. E quando farejam, feito lobos em busca de ovelhas, partem em verdadeiras cruzadas praticando o terror psicológico até aliciarem seu rebanho que os seguem ao matadouro sem questionar.

Como administrador eu entendo as igrejas como instituições sem fins lucrativos. Assim deveria ser, somo via de regra. Mas, o que a realidade mostra são empresas isentas de impostos que hoje estão inseridas em outros setores influenciando o andamento do país. Perdeu totalmente a identidade de sua atividade fim. Uma empresa é um negócio. O mercado da fé está em alta.

Como teólogo entendo que as múltiplas denominações religiosas multiplicaram exponencialmente. A questão da fé ficou em segundo plano. Há um certo modo operante típico de um medievalismo que aplica o medo como meio de dominação da pessoa, esta que, muitas vezes cegada pela inocência, sucumbe aos caprichos de seus líderes. A função das religiões (religare) se perdeu diante do fanatismo, do ultra conservadorismo radical, das aberrações proferidas por diversos líderes bilionários, e se tornou uma verdadeira máquina de alienação. Quanto mais cegos alienados maior a continuidade e a rentabilidade.

Como estudante de psicologia, ainda me faltam argumentos científicos para expor minha óptica mas arrisco dizer que os líderes religiosos, em sua maioria, trazem o mesmo discurso, o que impõe regras, causa medo, e pune com sentenças do além a todos os que pisam fora da margem estipulada pela instituição. Tais líderes são capazes de causar histeria coletiva, cegueira intelectual e alienação exacerbada.

A religião que vive a pregar contra minorias sociais e outras religiões tem em seu cerne não os fundamentos cristãos de edificação de si e da comunidade, o amor em si, mas a estratégia escancarada para disseminação de ódio e guerra, reforçando uma rivalidade sanguinária contra quem exerce sua fé de maneira diferente. O que mais presenciamos hoje nos cultos e celebrações ditas religiosas são pregações contra a fé alheia e não mensagens edificantes de amor e paz, perdão e alegria. Acusa-se de obras demoníacas tudo aquilo que está fora dos redutos daquela denominação. Não veem as pessoas de outras denominações e fé como irmãos de uma mesma e única pátria, mas como concorrentes,  adversários e até inimigos. A luta dessas atuais pseudorreligiões é a busca incessante pela dominação global, o controle absoluto de poder, status e dinheiro. 

Um novo canto no recanto do céu


"Eu era pequeno (...)" 

Mas me lembro bem:

Doce voz

Doce Vó

Sua voz suave, melodiosa, afinada 

Era, sem dúvidas, um acalento aos nossos ouvidos

Seu talento ia além da voz ressoada nos cantos

Sua vocação, por amor, era arrebanhar pessoas,

Em especial crianças, adolescentes...

E, talvez, essa tenha sido sua grande missão

Que você, querida Vó, realizou com louvor. 

Foi assim com cada um que passou pelo crivo do seu carinho

Pelo doce olhar da sua ternura

Pelos cuidados de sua pessoa

Você foi sempre além do seu tempo

Para nós, que fizemos parte de uma geração saudosa,

Você não foi apenas nossa coordenadora, educadora, mãe e vó

Você foi amiga, confidente, amorosa 

E com uma psicologia nata e única

A de amar, a de cuidar, 

De entender cada um de seus meninos e meninas, 

Que por sinal, nos considerava como netos e netas

Você era alegria

Não me lembro de ouvi-la reclamar durante os momentos de ensaios ou missas

Era nossa protetora, super Vó protetora

Talvez, não tenha dado tempo de dizer essas e outras tantas coisas

Que não apenas refrescam as lembranças, 

Que não apenas nos deixam saudades,

Mas, acima de tudo, compõem a base de nossa formação

Em suas mãos, aos seus cuidados, 

Nós fomos crianças, adolescentes, jovens

E você continuará cantando eternamente em nossos corações

Hoje você leva um canto novo aos recantos do céu

Vai lá e cante, "cante ao Senhor os seus louvores"

Agradeço, agradecemos a Deus por nos ter dado a honra

De conviver e aprender tanto com você.

Obrigado Vó Ivone!

Doce Voz

Doce Vó...


Em nome dos meninos e meninas da Ivone
Grupo de Canto da Vila Cantizani
Piraju-SP


Só não fui amor pra mim




Eu não fui amado
Fui amor
As migalhas do tempo 
Deixadas do caminho
Sobrevivi entre a seca e a fome
Na devassidão da espera
De um tempo que nunca chega

Eu não fui amado
Fui amor
Sobre o tempo, sob o céu
Sobre a terra, entre as flores
Com muitos espinhos
Na seca do deserto, no frio gelado
No outono apagado

Eu não fui amado
Eu fui amor
Amor de espera, de esperança
Amor doce, suave feito criança
Sobrevivi ao caos
Das noites sem luz
Na expectativa de um olhar que seduz

Não fui amado
Fui amor
Amor sustentação, 
Amor pilar
Amor travessia, amor alegria
Amor sem fim
Só não fui amor pra mim