terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Amizades pelo tempo



Ah, o tempo

Nos permite enxergar e degustar as coisas boas da vida

Com o coração de uma criança e a experiência da maturidade

Amizades que se mantiveram firmes durante os ciclos das estações

Enfrentando as secas e o calor, 

As chuvas, tempestades e o frio,

As flores e seus encantos, 

E os frutos de cada tempo

Parar um instante do dia para escrever um cartão de Natal não tem preço

Tão arcaico quanto um amor de amigos de longa data

Que dispensa grandes textos ou palavras bonitas

São pequenos gestos que trazem grandes sentidos

Mais que palavras no papel, é um presente único

Tesouro que traduz a importância da boa amizade

Na linha do tempo e da vida

Amizade no tempo, sinônimo de cumplicidade,

Carinho, respeito e amor...

Uma verdadeira flor no deserto para os dias atuais

Tão rara, tão bela, tão única...




Convenção nos autos da praça IV: memórias da praça

(*)Foto: Clube Notícia


A praça é a Praça, é o mundo, é o fundo, 

é o circo, é o recanto do justo, 

do sábio e do vagabundo

paraíso e deserto do sem teto

Filosofia da vida, dos dias, das horas 

o tempo não passa, e a vida indo embora

Dias de luta sem glória

a droga é a festa, todo dia, toda hora

Retiro do mundo, 

vazio existente na alma sem fundo

Que aos olhos do povo, a sociedade perfeita 

não tem bem, só o mal, quem ali está é só marginal

Esquece que ali, aquele que habita tem a sua história 

sua guerra sua vida, seus traumas, suas lutas sofridas 

uma família talvez

A praça é o elo perdido, último dos paraísos 

de quem se perdeu nesse plano de vida 

nesse mundo tão sujo

de batalha egoísta

No meio da praça tem a regra, a moral, 

a ética de todo marginal

cada um no seu canto, enxugando seus prantos 

ninguém rouba ninguém, todos se protegem

Tem cachorro e gato que habitam juntinhos 

ambos respeitam até o passarinho 

todos sem comida, sem casa, sem abrigo

Banho de chuva no frio, noites mal dormidas

Corpos bem colados pra se manter aquecidos

Presos por dentro, julgados por fora 

a vida é um tempo que passa e demora

esperança sem vez

Um dia quem sabe, 

um pouco de asa 

vai me levar de volta pra casa


segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Crises: de fé ou de instituição? - Parte II


Segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss (*) a palavra
crise vem do latim crĭsis, is que remete ao "momento de decisão, de mudança súbita". No grego krísis,eōs significa "ação ou faculdade de distinguir, decisão", por extensão, "momento decisivo, difícil", derivação do verbo grego krínō, "separar, decidir, julgar"; a palavra ganha curso em economia a partir do séc. XIX que remete à "fase de transição entre um surto de prosperidade e outro de depressão, ou vice-versa".(*)


A crise de fé pode encontrar diversas palavras para representar o momento específico bem como os meios que a ocasionaram. A zona de impacto, ou seja, o que ocorre fora do âmbito religioso é o que mais gera questionamentos no indivíduo. Ao começar a se deparar com situações que transgridem o "mar de rosas" exposto nos púlpitos sagrados, os questionamentos são inevitáveis. Após os questionamentos vêm as dúvidas e com elas o véu que ora impedia a visão começa a cair. O afastamento também pode ser entendido como uma libertação de um sistema que mantém seus fiéis como reféns da instituição religiosa, muitas vezes usando o medo do inferno como método de alienação e aprisionamento.

 

"Quem come do fruto do conhecimento é sempre expulso de algum paraíso" (Melanie Klein), ou muitas vezes é tido como alguém não temente a Deus, pecador, impuro, indigno, marginal, que pelo fato de escolher não conviver e obedecer as regras institucionais, é tido como inimigo da igreja e do Deus punidor, que, certamente lhe permitirá algo de ruim como forma de castigo devido às suas escolhas e pensamentos. E quem destila esse tipo de punição são aqueles que se sentem os donos da verdade, das regras, dos templos e ousam falar em nome de Deus. Há quem acredite, tenha medo, e até se submeta, mas de certa forma também existe uma certa evolução no sentido de libertação das amarras do poder que aliena. E quem se liberta não gera lucro institucional. O mito da caverna de Platão também pode ser usado para contribuir ao pensamento.


A crise de fé não poderia ser porque a pessoa já alcançou o suficiente para não se apegar em mais nada? Neste caso o desapego é que lhe causa a crise? Tais como:
- crise de identidade espiritual, religiosa e de fé;
- perde-se o sentido de pertença.

Duas possibilidades de crises de fé - zona de conforto X zona de impacto:
- de baixo: mantendo-se na estrutura religiosa, sentindo a necessidade de permanecer nessa estrutura e então encontrar obstáculos na caminhada que facultem essa crise. Considero esse espaço como a "zona de conforto" em que a pessoa não consegue se identificar fora da estrutura e do sistema em que está inserida. Fora dele sua crise seria maior, do tipo síndrome de abstinência. 
- de cima: alcançando um topo que, já não suporta nem sustenta uma continuidade na estrutura, pois ela já se torna indiferente, existe a necessidade de se libertar. Seria essa a "zona de impacto", ou o momento em que a pessoa consegue alcançar o seu fruto do conhecimento, que lhe produz libertação, novos olhares e entendimentos.


Por fim, "Emoção X Transformação": existe um modismo explorado em diversas instituições religiosas existentes, que cultua midiaticamente encenações milagreiras que mexem com o emocional das pessoas. Ao se tratar de emoção os riscos acompanham todo o processo muito mais de forma negativa. Manter o ser humano preso emocionalmente é crime. Há igrejas que operam verdadeiras lavagens cerebrais onde as pessoas são levadas à doar o que não têm para as pseudo obras de seus dirigentes e pastores. Estes enriquecem e esbanjam suas vaidades e aquisições. A conversão pela emoção, de forma apelativamente psicológica, não é duradoura. Existem recaídas que podem levar o indivíduo abaixo do buraco em que se encontrava antes de sua inserção religiosa. Considero que a conversão é algo a ser trabalhada na realidade, sem apelos fantasiosos, pela práxis, fortalecendo a fé em seu verdadeiro tripé de estudo, oração e ação. 

Um breve histórico da palavra "crise": A palavra crise é, em história da medicina, «segundo antigas concepções, o 7.º, 14.º, 21.º ou 28.º dia que, na evolução de uma doença, constituía o momento decisivo, para a cura ou para a morte»; em medicina, trata-se de «o momento que define a evolução de uma doença para a cura ou para a morte» ou de «dor paroxística, com distúrbio funcional em um órgão». Em economia, é «fase de transição entre um surto de prosperidade e outro de depressão, ou vice-versa».

[Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss]

(*) https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-etimologia-da-palavra-crise/28974

 

Evidências da vida, poesia da alma


Entre as evidências da vida e da alma 

a vida ensina o que a alma não vê 

e a alma transmite o que a vida precisa 

mas quando vida e alma sintonizam o mesmo tom

as mesmas cores e os mesmos sabores 

então nem o tempo pode fragmentar 

o sentimento que evade dessa conexão eternizada

 

Poetizar a vida com cores que a alma transcende

e que tingem os recortes entre o início e o sem fim

eternizam momentos feito retratos do tempo

pinturas expressas em sorrisos, encantos

lágrimas, suor, sangue e simplicidade

com cenários de sonho, perseverança e luta

que leva a vitória em cada capítulo 

apenas o que foi pintado em doses de amor

 

Entre os cenários de solidão de cada estação

aumenta-se a esperança do reencontro

entre o que foi sonho semeado 

e o amor cultivado 

presente no broto que nasce

de uma longa espera no tempo

que sobreviveu a tempestades e guerras

perpetradas pelos algozes mascarados

mas que jamais se rendeu 

apenas se fortaleceu, sobreviveu e viveu...




 


terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Reflexões sobre a vida, suas histórias, suas memórias e a morte



Já não vejo a morte com medo, nem como inimiga que um dia terei de enfrentar. Quanto mais o tempo de vida passa, mais tenho convicção de que estou cada vez mais perto dela. Não é melancolia, nem poesia mas uma certeza tranquilizadora que só a maturidade estabelecida pelo tempo me permite olhar para este horizonte sem medo e refletir sobre toda e qualquer possibilidade. 

A morte é um fato a se enfrentar, mas também a vivenciar. Não dá para parar a vida em função do medo que ela pode causar. Deixar de viver é morrer em vida. Pior do que a morte do corpo é passar pela vida sem ter vivido, sem ter experimentado sentimentos que só quem ama é capaz de entender. Família, filhos, amizades, o amor, todo tipo de amor. Amor é doação, é cuidado, é destemido, e capaz de enfrentar qualquer possível algoz, até a morte. 

A morte que faz sim parte da vida, como um ato último antes da travessia final, antes do fechar das cortinas. Imagino a solidão do artista quando a cortina se fecha e o plateia se esvazia. O coro de palmas vai ficando cada vez menor, menos intenso até que as luzes se apagam e então é só você, o protagonista e suas memórias. Nada mais. Há quem vá levar adiante suas falas, seus pensamentos, seus gestos e não vai deixar morrer aquele riso. E é isso que te deixará eterno no coração daqueles que você ama em reciprocidade. 

E a última morada para o corpo, hoje eu entendo, o cemitério como um recanto de sonhos adormecidos na eternidade. E, como todo sonho, carrega e guarda seus anseios, seus desejos, suas frustrações, seus medos não resolvidos, e romances muitas vezes não realizados bem como histórias de amor platônico, de amizades verdadeiras e de famílias imperfeitas mas alicerçadas de amor. As vezes, me pego a olhar para cada lápide e tento imaginar o que essa pessoa viveu, no tempo que ela permaneceu aqui neste plano, o que ela sonhou, quais foram suas lutas, por quais motivos sorriu e chorou... 

Eu sei que o tempo de esperas um dia vai ser de reencontros. Reencontro com quem já se foi, reencontro com as histórias, memórias, com o amor que em vida não se viveu, com as diversas personagens que o meu eu protagonista vivenciou e assim, explicar-me sobre cada ato que até então fugia do texto e do contexto, mas que no final de cada capítulo e de cada ciclo aparecia alguma resposta e uma compreensão. 

O tempo caminha para um horizonte infinito de possibilidades. A travessia não se acaba com a morte, hoje sei disso. Quanto mais esse caminho é trilhado, mais próximo eu me sinto dos abraços e afagos de quem precedeu a partida. Se é verdade que quem vai leva um pouquinho de você, tenho certeza de que sentirei-me em casa quando esse reencontro acontecer. 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Sabedoria do amor: reinvenção e saudade


Hoje lembrei-me da minha avó Iolanda. Ela fazia um pão frito ao ovo que era uma delícia. Tentei recriar o sabor da infância, reinventando sua prática. Incrementei com queijo fresco e temperos. Reinventar, recriar, reconstruir a partir de pontos que julgamos por vezes não conseguir mais, é algo que só o amor e a saudade permitem. E essa é a nossa vida, feita de encontros, reencontros e possibilidades que só o amor e a saudade podem entender...


domingo, 12 de dezembro de 2021

Entre o início e o fim: a travessia


Assim como o dia se finda na chegada da noite e a noite cede o céu para um novo dia, este ciclo infinito de partida e chegada, início e fim, eu morro e renasço entre luz e escuridão, entre meus anjos e demônios, ora me reencontrando em loucuras concretas, superando minhas mortes e amando o amor que meus olhos encontraram em cada instante dessa travessia, entre meus "antes e depois" da água da fonte...

 

Hoje eu vivo. Hoje eu, vivo. Hoje, eu, vivo... Sem saber se amanhã assim será. Apenas na certeza de que uma nova chance virá com o despertar. Sem poder mudar as palavras atiradas, mas ciente do que eu posso fazer. Sem esperar que algo aconteça, mas fazendo minha parte para chegar sobrevivido no fim com minhas marcas de luta e a chama da esperança. Entre meus "antes e depois", o que marca o passado e o presente, apenas sonho com o que há de melhor para a plena realização: a água que move a vida e o amor.


Entre o esperar, eu escolho o acontecer. Entre mirar a chegada, escolho viver a travessia. Entre as possibilidades, eu escolho a única certeza que me move: o amor. Porque a única certeza que a água tem é que não há obstáculos que a impeçam de chegar ao mar... E o encontro de céu e mar é a plena realização do ciclo, desejo e amor, sonho e luta, fé e esperança, sol e lua, dia e noite, início e fim... Eu e Você.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Sonho de luz



E na calada da noite quando o cansaço domina

A cama me acaricia e o lençol me abraça

Enquanto o sono arrebata o corpo

A rédeas do pensamento já se soltaram

Eis que a intensidade do sonho se torna marcante

Sonho é sonho, mas também pensamento

Dos detalhes vividos no auge de um romance

Entre idas e vindas, o sonho acontece

A liberdade refletida entre olhos e olhares

A felicidade estampada nos semblantes protagonizados 

Se dava mais forte que toda tentativa de separá-los

Quando a força contrária se deu conta de sua ineficiência

Restava compreender que o eterno não se acaba

Pois o sentimento imortalizado entre aqueles dois pares de olhos

Entre acaso ou destino, estava selado

Entre as cenas que vivenciei 

Durante a partida daquele lugar

De todo um jardim, me deparo com a única flor

Que me prende o olhar, a respiração e os compassos

Como numa dança, ela abre suas pétalas

Antes de minha necessária e breve partida

Me deparo com alguns lixos em cima do tapete no meio da sala

E ao descer as escadas, percebi algumas estruturas de madeira

Que estavam danificadas e comprometidas pelo tempo...

 

E de toda a novela vivenciada, meus pensamentos me levaram para duas partes: o lixo no meio da sala e as estruturas de madeira comprometidas. Há coisas que precisam ser retiradas de onde estão. Precisam de um fim adequado. Não se pode nem se deve carregar fardos desnecessários, ou acumular coisas sem sentido. As estruturas danificadas, que comprometiam a segurança da casa, ou precisaria ser consertada, reformada de forma geral, demolida para ser reconstruída, ou ainda, simplesmente deixada para trás. Acredito que a reconstrução, também pode se dar em outro lugar, com outros protagonistas. Nessa experiência eu entendi que precisava mostrar onde estavam as necessidades primordiais. Sonho é sonho, mas também experiência, sinal de luz.

 


quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Escolhas entre o tempo

E o paradoxo entre a vida no tempo e o tempo na vida talvez se refine na busca por entender a questão de como vivê-la sob o tempo e do tempo dedicado em vivê-la. 

Entre as escolhas sob e sobre o tempo, o que perdura não é como vivê-lo, mas com quem. E as melhores escolhas sempre deixarão saudades. 

E por falar em saudades, saudade do que a gente ainda não viveu...

 


quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Cores, fragmentos e psicologia


Escrever o sentimento numa óptica que vai além e também aquém de quem teceu sua imaginação no papel é uma tarefa difícil. Ao mesmo tempo é gratificante para o autor imaginar, saber e sentir que sua obra pode ser vista, analisada, refletida e retratada sob vários olhares, pensamentos e vertentes. Nenhuma obra se finda somente na fonte de seu criador. Toda obra é travessia, é rio que permite vários cenários, várias paisagens, vários percursos.

Sobre a obra da minha amiga Renata, a primeira imagem que me veio à cabeça foi a de um palhaço. Os círculos em específico e as cores vibrantes e alegres me remeteram a alegria do palhaço. E uma frase de Charles Chaplin me veio à memória: "Se você tivesse acreditado nas minhas brincadeiras de dizer verdades, teria ouvido verdades que teimo em dizer brincando. Eu falei muitas vezes como poeta mas nunca desacreditei da seriedade da plateia que sorria." 

A cor laranja traz um pouco do quente do sol, do sertão, o horizonte e a esperança. O azul que remete ao céu, ao mar e fortalece a aventura e a alegria. O rosa, que de acordo com um romance do colegial, segundo a psicologia, é uma cor que acalma. O amarelo vibrante que traz um toque de ousadia. E o cinza que dá a sensação da terra firme. Uma conexão de cores que expressam muito mais sentimentos e atitudes do que propriamente exibem um simbolismo oculto.  

A forma que cada espaço foi colorido demonstra a paciência e dedicação da autora, do cuidado e da visão de conexão entre curvas, círculos, espaços e fragmentos que se formam dentro de um retângulo.  

Num plano mais geral, representa aos meus olhos diversas fases da nossa travessia ao longo dos dias e da vida. Dias coloridos, dias felizes e dias sem expressão. Altos e baixos, silêncios e atitudes, paz e guerra. "Dias de luta, dias de glória" (Chorão).

 

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Então é Natal


Trago comigo lembranças...

Minha árvore já está montada.

Ela carrega nomes e saudades, sonhos e esperanças.

Foi construída com lembranças de pessoas queridas e amadas.

E são os enfeites recebidos que dão um ar especial.

Já tem um tempo que comecei a montá-la dessa forma. 

 

Trago comigo memórias...

Desde sempre admirava as árvores de Natal na casa dos meus amigos.

Na casa dos meus pais nunca teve. 

Porque talvez faltasse uma motivação.

No entanto eu e minha irmã sempre pensamos diferente. 

Hoje, capricharíamos nas nossas árvores.

Juntar os filhos, a família toda, montar e pendurar cada enfeite, cada lembrança, cada pedacinho de saudade, é uma arte, um sentimento de pertença também.

 

Trago comigo sentimentos mútuos de pessoas verdadeiras...

Amizades construídas e solidificadas no tempo.

Irmãos e irmãs que a vida e o tempo me deram.

Minha árvore têm histórias e, mais do que enfeites, tem carinho e reciprocidade.

Não é grande, mas aconchegante, abarrotada de detalhes e significados.

E somente quem é de verdade consegue sentir e compreender.

 

Trago comigo saudades...

A distância hoje está mais sofrida do que nunca.

Mas quando me deparo na beleza dos detalhes desta data e desta árvore, consigo sentir a presença de pessoas amadas.

Consigo também, imaginar o sorriso estampado no rosto de quem já partiu.

A data e o momento nos propiciam esse sentimento.

O coração aperta, as lembranças batem...

 

Trago comigo o tempo...

E nesse tempo eu escrevi nomes com tinta vermelho-sangue nas linhas da vida.

Nos caminhos que percorri, as vezes morri, mas também sobrevivi.

Em cada parada, cada estação uma memória a ser visitada.

E nesse tempo, luas e estrelas ressignificam a busca perfeita da sintonia do amor.

E nessa árvore, o que não falta é amor, é significado, é saudade...

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Desenhos e Psicologia


22 de novembro de 2021. Aula de Processos Psicológicos II com a professora Lia, UNITRI. A experiência do que é vivido dificilmente pode ser transmitido com a mesma intensidade para quem apenas vê de fora. Tal dinâmica vivenciada nessa aula trouxe-me à memória sentimentos, desejos, olhares e uma boa reflexão. 

Sob as orientações que a professora nos passou, desenhamos as primeiras coisas que vieram à nossa mente. Imaginação leve e solta, conforme o sentimento que permitíssemos fluir. Optei por não colorir à medida em que as imagens se teciam na minha cabeça. Cara informação no desenho é relevante, importante.

Começo pelo coração, símbolo do amor, de todos os amores, do que pulsa incansavelmente, do que acelera os batimentos e sofre segundo a poesia. Nele estão os nomes dos meus filhos Felipe e Joaquim, juntamente com uma flor que simboliza o amor por aqueles que já partiram e deixaram sementes, e também o amor da paixão. Ainda sobre meus filhos, me apego à música de Oswaldo Montenegro onde ele diz "porque metade de mim é amor e a outra também".

Os animais, um beija-flor e um elefante. Ambos são referências para meus filhos que são apaixonados por animais. A natureza com árvores e plantas que nos dá o sentimento de cuidado que devemos ter e assim repassar para os nossos filhos. O rio, que é travessia, que segue o fluxo entre margens, transpassando e contornando obstáculos, gerando vida por onde passa. A água que purifica, sacia a sede, nos lava e leva de nós o que não nos pertence mais.

A "casa da árvore" símbolo da infância, que é reconstruída para meus filhos e sobrinhos e nessa reconstrução é possível reviver sonhos e saudades. Casa da árvore é mais que uma brincadeira, é um projeto, e todo dia precisa ser olhada, observada, sonhada, e construída.

O sol que nos ilumina, nos traz a luz em raios de esperança de um novo tempo, com alegria, paz e amor. Sucesso é ter isso sempre presente na travessia.

 

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Aos mestres com carinho IV - Psico



E de repente um novo ciclo acontece. A travessia continua. E é no meio dela que a vida se tece e o que é bom se perpetua na história, na memória, no coração e na alma. E o que não nos serve e não agrega se desfaz pelo meio do caminho. A correnteza da vida se encarrega. É clichê mas também é fato que "a vida é feita de recomeços" e cá estamos nós fazendo e acontecendo, sonhando a realidade e realizando sonhos tecidos no auge da adolescência. Psicologia já é realidade na minha vida. 

Todo começo gera expectativas e receios também. Com certeza haverá superação de expectativas bem como frustrações ao decorrer de toda a jornada. E tudo poderá ser considerado como aprendizado e material para construções e desconstruções no futuro. Dependerá apenas da óptica, da sensibilidade para transformar, da paciência para lapidar e da vontade em melhorar. A imagem escolhida para este escrito tem tudo a ver com recomeço, esperança, novos olhares e possibilidades: despendurando as luvas, a bolsinha de canetas. 

Mais um clichê que "é o aluno quem faz a escola" também cai muito bem mas, vale ressaltar e dar ênfase que, entre as multiplicidade de personalidades profissionais que abordam sua disciplina de maneiras diversas e que, de certa forma, contribuem muito para o melhor desempenho do aluno, há algo a mais que eu diria que seria o diferencial.

Mas, antes de explicitar esse diferencial, vale considerar a empatia, a didática, o conhecimento que o profissional agrega, sua dinâmica, sua visão além da disciplina que permite ao aluno correlacionar vários saberes de outras ciências com a que ele ministra. Amor é a palavra mestra! Amor ao que se faz transforma a profissão e o profissional em si. Há uma energia que brota pela fala, pela emoção, pelo olhar de quem vive sua profissão não apenas como escolha e vocação, mas com um propósito muito além, o de possibilitar a transformação. E somente quem ama o que faz pode proporcionar isso, sendo luz, sendo caminho, e muitas vezes sendo companhia nessa longa travessia.

Quando optei por fazer Psicologia na Unitri, além da vontade imensa, do sonho da adolescência com essa profissão, do sentimento e da vocação que se materializam a cada dia e em cada aula participada até agora, preciso ressaltar a importância da pessoa que hoje está de Coordenadora desse curso: Marilane. Eu já disse isso pessoalmente a ela mas vale repetir: 90% da minha opção em ingressar na Unitri se deve ao fato de conhecer o trabalho dela desde outra instituição. Seu profissionalismo, sua dedicação ao que faz, sua competência e principalmente o amor envolvido é o que fazem toda a diferença e proporcionaram total segurança à minha escolha.

E assim, como sempre faço questão de lembrar dos "Bons Mestres" com muito carinho, desde a minha infância, das escolas que frequentei, das faculdades anteriores, quero eternizar aqui os novos profissionais por quem já carrego não apenas respeito e admiração, mas uma gama de saberes e novos olhares adquiridos através do que puderam propiciar e transmitir nessa nova etapa da minha vida. 

Então eu correlaciono esse início de um novo ciclo da seguinte forma: havia a minha vontade e o sonho e a dúvida de como realizar de uma forma que valesse a pena. Marilane foi o ponto fundamental para a minha escolha. Hoje, eu posso dizer que estou feliz, e me realizando em cada aula. Sei que o processo é longo, a travessia é árdua e repleta de obstáculos também, mas se antes havia uma motivação para entrar, hoje tenho várias para permanecer, e a principal se deve aos "Humanos Profissionais" que tive o prazer de encontrar: Prof.ª Lia, Profº Daniel e Profª Suziani. 

Professores, Mestres, Humanos, Profissionais... é divino poder falar do orgulho de tê-los em minha caminhada, como fonte de inspiração, como modelo de profissional e como exemplo de ser humano. Até aqui já valeu muito a pena! E com certeza levo um pouquinho de vocês para a minha vida e minha futura carreira. 

Todo encantamento precisa de um modelo inspirador. Lembro da minha professora do pré, D. Márcia, com muito carinho pela forma que tratava seus alunos. Lembro também da professora de Português e Literatura do antigo colegial, Ana Cristina, que me fez apaixonar pelo mundo literário, pela leitura, pela escrita perfeita, e assim me possibilitou um despertar pela arte de escrever. E agora, tenho vocês, que fazem parte da minha coleção de pessoas queridas e imortais. Obrigado Marilane, Lia, Daniel e Suziani. 

Tudo acontece num momento crucial da minha vida. Além da pandemia creio que cada pessoa têm suas próprias batalhas pessoais e suas guerras internas. Estou nesse barco também, enfrentado as marés, porém já não me sinto só. Creio que professores são heróis, mesmo sem saber. Eles têm poderes que desconhecem, mas quem é atingido reconhece o efeito desse poder. Assim que me sinto, recarregado de novas possibilidades, saberes e totalmente agradecido. Nesse mar furioso, eu já tenho mais controle do meu barco, vejo horizontes e terra firme, tenho esperança e me espelho em vocês.

Faço Psicologia em todos os sentidos possíveis, estudando, aprendendo, caminhando por onde a ciência já trouxe luzes, refazendo trajetos e redescobrindo possibilidades. Do mais, só posso dizer que estou feliz com essa escolha que me propiciou tantas descobertas.


"Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro!" - Belchior




" (...) Ó meu Pai, dá-me o direito
De dizer coisas sem sentido
De não ter que ser perfeito
Pretérito, sujeito, artigo definido

De me apaixonar todo dia
E ser mais jovem que meus filhos
De ir aprendendo com eles
A magia de nunca perder o brilho

Virar os dados do destino
De me contradizer, de não ter meta
Me reinventar, ser meu próprio deus
Viver menino, morrer poeta."

(Alma Nua - Vander Lee)

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Análise do filme "Vida Maria" de Márcio Ramos

 


Trabalho apresentado à disciplina de Psicologia Social para obtenção de notas parciais. 1º e 2º Períodos de Psicologia.

Professor: Daniel Vieira da Silva Brant

COGNIÇÃO E PERCEPÇÃO SOCIAL

O curta metragem “Vida Maria” transborda um misto de dura realidade, esperança, desgosto e sonho. No olhar puro da criança Maria o reflexo da esperança e o sonho ao escrever seu nome é nítido. A própria música tem um papel importante ao dar um tom diversificado entre o sonho e a realidade, a alegria e a tristeza.

A voz da mãe e sua atitude trazendo a criança de volta à realidade age não apenas como impedimento do sonho, mas uma espécie de desconstrução que se dá ainda na base, no alicerce, na infância. Um ciclo de vidas que basicamente tem a função de passar o bastão de geração em geração.

Quando Maria se torna moça e carrega um balde de água, para sob uma sombra de árvore e balança a cabeça em forma de negação, talvez aí, um desgosto pela rotina cíclica que não lhe permite mais sonhar com outras possibilidades. Um questionamento incutido no gesto e no olhar: “o que estou fazendo da minha vida”? Ela respira fundo e prossegue.

Antônio lhe arranca um ar diferente e um sorriso, o único momento que seu semblante se alegra, mas sua fisionomia vai mudando com o passar do tempo. Olhando para o céu infinito ela se vê cansada e desgastada. O olhar triste perdido no e pelo tempo, numa aparência sisuda com um certo ar de desgosto pela vida sofrida. Uma vida marcada desde o nascimento.

As mulheres estão fadadas a serem um tipo de engrenagem fixa nessa realidade apresentada pelo filme, enquanto que aos homens é permitido outras possibilidades. Eles vão e vêm, as “Marias” permanecem. “Maria”, em qualquer fase, revive o que suas antecessoras fizeram e viveram. O caderno é a prova de que todas sonharam, um verdadeiro ícone que atesta a ordem naturalmente cíclica da história narrada.

Sendo a Cognição Social um processo cognitivo, por meio do qual somos influenciados por tendenciosidades, esquemas sociais, heurísticas, podemos perceber que a criança Maria ao ser adentrada no ambiente que a rodeia, no caso o familiar, sofre estímulos que em nada lhe possibilita pensar diferente do que suas antecessoras fizeram e viveram.

Por mais que Maria, já moça, tenha noção do ambiente que a rodeia, do que pode e do que deve fazer dali por diante, por mais também que ela já consiga ter um autoconceito, infelizmente todo o meio não lhe permite quebrar o ciclo rotineiro e ela se torna esposa, dona de casa e mãe, não apenas vivendo o que sua mãe viveu, mas também apresentando e repetindo os mesmos comportamentos.

O filme em si é um recorte puro e profundo que ainda é realidade em muitos cantos do nosso país e do mundo. O processo de construção das “Marias” praticamente não existe. Nascem para serem mães e donas de casa, mantendo uma rotina marcada, de geração em geração.

A sociedade, neste recorte não lhe dá outras opções. O comportamento vai mudando desde o olhar da criança que sonha, cresce, se torna moça, se questiona, mas depois não vê alternativas e logo está cumprindo o papel que já fora de sua mãe. Não há uma empatia nas Marias enquanto mães. Não conseguiram quebrar esse ciclo e mudar, nem mesmo com pequenas atitudes de carinho. As relações são apenas de ordem e respeito.

Talvez, uma possível correlação com o poema “E agora, José?”, de Carlos Drummond de Andrade, nos faça refletir o filme numa óptica mais acentuada de questionamento e motivação: “E agora, Maria? E agora, Marias? E agora...?”


CONSIDERAÇÕES FINAIS

O curta metragem “Vida Maria” nos possibilita a imersão numa realidade instalada em vários cantos do nosso país e, a partir daí, podemos destacar recortes importantes e analisar sob a óptica de vários construtos da Psicologia Social, conforme descrevemos nos subtítulos anteriores.

Este caso, retratado a partir de uma família habitante no grande sertão cearense, nos traz fortes referências de um modelo estrutural e seus modos de sobrevivência mergulhados num sistema arcaico de vida, que impossibilita quebrar o ciclo repetitivo.

Apesar de alguns psicólogos, como Jean Piaget (2019), “nos mostrar as possibilidades de um futuro construtivista, onde cada cidadão tem o direito de construir um futuro de acordo com sua vontade e se tornando assim um cidadão mais ativo para viver em sociedade”, o filme traz contrapontos fortemente destacados por apelos e tentativas frustradas que impossibilitam mudanças e até mesmo sonhos, tais como: desigualdade de direitos entre gêneros; tradicionalismo; modelo hierárquico patriarcal; submissão da mulher.

Além dos aspectos que fazem parte internamente do modelo familiar analisado no filme, destacamos também os fatores externos que contribuem para a continuidade dessa cultura enraizada e que dependem não apenas da vontade e necessidade de mudança de uma família e seus membros, mas de políticas públicas voltadas para questão em si. Dentre alguns fatores externos destacamos: traços da cultura e dos costumes de famílias pobres do nordeste brasileiro; descaso com a educação escolar; herança cultural; limitações econômicas e sociais; realidade de luta pela sobrevivência.

Dentre “direitos, sonhos e ativismo” já destacado em Piaget (2019), trazemos também Paulo Freire (1987) que em termos de lutas destaca a liberdade. Para tal liberdade, compreendemos que Freire aborda e instiga ao ativismo bem como à própria luta por direitos e a necessidade de sonhar, tendo a luta em comunhão como o melhor caminho para as mudanças necessárias:

A liberdade, que é uma conquista, e não uma doação, exige permanente busca. Busca permanente que só existe no ato responsável de quem faz. Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo contrário, luta por ela porque precisamente não a tem. Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, as pessoas se libertam em comunhão. (FREIRE, 1987, p.39).

No presente artigo, desenvolveu-se a análise em diversos enfoques e construtos, conforme tudo o que foi estudado durante as aulas da disciplina de Psicologia Social, Profº Daniel, e também pesquisado individualmente. Cada subtítulo em si chegou a uma conclusão prévia a partir do construto ora abordado. Consideramos impossível esgotar o assunto diante do vasto campo que a Psicologia Social nos possibilita analisar. Portanto, não pretendemos esgotar o assunto mas buscamos meios que possibilitassem uma releitura do filme, da realidade e de mecanismos que viabilizassem novos olhares para as devidas e urgentes mudanças que se fazem necessárias em cada meio, em cada ambiente familiar, em cada sertão.


REFERÊNCIAS

ANDRADE, Carlos Drummond. E AGORA, JOSE. Youtube, 06 de dezembro de 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=gqMqK6Supww> Acesso em: 25 out. 2021.

BOCK, Ana Mercês. FURTADO, Odair. TEIXEIRA, Maria de L. Trassi. Psicologias. 15ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

LANE, Silvia T. Maurer. Psicologia Social (O homem em movimento). São Paulo: Brasiliense, 1989.

______. O que é Psicologia Social. São Paulo: Brasiliense, 2009. 

PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança. 4ª Ed. São Paulo: Editora LTC, 2019.

RAMOS, Marcio. VIDA MARIA. Youtube. 2006. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=yFpoG_htum4&list=PLHlK9xRm3vMpvY0111es8j0xbNbW--GDS&index=8&t=341s> Acesso em: 10 out. 2021.